O
autor, se debruça, naturalmente, sobre o percurso político de Berlinger, de
1920 até junho de 1976. De bandeja, o panorama político e econômico da Itália
nesses anos.
Enrico Berlinguer
(Sássari, Itália, 25 de maio de 1922 — Pádua, Itália, 11 de junho de 1984) foi
um político italiano e secretário-geral do Partido Comunista Italiano (PCI)
de 1972 até sua morte.
Enrico Berlinguer foi definido
de várias formas, mas era geralmente reconhecido pela coerência política e por
uma dose de coragem, juntamente com uma rara inteligência política e pessoal.
Um homem sério, era sinceramente respeitado mesmo pelos seus oponentes (a
presença em seu funeral do líder pós-fascista Giorgio Almirante, de forma
absolutamente civil e pacífica, é uma das várias demonstrações deste fato); sua
lenta agonia de três dias foi seguida com atenção por toda a população e não
somente pelos seus partidários. Seu funeral talvez tenha sido (impossível ter
certeza) a maior concentração popular jamais vista em Roma.
Seu ato político de maior
importância no PCI foi inequivocamente a dramática ruptura com o comunismo
soviético, o assim chamado strappo, juntamente com a criação do
eurocomunismo, além do seu substancial trabalho de contato com a metade
conservadora da Itália.
Berlinguer, no entanto, tinha
muitos inimigos. Sua oposição interna no PCI sustentava que ele teria
transformado um partido de trabalhadores em uma espécie de clube revisionista
burguês. Observadores da oposição notavam que o strappo teria demorado
demais para ser completado, o que era visto como evidência de que não teria
havido uma decisão definitiva sobre este ponto (de toda forma, a aceitação da
OTAN foi tomada como evidência da autonomia genuína do PCI).
Hoje também se nota que Berlinguer teria falhado ao tentar levar efetivamente ao poder num governo de coalizão o PCI no período em que tal formação se demonstrou mais provável (entre 1976 e 1978).
Desta forma, mesmo se
coadjuvado pelo grande sucesso dos governos regionais do PCI na Itália,
Berlinguer não conseguiu levar o Partido ao governo. Sua plataforma final, a
"alternativa democrática", nunca se transformou em realidade.
No espaço de uma década de sua
morte, a URSS, a Democracia Cristã e o PCI desapareceram, modificando
completamente o panorama da política italiana, cuja referência histórica e
cultural a Berlinguer continua, porém, muito forte.
Do livro de Patrick Meney:
Aproximadamente 12 600 000 eleitores nas eleições legislativas de junho de 1976. “Um terço do povo italiano votou no comunismo”, constata Enrico Berlinger, cuja linha acaba de ser aprovada maciçamente. O PCI representa 34% dos sufrágios, ou seja, mais 7% do que nas eleições legislativas de 1972, e mais 1% do que nas eleições regionais de 15 de junho de 1975, consideradas, no entanto, como um recorde.
Em 20 de junho de 1976, o PCI
ganhou 48 deputados – conta com 227 – e 22 senadores. Desde 15 de junho de 1975
que um terço do povo italiano tem uma administração comunistas nas suas cidades
ou províncias. Situação única num país capitalista. Desde a Libertação que o
PCI não deixou de avançar.
Num total de 20 regiões, 6 são
administradas pelo PCI: a Toscana, a Emília, o Piemonte, a Úmbria e o Lácio.
Participa praticamente, nas administrações de todas as outras regiões. Detém
1 107 municípios e conta com 32 000 conselheiros municipais. Está
presente em todas as grandes cidades: Milão, Turim, Génova, Veneza, Bolonha,
Florença, Nápoles. Até em Roma, capital do catolicismo, tornou-se o primeiro
partido político. E dizer-se que em 1952 os democratas-cristãos apresentavam um
mapa da Itália tendo Moscovo como capital!
Em 1976, 1 800 000
filiados (contra 500 000 para o PCF), dos quais 67,7% são homens, assim
distribuídos: 55% no Norte, industrializado, 25% no Centro, menos rico, e 20%
no Sul, subindustrializado e pobre.
Um orçamento de 22 bilhões de
liras, em 1975, isto é, dez vezes mais que o orçamento do PCF. Uma contribuição
da ordem dos 12 bilhões provém dos militantes, de publicações, de sociedades
dependentes do PCI e 10 filhões da subvenção concedida pelo Estado a todos os
“partidos políticos italianos”, proporcionalmente à sua força eleitoral.
Un jornal diário, o L’Unità,
com uma tiragem de 400 000 exemplares, com correspondentes no estrangeiro
e polêmicos editoriais sobre os teóricos soviéticos. Diversas revistas, entre
as quais a Rinascita, um semanário de análises políticas com uma tiragem
de 70 000 exemplares. Uma editora, Editori Riunit, dispondo de uma
vintena de coleções, que vão desde a economia até ao livro popular.
Sete escolas de formação para
militantes, que acolhem, anualmente, 100 000 “alunos”, das quais a mais
conhecida é o Instituto Togliatti, dirigido, em tempos, por Berlinguer.
Uma grande festa nacional promovida pelo L’Unità, semelhante à festa do L’Humanité,
e que atrai, todos os anos, vários milhões de pessoas.
Eis, em números, o Partido
Comunista Italiano, o mais poderoso do mundo ocidental. Respeitado. Passando de
22% de sufrágios, nas eleições de 1953, a 34,4%, nas eleições legislativas de
1976, mas sofrendo, ao mesmo tempo, perdas a nível de filiados. Em 1947, o PCI
contava com 2 252 000, mas a “destalinização” marca o início de um
decréscimo no número de filiados: dois milhões em 1956, um milhão e setecentos
mil em 1959, um milhão e quinhentos mil em 1971, e uma ligeira subida a partir
de 1973.
Contudo, este problema dos
efetivos não parece preocupar excessivamente os comunistas italianos: estas
“deserções”, habituais em todos os partidos, não se transferem para outros
movimentos, nem mesmo para os socialistas, como o provam os sucessos eleitorais.
Mas relacionam-se com a pró+pria
natureza e com o espírito do partido, em que existem dúvidas, em que há uma
maior abertura às ideias não conformistas, mas um não-conformismo que tem os
seus limites.
Os filiados que abandonaram o
PCI começam a voltar, assim como os dissidentes ou os “esquerdistas”, que iniciam
um processo de reaproximação. Em compensação, estas perdas numéricas são
contrabalançadas por um vasto conjunto de simpatizantes, ainda que, mesmo
assim, o PCI possua o maior exército de militantes comunistas na Europa.
Surpreendemo-nos ao constatar
que o PCI, com os seus ares de intelectual, com os seus quadros de atitudes de
aristocrata, conta, numérica e proporcionalmente, com mais operários do que o
PF, com os seus ares de “metalúrgico”: 41,05% de operários do PCI contra 32% no
PCF.
O PCI compõe-se, além disso,
de 16% de reformados, de 13% de donas de casa, de 11% de empregados de
escritório, de 7% de camponeses, de 5% de artífices, de 3,5% de quadros, de
1,6% de estudantes, de 1,5% de professores e de cerca de 2% de filiados procedentes
de outros meios, nomeadamente os industriais.
Após ter conhecido
dificuldades, a organização da juventude está em expansão: conta atualmente com
140 000 aderentes.
A média da idade dos filiados
diminui lentamente: quarenta anos hoje, contra quarenta e um anos há alguns
anos.
“Aderir ao Partido Comunista
Italiano não significa aceitar a filosofia marxista, mas o programa e as regras
de atuação do partido.”
(Artigo 1º do Estatuto do PCI)
Como
eu disse lá no começo, é um livro que, além de narrar o percurso de Enrico
Berlinguer, dá conta também do que acontecia na Itália, política e
economicamente. Um livro de História. Muito bom! ✯✯✯✯✯
Agora,
olha só o que me chamou a atenção na página 35:
Quanto ao estalinismo, foi
aceite, sem entusiasmo, pelos comunistas italianos: “Sim, nós éramos
estalinistas”, dizem hoje estes comunistas. Contudo, este período não
afetou tão gravemente o PCI como o PCF: “Porque nós tínhamos da URSS uma
visão diferente”, explica um militante italiano. E recorda: “Um dia, em
1931, fiquei revoltado ao ler o L’Humanité: nem um cão era morto, sem que a
culpa não fosse do capitalismo”. Lembra o
Brasil de 2023, cuja culpa é… de quem mesmo?
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