Rodrigo Constantino
Já de volta a Weston, conheci
um casal de venezuelanos ontem e ficamos algumas horas conversando. Ele era
fazendeiro e proprietário de empresas na Venezuela, mas teve de abandonar tudo,
vendeu apenas seus carros, e com essa quantia veio para cá iniciar nova vida,
como tantos cubanos fizeram antes. Ela tem vários diplomas, mestrado na área de
exatas. Ambos inteligentes, viajados, e lutando há um ano num recomeço
praticamente do zero. Ela disse que prefere Hillary Clinton e teme Donald
Trump.
Não é incomum. E política
definitivamente não é sua praia, como admitiu. Deixa-se guiar por emoções,
disse que chegou a chorar num discurso de Barack Obama sobre “raças”, e também
quando Michelle Obama disse que sua família negra hoje vive numa casa
construída por escravos. E, como imigrante, alegou ter muito medo da retórica
de Trump, que lembra a ela o estilo de Hugo Chávez. Acha que os Democratas são
melhores para os imigrantes, e reconheceu que é muito caro e difícil para os
venezuelanos se estabelecer legalmente aqui.
Escutei, e liguei depois a
metralhadora giratória. Joguei muitos fatos que eles desconheciam
completamente, por só acompanhar notícias pela CNN, nunca pela Fox News. Falei
do livro que acabara de ler, The War on Cops, de Heather Mac
Donald, que pretendo resenhar em breve, e que mostra com ampla base de dados
que a polícia não é racista, e sim que há um problema de maior criminalidade na
comunidade negra, principalmente pela falta de estrutura familiar. Perguntei se
ela não achava importante o pai e a mãe juntos na educação, já que o casal está
junto há anos com seus filhos, e expliquei que mais de 70% dos negros
americanos nascem de mães solteiras.
Sobre imigração, aleguei que
entendia seu ponto, que os Estados Unidos foram criados com imigrantes, que a
retórica de Trump podia incomodar mesmo, mas que ao menos ele tocava em pontos
importantes e ignorados por populismo pelos Democratas. O estado de bem-estar
social, com seus “food stamps”, Obamacare e tudo mais, cria uma “carona grátis”
que irrita quem paga a conta e sente seu emprego ameaçado por imigrantes
ilegais. As “sanctuary cities” protegem criminosos, muitos mexicanos na
California, o que era um absurdo. Ela desconhecia isso tudo.
Trump não era nem de perto o
melhor nome Republicano, mas é melhor do que Clinton, o que não é difícil. Os
Republicanos não são contra os imigrantes em si, e muitos, como Marco Rubio,
que é da Flórida, falam que é importante reduzir os custos e burocracia na
imigração legal. Mas o problema da imigração ilegal existe, é
um fato, e os Democratas exploram isso de forma demagógica, de olho nos votos
das “minorias”. O caminho não pode ser esse. Não pode ser “abrir geral” e ainda
dar vantagens e privilégios para quem já chega burlando as leis.