Luciano Henrique
Recentemente tive a satisfação
de prefaciar um ebook escrito por Octávio Henrique, com o qual já concordei
várias vezes (e discordei em alguns pontos, mais no passado que atualmente).
Chamado “Eu, Apolítico: Pensamentos e Palpites de um blogueiro
Apoliticamente Incorreto”, o livro, de cerca de 50 páginas, é ótima leitura
para tempos em que precisamos de mais pragmatismo na hora de visualizar a ação
política. (Clique aqui
para baixar).
Eis o prefácio:
Quase tudo que a direita
brasileira tem escrito sobre política no Brasil pode ser resumido a um
evangelho do desespero. Parece que escrevem por masoquismo. Avaliam como
os socialistas se comportam e conquistam seus resultados. Em seguida, se
revoltam não com suas próprias derrotas, mas com a atitude de seus
adversários, sendo que estes estão claramente dedicados a vencer.
Não é raro ouvirmos um
direitista afirmando: “o esquerdista não consegue deixar de lutar pelo
monopólio da virtude”. Feito um bólido, aparece a constatação: “por que
eles não desistem disso?” Atitudes assim pouco diferem da loucura, dado que,
na realidade, o esquerdista que luta pelo monopólio da virtude está
simplesmente fazendo sua obrigação, porque grande parte da guerra se ocupa
com a propaganda, e uma das mensagens mais importantes a serem
transmitidas com a propaganda é a de que você deve ocupar as planícies
mais altas da moralidade. Um direitista que reclama por um esquerdista
buscar ocupar as mais altas planícies da moralidade em seus discursos
não fica além de chafurdar no bizarro: não apenas ele não entendeu aquilo
que se tornou o diferencial para seu adversário vencer, como, feito
maluco, parece querer “dar conselhos” ao oponente para que este se
transforme em um perdedor. Chega a ser penoso assistir essas manifestações
comportamentais. Os esquerdistas devem morrer de rir nesses momentos, mas,
infelizmente, é assim que as coisas têm transcorrido no Brasil, salvo
raras exceções.
A negação da política é uma
doença direitista que, aos poucos, tem sido combatida em vários cantos do
mundo. Finalmente há uma direita verdadeiramente combativa nos Estados
Unidos e na Europa. Não temos tido melhor sorte no Brasil, onde a doença
da negação colocou a direita em situação de metástase.
No momento em que escrevo este
prefácio, há boas chances de que a extrema-esquerda petista perca o poder, mas,
nessa situação de superioridade de jogo, o poder só pode se esvair das
mãos dessa gente quando a economia já se encontra em colapso. Caso contrário,
ganham qualquer eleição para o principal cargo no Executivo com um pé nas
costas.
Ao mesmo tempo, é um fato que
para 2018 novamente teremos um candidato de extrema-esquerda – que pode
muito bem ser Marina Silva, ou mesmo qualquer outro escolhido por partidos
totalitários – em posição de favoritismo. A única chance de isso mudar
adviria pela adoção dos princípios da guerra política por parte dos
direitistas, dos centristas e até da esquerda moderada. Estes três grupos
vivem tomando surra de relho da extrema-esquerda há tempos por essas
terras. Uma das razões para isso é que quanto mais distante da
extrema-esquerda alguém está, mais essa pessoa tem demonstrado imaturidade
no jogo político, em termos gerais. No Brasil, a negação da política
chegou aos níveis da estratosfera.
Se a direita realmente tem
interesse em lutar pelo poder no Executivo, ou ao menos de obter vitórias
relevantes nas principais questões políticas – como aquelas que demandam
batalhas vencidas no Congresso -, precisa antes de tudo aceitar a política como
ela é. Somente depois, é factível pensar em jogar a guerra política. Isso só
virá com o reconhecimento de que não estamos fazendo um décimo daquilo que
podemos.
Por outro lado, isso demonstra
que há um universo de oportunidades para a direita. Se ela vai querer
aproveitá-las, falamos de outros quinhentos contos. Há grandes chances de
que boa parte dos direitistas se apegue às suas manias e hábitos em vez
de conquistarem resultados reais, mas isso não diz nada a respeito de não
podermos estudar como eles poderiam conseguir seus resultados, no advento
de superarem seus hábitos e manias danosos.
Já faz quase meia década que
escrevo sobre guerra política em meu blog, Ceticismo Político. Atenção:
não escrevo sobre ciência política tradicional, mas sobre guerra política.
Embora a guerra política tenha algum parentesco com a ciência
política tradicional – e é natural que queiramos estudá-la, vez por outra
-, a primeira não é tão focada em discussões filosóficas ou abordagens
empoladas.
Na guerra política, nos
interessa saber o que permite a um lado vencer ou perder nos diversos
confrontos políticos. A maioria dos autores da tradicional ciência
política não nos dá esse tipo de resposta. Já analistas como David
Horowitz, Gene Sharp, Saul Alinsky e George Lakoff são extremamente úteis nesse
sentido. É imperativo que a direita brasileira comece a pensar cada vez
mais sob a ótica da guerra política. Isso será praticamente impossível, no
entanto, enquanto essa mesma direita não aceitar a política como ela é.
Octávio Henrique, nos diversos
textos deste ensaio, sai deste marasmo da negação da política. Ele
visualiza a política como ela é. Nessas páginas, veremos
insights poderosos. Entre eles, se inclui um puxão de orelha naqueles
conservadores que parecem não se importar com a forma como são percebidos
(negativamente) pelas minorias. Ou mesmo nos direitistas em geral – sejam
eles liberais, conservadores ou libertários – que seguem acreditando no
mito de que “jogar a guerra política é imoral”.
E que tal aqueles que insistem
em acreditar que os esquerdistas são pessoas “dotadas de boas intenções,
mas enganadas”? Octávio reserva mais do que um texto para quebrar essa
ilusão, que simplesmente serve para impedir que o direitista veja
seu adversário da forma como ele realmente é. Recomendo também dedicar
especial atenção ao momento em que Octávio lembra que a direita precisa
aprender a se indignar politicamente.
Não vale a pena pinçar
destaques. Todas as páginas a seguir possuem a função clara de nos lembrar
da importância do amadurecimento político. Precisamos deixar de ver a
política com olhos infantis. Se não admitimos a infantilidade em vários
dos aspectos da vida, por que devemos ser complacentes com a falta de
maturidade política por parte da direita? Para sair do torpor, às vezes
precisamos receber palavras duras. Os textos aqui presentes atendem a esse
fim.
Luciano Ayan
Autor de “Liberdade ou
Morte” e dono do blog Ceticismo Político
São Paulo, 26/06/2016
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