Trechos do discurso do
acadêmico Eduardo Portela, saudando o novo acadêmico Merval Pereira
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Merval Pereira toma posse na
ABL. Foto: Fábio Rossi.
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Cesar Maia
1. Há que barrar a corrida
frenética do "hiperpresidencialismo", do parlamentarismo desidratado,
e dos aparelhos ideológicos de Estado. A tripartição dos poderes, que foi um
dia o sonho republicano, não se encontra menos abalada. Aliás, a cada dia,
somos perigosamente tolerantes com a ausência de delimitação de fronteiras
entre o público e o privado.
2. São subprodutos da
ciclotimia do poder, que vai desde a anorexia intelectual generalizada até o
neopopulismo expansionista, na verdade o paleopopulismo, orientados e
conduzidos pela propaganda enganosa. Os produtos oferecidos nas prateleiras
eleitorais estão, em geral, falsificados. E porque falsificados, falsificam. É
quando imaginamos oportuno recorrer à competência de algum especialista em
teoria do caos. Porque a democracia brasileira vem operando no vermelho. Até
quando? Não se sabe. Ela tem fôlego de gato.
3. Democracia, mais do que um
conceito, é o caminho. A morte da opinião, o controle do repertório temático,
camuflado ou explícito, conduzirá inevitavelmente à parada cardíaca da
democracia representativa. A própria ideia de representação vai sendo acometida
pela falência múltipla dos seus órgãos. No lugar de uma sólida democracia
representativa, o que se percebe é o baixíssimo nível da representatividade, a
produção viciada dos diferentes poderes, apontando para a decisão dos
patrocinadores, sejam eles laicos ou religiosos.
4. A corrupção na democracia
e, o que é mais grave, a corrupção da própria democracia, estimula distúrbios e
transtornos de consequências imprevisíveis. Constantemente nos deparamos com a
máquina insana de desmantelamento da democracia. Mas ela só se desmantela
quando, insisto, a representação é ilícita, e a representatividade, ilegítima.
5. Na outra margem do rio,
aguarda a convocação da consciência emancipatória, necessariamente dialógica e
múltipla, em condições de sustentar o avanço histórico. Como consequência
primeira devemos pôr no lugar da assembleia de locutores desconectados, o pódio
de interlocutores qualificados.
6. A organização partidária
vem sendo naturalizada, em vez de historicizada. Vai se tornando natural o uso
abusivo do aparelho administrativo público, das licitações fraudadas, do
lobismo desfigurado, dos discutíveis, até hoje jamais discutidos, dízimos
partidários. A transparência se assemelha àquelas moedas que foram retiradas de
circulação.
7. A aceleração inóspita do
Estado provedor traz, dentro de si, as ameaças do Estado autoritário, sem os benefícios
do Estado previdência. Enquanto isso o país se apresenta como forte candidato à
medalha de ouro na olimpíada internacional da sobrecarga tributária.
Título e Texto: Ex-Blog do Cesar Maia,
28-09-2011