sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O dia promete: Abbas, o palestino, e Netanyahu, o israelense, falam hoje na ONU. Ou: Ninguém manda “ninóis”

UN Photo/João Araújo Pinto, dezembro de 2005
Reinaldo Azevedo
Falam hoje na Assembléia Geral das Nações Unidas o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. O líder de uma parte dos palestinos pedirá o reconhecimento dos territórios como estado-membro da ONU, reivindicação que conta com o apoio do Brasil, por exemplo. O pedido tem de ser encaminhado ao Conselho de Segurança — os EUA já afirmaram que exercerão o seu poder de veto. Se Abbas contar com o apoio de 9 dos 15 membros do conselho, a proposta segue para ser votada pela Assembléia Geral. Se obtiver 97 votos favoráveis, o que é bem possível, os territórios palestinos seriam aceitos como “Estado observador”. Abbas conta com essa possibilidade e com o que seria uma vitória moral, aumentando o isolamento de Israel.
O grupo de Abbas, Fatah, que governa a Cisjordânia, e o Hamas celebraram um acordo, mas não se entendem sobre essa estratégia. Os terroristas que governam Gaza são contra o plano do presidente da Autoridade Nacional Palestina. E “contra” quer dizer contra mesmo. Enquanto o governo da Cisjordânia prepara uma grande festa para comemorar o discurso de seu líder, manifestações de apoio à proposta estão proibidas em Gaza. E os facínoras sabem com reprimir seu próprio povo. Ao fim da incursão israelense do começo de 2009, os homens do Hamas saíram pelas ruas caçando militantes do Fatah, acusados de terem colaborado com “o inimigo”. As punições brandas previam um tiro no joelho do “condenado” na frente da família.
É esse o “estado” que o Brasil — e não só o Brasil, é evidente — quer ver reconhecido como membro pleno da ONU. Os palestinos não resolveram, como se vê, nem as próprias divergências. Por enquanto, Hamas e Fatah só combinaram parar de se matar. Mas por que diabos o Hamas é contra? Porque a sua plataforma é outra (ver post da noite de ontem que traz trechos do estatuto do Hamas).
Esse “estado” palestino que integraria a ONU compreenderia, naturalmente, Cisjordânia e Gaza — o que significaria abrigar o Hamas como um interlocutor, embora seus próprios militantes rejeitem a iniciativa de Abbas. O movimento ainda não renunciou a seus métodos clássicos de diálogo: terrorismo e foguetes. “Ora, estamos dando nosso apoio aos bons palestinos, aos que querem negociar, não ao Hamas”, poderia dizer o governo brasileiro. Certo! Então é bom combinar antes com os eleitores palestinos, que puseram o movimento no poder, em parte como reação à formidável máquina de corrupção em que se transformou o Fatah. Sim, há um aspecto sempre pouco mencionado: mesmo em meio a todas as dificuldades, o grupo de Abbas e ele próprio fariam o Ministério dos Transportes, com o Dnit e tudo, se parecer com um convento de monjas descalças…
A questão absolutamente objetiva e prática é esta: a iniciativa palestina contribui para a paz ou para exacerbar o conflito? Não é preciso ser muito sagaz para chegar à resposta óbvia. Se ela deixa as duas forças mais perto do confronto do que da paz, por que tantos apoios, inclusive do Brasil? Porque a questão está sendo usada para que países marquem posição no tabuleiro internacional. Se o governo brasileiro, por exemplo, estivesse interessado no entendimento, estimularia o diálogo, não uma iniciativa unilateral dos palestinos. Ocorre que a petezada não está nem aí para quem morre ou deixa de morrer no Oriente Médio. O objetivo é deixar claro aos EUA que “ninguém manda ninóis“. Eis o país que quer porque quer um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Queira Deus isso não aconteça tão cedo! Para o bem do Brasil, de Israel e do mundo!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 23-09-2011
Edição: JP

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