Aparecido Raimundo de Souza
FICO TENTANDO entender a história daquele cidadão nascido em Évora, que veio de Portugal como primeiro bispo do Brasil com a difícil missão de converter os indígenas à doutrina católica. Contam, os estudiosos, que essa criatura era autoritária demais e extremamente impaciente. Usava métodos pouco ortodoxos para convencer os nativos às leis da igreja. Com os homens, metia-lhes a Bíblia em meio às fuças. Surrava, os com uma espécie de cinto de couro português que trazia em volta do pescoço.
Às crianças não fugiam às regras: aplicava, aos pequenos, castigos severos. Longas horas de joelhos, sobre caroços de milho, ou feijão. Com as meninas e mulheres —, bem, com elas, ele procurava mostrar a palavra da forma mais grossa e dura —, geralmente em reuniões “compridas” e enfadonhas que se estendiam “compridamente” pelos campos e canaviais existentes nos arredores das grandes aldeias.
Talvez, por essa razão, desde que chegou em terras brasileiras, nos idos de 1552 — ou 453 anos atrás, Dom Pero Fernandes — designado bispo da Bahia, por D. João III, tenha caído no centro mortal de onde nascia o ódio dos pobres e infelizes nativos, inclusive aqueles que o ajudaram a inaugurar a primeira diocese, ainda sobre o governo de Tomé de Souza. Esse ódio deve ter se propagado e, por consequência, se estendido e se alastrado como erva daninha por toda a região.
Juntamente com a notícia de que um bispo muito perverso e ruim, até dizer chega, andava por aquelas bandas aprontando coisas em nome do monarca que comandava tudo, sentado tranquilamente em seu trono, em Lisboa.
— Comigo é assim... — teria dito, certa vez, Dom Pero, a um repórter curioso.
— Assim como?
— Ajoelhou, tem que rezar.
As índias que viviam em recantos mais afastados, acabaram molestadas por Dom Pero — tendo que se deitar com ele à força e não somente deitar, praticar, em paralelo, sexo triplo: normal, oral e anal.