sábado, 7 de janeiro de 2012

As 10 datas importantes... que nunca foram feriado em Portugal (A maior das vitórias)

14 de agosto de 1385
A maior das vitórias
Foi através do surpreendente triunfo na Batalha de Aljubarrota que Portugal conseguiu garantir por muitos anos a independência política 
 
Batalha de Aljubarrota
São visíveis nesta outra luminura inglesa as armaduras e os símbolos heráldicos dos finais do séc. XIV, no coração da Guerra dos Cem Anos
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Luís Almeida Martins
Está generalizada a confusão em torno da Batalha de Aljubarrota. Há quem julgue que foi "a padeira" que venceu "os espanhóis". Mas Brites de Almeida, que realmente existiu, "limitou-se" a matar à pazada, à medida que iam saindo do forno onde se tinham escondido depois da derrota na batalha, meia dúzia de castelhanos (no século XIV ainda não existia a nacionalidade espanhola, e espanhóis eram todos os ibéricos, inclusivamente nós). Mas o melhor é recordar tudo na devida ordem.
O casamento, em 1383, da filha única de D. Fernando, "O Formoso", com o rei Juan I de Castela pôs em perigo a independência de Portugal. Com efeito, quando nesse mesmo ano o soberano português morreu, o castelhano achou-se com direitos à coroa do nosso país - e legalmente tinha razão. 
Foi então que, enquanto a maior parte da nobreza lusa apoiava o pretendente estrangeiro, a burguesia e o povo se revoltaram, pois não queriam ser governados por um castelhano. Existia já então um claro sentimento nacional. Houve, assim, um levantamento popular em Lisboa e gerou-se uma grande confusão de norte a sul. Sob a orientação da burguesia mercantil, D. João, o mestre da ordem de Avis, foi eleito nas ruas Regedor e Defensor do Reino, e uma das primeiras coisas que fez foi assassinar o conde de Andeiro, amante da rainha viúva Leonor Teles e partidário dos castelhanos.
 
E foi no meio disto tudo que D. Juan de Castela decidiu invadir Portugal para se apoderar do trono a que se achava com direito. Um exército entrou pela fronteira do Alentejo mas, a 6 de abril de 1384, foi derrotado em Atoleiros (Portalegre) pelos portugueses comandados por Nuno Álvares Pereira, um elemento da pequena nobreza, amigo do mestre de Avis, e na altura nomeado condestável, ou seja, comandante supremo das tropas. Entretanto, outro exército castelhano cercava Lisboa, que se defendeu como pôde. Uma terceira invasão entrou pela Beira Alta, mas foi travada em julho de 1385 perto de Trancoso.
As coisas estavam a correr bem para as cores nacionais. E pode mesmo falar-se de cores nacionais, porque nessa altura já o mestre de Avis fora aclamado rei de Portugal nas Cortes de Coimbra, com o nome de D. João I. (As Cortes eram grandes assembleias de representantes do Clero, da nobreza e do povo que se reuniam periodicamente.) 
Mas se a revolução de 1383, um verdadeiro movimento social da burguesia e do povo unidos contra a nobreza, fora bem sucedida, a guerra contra Castela estava longe de se encontrar ganha.

No verão de 1385, Juan I de Castela entrou pessoalmente em Portugal à cabeça de um grande exército de 32 mil homens. Toda a nobreza do seu país fazia parte dele e muitos cavaleiros franceses (aliados de Castela) também. Devia ser impressionante aquele espetáculo de uma longuíssima coluna de armaduras refulgentes e flâmulas desfraldadas ao vento, cavalgando pelos péssimos caminhos que rasgavam montes e vales. Os invasores traziam consigo 16 canhões, coisa que por cá nunca se vira.  

Ao encontro dessa imponente máquina de guerra partiu uma pequena hoste portuguesa de 6 mil homens, comandada por Nuno Álvares Pereira. A força portuguesa incluía uns 800 besteiros, que eram os soldados que combatiam com bestas - aqueles arcos com coronha e gatilho que disparavam umas pequenas setas chamadas virotes -, e ainda um destacamento de 200 arqueiros ingleses, vindos ao abrigo da recente aliança luso-britânica; mas a maior parte da tropa era formada por peões, homens do povo armados de um ferro pontiagudo chamado chuço.

Ao terem conhecimento de que os invasores se encontravam perto de Leiria, os nossos resolveram entrincheirar-se num terreno que lhes pareceu adequado para travar batalha. Era um planaltozinho próximo de Aljubarrota, e ali cavaram uns buracos-armadilha (as covas de lobo). Os castelhanos acharam preferível contornar o planalto e lançar o ataque num ponto onde o declive era menos acentuado. Mas era exatamente o que os portugueses esperavam: alteraram o seu posicionamento e, aproveitando as defesas construídas durante a noite, aguardaram a pé firme o impetuoso ataque da cavalaria inimiga, lançado quando o sol já declinava.

A batalha resolveu-se numa hora e saldou-se pela derrota dos castelhanos e dos franceses, que debandaram em desordem. Muitos fugitivos foram chacinados pela população da zona. Os pobres castelhanos da padeira contaram-se entre eles. 
Portugal garantiu assim a independência, com D. João I no trono. Foi graças a esta vitória que Portugal deixou de ser importunado pela ambição expansionista de Castela e se pôde dedicar em paz à... sua própria ambição expansionista - esta para outros continentes. Haveria pois todos os motivos e mais um para que 14 de agosto fosse feriado nacional.
Título e Texto: Luís Almeida Martins, revista Visão, nº 981, 28-12-2011

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