A maior das vitórias
Foi através do surpreendente triunfo
na Batalha de Aljubarrota que Portugal conseguiu garantir por muitos anos a
independência política
![]() |
Batalha de Aljubarrota São visíveis nesta outra luminura inglesa as armaduras e os símbolos heráldicos dos finais do séc. XIV, no coração da Guerra dos Cem Anos. |
Luís Almeida Martins
Está generalizada a confusão
em torno da Batalha de Aljubarrota. Há quem julgue que foi "a
padeira" que venceu "os espanhóis". Mas Brites de Almeida, que
realmente existiu, "limitou-se" a matar à pazada, à medida que iam
saindo do forno onde se tinham escondido depois da derrota na batalha, meia
dúzia de castelhanos (no século XIV ainda não existia a nacionalidade espanhola,
e espanhóis eram todos os ibéricos, inclusivamente nós). Mas o melhor é
recordar tudo na devida ordem.
O casamento, em 1383, da filha
única de D. Fernando, "O Formoso", com o rei Juan I de Castela pôs em
perigo a independência de Portugal. Com efeito, quando nesse mesmo ano o
soberano português morreu, o castelhano achou-se com direitos à coroa do nosso
país - e legalmente tinha razão.
Foi então que, enquanto a
maior parte da nobreza lusa apoiava o pretendente estrangeiro, a burguesia e o
povo se revoltaram, pois não queriam ser governados por um castelhano. Existia
já então um claro sentimento nacional. Houve, assim, um levantamento popular em
Lisboa e gerou-se uma grande confusão de norte a sul. Sob a orientação da
burguesia mercantil, D. João, o mestre da ordem de Avis, foi eleito nas ruas
Regedor e Defensor do Reino, e uma das primeiras coisas que fez foi assassinar
o conde de Andeiro, amante da rainha viúva Leonor Teles e partidário dos
castelhanos.
E foi no meio disto tudo que
D. Juan de Castela decidiu invadir Portugal para se apoderar do trono a que se
achava com direito. Um exército entrou pela fronteira do Alentejo mas, a 6 de
abril de 1384, foi derrotado em Atoleiros (Portalegre) pelos portugueses
comandados por Nuno Álvares Pereira, um elemento da pequena nobreza, amigo do
mestre de Avis, e na altura nomeado condestável, ou seja, comandante supremo
das tropas. Entretanto, outro exército castelhano cercava Lisboa, que se
defendeu como pôde. Uma terceira invasão entrou pela Beira Alta, mas foi travada
em julho de 1385 perto de Trancoso.
As coisas estavam a correr bem
para as cores nacionais. E pode mesmo falar-se de cores nacionais, porque nessa
altura já o mestre de Avis fora aclamado rei de Portugal nas Cortes de Coimbra,
com o nome de D. João I. (As Cortes eram grandes assembleias de representantes
do Clero, da nobreza e do povo que se reuniam periodicamente.)
Mas se a revolução de 1383, um
verdadeiro movimento social da burguesia e do povo unidos contra a nobreza,
fora bem sucedida, a guerra contra Castela estava longe de se encontrar ganha.
No verão de 1385, Juan I de
Castela entrou pessoalmente em Portugal à cabeça de um grande exército de 32
mil homens. Toda a nobreza do seu país fazia parte dele e muitos cavaleiros
franceses (aliados de Castela) também. Devia ser impressionante aquele
espetáculo de uma longuíssima coluna de armaduras refulgentes e flâmulas
desfraldadas ao vento, cavalgando pelos péssimos caminhos que rasgavam montes e
vales. Os invasores traziam consigo 16 canhões, coisa que por cá nunca se
vira.
Ao encontro dessa imponente
máquina de guerra partiu uma pequena hoste portuguesa de 6 mil homens,
comandada por Nuno Álvares Pereira. A força portuguesa incluía uns 800
besteiros, que eram os soldados que combatiam com bestas - aqueles arcos com
coronha e gatilho que disparavam umas pequenas setas chamadas virotes -, e
ainda um destacamento de 200 arqueiros ingleses, vindos ao abrigo da recente
aliança luso-britânica; mas a maior parte da tropa era formada por peões,
homens do povo armados de um ferro pontiagudo chamado chuço.
Ao terem conhecimento de que
os invasores se encontravam perto de Leiria, os nossos resolveram
entrincheirar-se num terreno que lhes pareceu adequado para travar batalha. Era
um planaltozinho próximo de Aljubarrota, e ali cavaram uns buracos-armadilha
(as covas de lobo). Os castelhanos acharam preferível contornar o planalto e
lançar o ataque num ponto onde o declive era menos acentuado. Mas era
exatamente o que os portugueses esperavam: alteraram o seu posicionamento e,
aproveitando as defesas construídas durante a noite, aguardaram a pé firme o
impetuoso ataque da cavalaria inimiga, lançado quando o sol já declinava.
A batalha resolveu-se numa
hora e saldou-se pela derrota dos castelhanos e dos franceses, que debandaram
em desordem. Muitos fugitivos foram chacinados pela população da zona. Os
pobres castelhanos da padeira contaram-se entre eles.
Portugal garantiu assim a
independência, com D. João I no trono. Foi graças a esta vitória que Portugal
deixou de ser importunado pela ambição expansionista de Castela e se pôde
dedicar em paz à... sua própria ambição expansionista - esta para outros
continentes. Haveria pois todos os motivos e mais um para que 14 de agosto
fosse feriado nacional.
Título e Texto: Luís Almeida
Martins, revista Visão, nº 981, 28-12-2011
Anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-