sábado, 28 de janeiro de 2012

Ponham os olhos em Mario Monti

Se a solução passa pelos tecnocratas, sejam bem-vindos. A democracia agradece o vosso sacrifício
Mario Monti, foto: Lusa
António Ribeiro Ferreira
Que alívio. Portugal inteiro suspirou quando ontem de manhã Carlos Moedas, secretário de Estado Adjunto de Passos Coelho, esclareceu que não tinha prometido baixar impostos num artigo publicado no “Wall Street Journal”. Não senhor. Houve um erro de tradução.
O que Carlos Moedas queria dizer era outra coisa: “No dia em que o governo conseguir reduzir seriamente a despesa poderá realmente cortar os impostos.” Pronto. As almas lusas já podem dormir descansadas e partir para novos protestos comandados por essas espantosas comissões de utentes que nascem como cogumelos em qualquer esquina, centro de saúde, portagem de auto-estrada, hospital, loja do cidadão ou onde seja preciso reclamar mais apoio do Estado.
Carlos Moedas fez bem em esclarecer o que tinha escrito muito rapidamente ou vinha por aí abaixo uma borrasca comunista-socialista de todo o tamanho. E a palavra-chave para desmontar o circo que se preparava foi “seriamente”. Sim, só quando o governo conseguir reduzir seriamente a despesa do Estado poderá cortar nos impostos. Esta espécie de confissão de impotência faz todo o sentido numa altura em que se discute o novo código laboral e os custos do trabalho em Portugal. Esta reforma, como a da justiça, vai dar muito que falar com a troika quando for feita uma nova avaliação ao cumprimento do Memorando, já em Fevereiro. Reduzir seriamente a despesa pública é fundamental para fazer crescer a economia e criar postos de trabalho. A lengalenga da esquerda e de muita cabecinha pensadora sobre a austeridade e o crescimento económico não inclui, como se percebe muito bem, o corte do Estado, do seu peso e, claro, da percentagem da riqueza nacional que gasta todos os anos para continuar gordo, anafado, burocrático, corrupto e sempre muito empenhado em dar cabo da economia e do emprego. Atacar seriamente o monstro é algo que ainda não se vislumbra na actividade deste governo. Atacar seriamente a besta não exige muitos meses de reuniões intermináveis e debates sem fim. Se têm dúvidas sobre como se faz basta apanharem um voo para Roma e falarem durante umas horas com Mario Monti.
O novo primeiro-ministro italiano, o tal que a esquerda e uma certa direita europeia consideram uma ameaça à democracia, chegou ao poder a 16 de Novembro e nestes dois meses e meio aprovou um primeiro plano de cortes na despesa e aumento da receita no valor de 20 mil milhões de euros, lançou um segundo pacote para aumentar a concorrência e a competitividade e ontem eliminou centenas de leis inúteis e lançou novas medidas para simplificar a vida às empresas e facilitar a criação de novas companhias. E dentro de um mês vai alterar a legislação do trabalho. Um mês, não seis, o tempo que o governo luso demorou a discutir com patrões e sindicatos um pacote coxo que não vai reduzir a sério os custos do trabalho em Portugal. Mario Monti está a fazer em dois meses e meio o que um governo eleito não fez em muitos anos. Mais que isso. Tem o apoio da grande maioria dos italianos. Se a solução passa pelos tecnocratas, sejam bem-vindos. A democracia agradece o vosso sacrifício.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 28-01-2012

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