sábado, 28 de janeiro de 2012

O fantástico País das balizas voadoras


Isabel Stilwell
O título dizia “Rapaz atingido por baliza”, e dava notícia do trágico acidente que envolveu um rapaz de doze anos, deixando-o em coma. Explicava que a criança decidiu mudar a baliza de sítio, e que a estrutura acabara por lhe cair em cima, deixando-o entre a vida e a morte.
Não é assunto para humor negro, e qualquer um de nós pede todos os dias que um acidente como este não aconteça a um dos nossos filhos, e comove-se e lamenta quando acontece ao dos outros. Mas não deixa de ser extraordinária a forma como em Portugal se fala e se dão as notícias de acontecimentos como este.
Quando se diz que alguém foi “atingido”, imagina-se um tiro vindo não se sabe de onde, um raio caído do céu, qualquer coisa que se movimenta em nossa direção, e que nos apanha desprevenidos. As balizas caem, quando são mal construídas, mal mantidas, muitas vezes por câmaras municipais ávidas de fazer obra (os espaços desportivos ficam sempre bem no CV de um presidente da Câmara), mas que depois não se dão ao trabalho de manter as estruturas criadas.
Mas caem também, quando alguém as decide deslocar de um lado do campo para o outro, alguém lhes sobe e salta em cima, ou as vandaliza. Contudo, nós os portugueses, preferimos sempre a explicação esotérica do objecto não identificado que nos escolhe como alvo, à atribuição de culpa ou de erro humano.
A psicologia tem um nome para isso, chama-lhe Locus Externo, ou seja uma organização mental que trata de encontrar maneira das culpas virem sempre de fora. À primeira vista consola, mas tornando-se hábito explica um País onde ninguém assume a responsabilidade por nada. São os mercados, as agências de rating, os maus políticos, a falta de chuva ou a chuva a mais, o chefe ou o empregado, o que importa é que não é nada connosco. Porque nós, nós somos, simplesmente, atingidos!
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak, 27-01-2012
Edição: JP

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