Aparecido Raimundo de Souza
A LAPISEIRA ELISANJA sai do estojo com o espírito alegre. Está radiosa e
feliz. Sem perceber que logo atrás dela, apenas alguns passos, alguém a segue
de cara fechada. Sem notar a presença da amiga Eloá Vitória, a Lapiseira
Elisanja fala, como se conversasse consigo mesma.
Lapiseira Elisanja:
— Que maravilha! Cada pensamento meu, cada ideia, cada traço que eu
crio... nossa, é a expressão mais pura da minha mente imaginosa...
Ao contrário dela, trepada nos cascos, a Borracha Eloá Vitória, atrelada
em sua sombra, se manifesta, duas pedras nas mãos. Ataca.
Borracha Eloá Vitória:
— Você disse pura? Por favor! A maioria dessas ideias que saem de dentro de
você se fazem erradas, tortas ou pior, desajeitadas. Sem mim, você, sua tonta,
seria um caos!
Lapiseira Elisanja, sem perder a esportiva, se vira para a amiga
e rebate:
— Pelo menos eu crio algo! Você, ao contrário, só destrói. Apaga como se
nunca tivesse existido!
Borracha Eloá Vitória:
— Eu não destruo porcaria nenhuma, sua mal-agradecida. Apenas dou a
chance de você recomeçar sem erros “para te arrastar.” Só lhe dou espaço para
melhorar.
Lapiseira Elisanja:
— E quem disse que um erro não pode ser belo? Às vezes, o improviso é a
alma do criativo! Noutras, o improviso é só um desastre esperando para
acontecer. Saiba que o prazer de deslizar no papel, desenhando cada pensamento
que emerge da minha mente criativa é como se fosse uma dádiva. Cada risco, cada
curva, nasce como um sussurro de minha avidez imaginativa. Sou a ponte entre o
abstrato e o concreto, ou seja, sua invejosa, me transformo no objetivo dos
sonhos que logo em seguida, ganham forma.
A borracha Eloá Vitória não deixa por menos:
— Sonhos que, na maioria das vezes, nascem imperfeitos, borrados, sem
direção. Eu sou a guardiã da ordem, a restauradora da clareza. Sem mim, sua
convencida, o mundo seria um caos de idéias inacabadas e garatujas confusas.