terça-feira, 22 de abril de 2025

[Aparecido rasga o verbo] Branca de Neve e os Sete Anões Modernos: A Nova Era das Festas

Aparecido Raimundo de Souza 

BRANCA DE NEVE, a única e original, acreditem, nunca teve problemas em ser a protagonista de uma história de contos de fadas. No entanto, o mundo evoluiu, se transformou. O tempo mudou e, com ele, a forma como ela e seus amigos lidavam com a vida social, também se desfigurou, se inverteu, se dissociou de um ontem caduco e tacanho. Após a derrota da malvada rainha, (A Rainha Má), e o exortar magnânimo do beijo de amor verdadeiro, tascado em seu rosto pelo Príncipe Florian, Branca de Neve, ao se acoroçoar do sono profundo e de volta para a plenitude da vida plena, decidiu que havia chegado a hora de se reinventar. Por que não aproveitar a vida com um toque hodierno? 

Era uma noite de sábado vibrante em que a lua estava cheia e as estrelas brilhavam como diamantes em um céu claro. Branca de Neve e seus sete amigos anões se preparavam para uma aventura noturna, aliás, a primeira, após seu retorno à vida. Um grande baile temático fora especialmente idealizado para a participação de todos os moradores do vilarejo próximo onde se erguia seu Castelo. Uma Casa Noturna recém-inaugurada, sofisticada e atraente, seria descerrado no coração da pequena província e o melhor de tudo, levariam a efeito uma festa surpresa, justo naquele final de semana, para a comemoração da volta triunfal de Branca de Neve. Os anões, (cada um com sua personalidade bem definida,) estavam prontos para brilharem sem fugirem de sua própria maneira de viverem o anfêmero. 

Dunga, de repente, se fez conhecido como o DJ Dunga, em face das festinhas que vinha produzindo na aldeia. Por conta disso, se viu convidado pelo diretor musical da nova Casa de Shows, para cuidar da playlist. Foi um sucesso. Misturou todos os tipos de músicas, sem deixar de fora os clássicos do rock e outros hits contemporâneos. Em pouco tempo, se tornara um mestre em criar atmosferas perfeitas para todos que quisessem balançar seus esqueletos. Enquanto isso, Atchim, o anão que nunca conseguia evitar espirrar na hora errada (também se viu convidado), e se tornou o responsável pelo bar enorme, meio do salão espaçoso, enquanto servindo coquetéis inovadores com nomes criativos como “Poção da Alegria”, Fogo Inapagável”, e “Elixir da Noite”. 

Bem entendido, é bom que se diga, Atchim, servia a galera em polvorosa. Seus preparados deliciosos vinham com respingos de seus espirros indomáveis embutidos, o que diziam os beberrões frequentadores, dava um sabor divino às bebidas. Não faltava um licor para cada gosto, e ele se orgulhava de suas habilidades misturando formulas com sabores inigualáveis de esternutações caprichadas. A cerimônia de abertura do baile inaugural da nova casa, estava, naquela noite, repleta de energia, e a pista de dança logo ficou animada, notadamente com a presença de Branca de Neve em carne e osso, de mãos dadas (não com seu Salvador, o Príncipe Floriam), com o mentor dos anões, o Mestre. A princesa (apesar do Mestre bater abaixo da sua cintura) estava deslumbrante com um vestido de veludo azul e uma coroa brilhante que parecia uma constelação em miniatura 

Contudo, o verdadeiro espetáculo foi ver de perto, ao vivo e a cores, os Sete Anões (inclusive o liliputiano Espirrador) se jogando de um lado para ouro, taças nas mãos, logo depois, entrelaçado em meio à multidão, na enorme pista de dança. Feliz, o Anão mais otimista do grupo, tinha um animo afoito, para lá de contagiante, e a sua alegria se fazia impossível de ser ignorada. A primeira noite da estreia, passou e, depois do baile, o grupo todo decidiu (que coisa maluca) ir ao cinema. Infelizmente, por ser sábado, a bilheteria estava fechada. Voltaram dia seguinte. Assistiram, nesse segundo dia, a várias comédia com os “Três Patetas,” o que fez os mirrados gargalharem e Branca de Neve se derreter tanto, mas tanto, que toda a neve que estava com ela, se dissolveu em  francas gargalhadas. 

Claro que não puderam evitar durante os intervalos na sala de projeção das seções, as distrações surgidas, ou sejam, as pipocas de Atchim, que sempre causavam uma pequena nuvem de sal esparramado pelo ar., mas isso, obviamente, fazia parte da diversão. Na sequência, Branca de Neve e os Sete Anões se aventuraram por outras Casas noturnas, algumas até pouco afastadas da comunidade. Com a luz baixa e os ritmos pulsantes, a coisa toda nada mais se fez além do que uma nova forma de socialização para eles. A ideia do Dengoso, para a noite, de domingo, seria comparecer a um campeonato de novos talentos, onde cada um teria a chance de mostrar as suas habilidades. Zangado, sem querer, logo que adentrou ao recinto, chutou uma moça que cantava Roberta Miranda para uma rede, achando que ela fosse uma bola. 

Feliz, o eterno dono da alacridade prazerosa, impressionou a turba, com seu talento para fazer as pessoas se sentirem livres, leves e soltas, enquanto Soneca, num dado momento, se deitou aos pés de uma outra garota (meio parecida com a Rainha Má, embora não fosse), e acabou dormindo com o cheiro forte do chulé de seus sapatos. Um cara bonitão, metido a conquistador, (lembrava o Erasmo Carlos no tempo da Jovem Guarda), ao topar com a Branca de Neve, fez das tripas coração para se achegar e ficar ao seu lado mas o Mestre Anão podou as suas intenções. No final do encerramento da primeira noite, Dunga, Atchim, Feliz, Zangado, Dengoso, Soneca e o próprio Mestre, sem deixar a Branca de Neve desguarnecida de suas presenças, fizeram uma performance de stand-up, que todos os presentes se dobrarem de tanto gargalhar. 

Finalzinho da madrugada, quando os primeiros sinais de um novo amanhecer começaram a aparecer, o grupo dos sete decidiu se reunir em um café local para um dejejum à altura. Branca de Neve olhou ao redor e viu a empolgação e o encantado na sua melhor forma de expressão estampada nos rostos dos seus sete amigos. A simplicidade de uma refeição conjunta, um breakfast cercado de risos e histórias das duas noites passadas, se transformou na verdadeira essência do que para a Rainha dos baixinhos significava o encanto e a magia de estarem juntos. Enquanto o sol começava a iluminar o horizonte, Branca de Neve e os seus inseparáveis Sete Anões conversaram sobre as maravilhas das noites passadas e como tinham conseguido criar memórias tão especiais em um universo que, para eles, se fazia diferente, obscuro e insólito. 

As aventuras dessas duas noites tinham sido um sucesso, não por causa das festas e eventos nos quais estiveram presentes, todavia, pela amizade e, sobretudo, pela capacidade de aproveitarem os momentos simples da vida, um lado até então obscuro e apocalíptico, que ela simplesmente desconhecia. Nesse tom de cores variadas, a história fantástica da imortal Branca de Neve e os Sete Anões, em sua nova versão, não importa de que forma seja escrita, contada, recontada, cantada ou musicada. A sua essência de berço continuará a explorar o mundo maravilhoso fora dos olhares criativos e imorredouros de Jacob e Wilhelm Grimm, (Os Irmãos Grimm), obviamente sempre com uma pitada de magia e muita diversão. Afinal, o verdadeiro conto de fadas é aquele em que as pessoas, de um modo geral, vivem ao lado de quem amam, seja numa pista de dança, dentro de um carro, num banco de ônibus, na telinha da tevê, no cinema ou em um brunch, aos  maviosos de um esplendoroso, novo e eterno amanhecer.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 22-4-2025 

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