terça-feira, 29 de abril de 2025

[Aparecido rasga o verbo] O Covarde e o Macho

Aparecido Raimundo de Souza 

O COVARDE, não mostra a cara. Não diz a que veio, de onde veio e para onde vai. Esbanja sorrisos falhos, imperfeitos, desprimorados, fendidos, monstruosos e aberrantes, sempre mesclados por uma infinidade de dissabores os mais oprobriosos e adulterados. Tem a felicidade ao alcance das mãos, mas, pela cabeça repletada de merda, não a usa. Aliás, não sabe como usá-la.  Às vezes, sozinho com seus botões, pensa em desfrutar de suas amenidades, ainda que por poucos minutos, e o faz (quando faz), se recolhe às escondidas, ou enterrado de nariz por debaixo dos panos e, ainda assim, não contente, com um bocado de cachorros amestrados guarnecendo o seu rabo sujo. 

O MACHO em oposto, fala abertamente, grita, esbraveja, se mostra o maioral sem papas na língua. Por conta, esbraveja, xinga, profere palavrões e insultos a bel prazer. Em nenhum momento (pasmem!), em nenhum momento necessita de um ajuntamento de veados com terninhos de grifes e armados até os dentes, ou uma fila de carros blindados acobertando seu traseiro. 

O COVARDE é um babaca. E não sabe. Se julga deus embora tenha convicção, que nunca chegará, sequer, a seus calcanhares. A diferença entre ele, o deus falso e o Deus verdadeiro, é simplória.  Se firma as suas ações no patamar de que aquele considerado Supremo é justo, perfeito e inabalável. O Majestoso jamais descerá as escadas ou se igualará a figura esquálida de um verme meia tigela, tipo um deus robotizado, capaz de vender a puta que o pariu para aparecer. 

O MACHO, ah, esse anda por aí à solta. Ri da própria sorte negra que o persegue, mas se faz invulnerável. Bate papo com todo mundo. Parece até político em épocas eleitoreiras. Beija criancinhas catarrentas, cumprimenta os moradores de ruas, dá esmolas, ajuda as velhinhas a atravessarem as ruas, senta no colo da cadeirante e diz que a ama. O Macho é um guerreiro desconhecido, pelejando, incógnito, numa guerra sem fim. No mesmo chute, um herói anônimo, irreconhecível que o Covarde por pura ganância, quer tirar de circulação, em face da sua robustez marcante o deixar de pernas e mãos atadas. 

O COVARDE se sente bem “aparecendo”, nem que seja em festinhas movidas a cocaína e muitas latinhas de cerveja e whiskies importado diretamente do Canadá e Estados Unidos. De contrapeso, deliciando seus olhos sem a autenticidade da glória inusitada, se vê pasmo e ressabiado diante de uma alcateia de lindas putas que se vendem no espúrio da fraqueza, para ganharem uns trocados e manterem pulsante a sobrevivência do dia seguinte. Nesses encontros apetitosos, não faltam os outros arruaceiros, disfarçados, como se fosse o espelho de sua própria personalidade estragada. Seres insólitos que no mesmo pensar usam e abusam de um poder de envergadura pequena, minúscula e irrestrita, que tempos depois se desmanchará descartado, como se fosse uma babel arruaçando vozes e sons vindos diretamente do inferno. 

O MACHO é aguerrido e valente, de compleição musculosa e desassombrado. Também se mostra decidido e impávido.  Não carece, em nenhum momento, ser adulado ou bajulado, canonizado ou intumescido e inflado para que se sinta realmente macho, com “M” Maiúsculo. Tampouco demanda ou necessita estar rebolando o esqueleto nas garras da mídia. Ele sabe que esses meios de difusão em massa, tem a garganta larga. Os seus donos, se vendem, a quem der mais. O Macho é um ser pacato, humilde e solitário. Transita como um aborígene, mas o faz de cabeça erguida. É honesto, casto, probo, nobre, virtuoso, integro e recatado. Vive do suor do seu trabalho. Tem as mãos em chagas vivas, calejadas e escapole das raias da fome constante e o melhor de tudo, se mostra o herói por conviver em família e nela, ser “o tal”. O Macho ama de paixão ser a pedra fundamental na propositura de manter em evidência a comunidade em que vive. 

O COVARDE, também no mesmo trilhar, ama de paixão, tudo o que lhe traz a riqueza em graças prodigiosas. Goza sobejamente as benesses da sociedade hipócrita. Porém, por debaixo das calcinhas e sutiãs, camas e colchões, vende a alma (se é que a tem).  Em posição igual, se sente imortalizado e nesse tom, promove as úlceras e as chagas alheias. Não respeita os códigos e as leis existentes. Aliás, para esse câncer incurável, as leis, os códigos, as normas e a própria constituição, são usadas para outras finalidades.  Viraram uma espécie de bacia das almas, recheadas de atrativos promíscuos diferenciados. De certa forma, a bem da verdade, produtos oportunos para manter limpo o rego de suas sujidades no silêncio pesado daquilo que ele chama de sua casa. 

O MACHO segue firme, intáctil. Marcha seguro, porfioso, cravado e tenaz. Se diverte levando os filhos em passeios os mais diversificados. É comum vê-lo em sessões de cinemas e circos, tomando café em padarias, almoçando em restaurantes com a esposa, ou, pior, é corriqueiro encontrá-lo no cotidiano tresloucado do comezinho banal, desfrutando do seu sopro divino, transitando pelos corredores da vida insensata, desequilibrada e custosa, sem, todavia, receoso daquele medo mórbido e afastado do receio perturbante de ser morto ou atacado. Esse Macho vai e volta, volta e vai, sempre de cabeça erguida.  Em nenhum momento, altera a plenitude do seu diário mantendo um amontoado de pústulas (sempre é bom lembrar) ao seu redor, guarnecendo as suas costas de um possível ataque iminente.   

O COVARDE prescinde de manter vinte e quatro horas um exército blindando aformoseando e fortificando a sua imagem rica e majestosa, bordando a sua posição em letras garrafais em painéis múltiplos e chamativos, expostos às margens de vias urbanas espalhados pelas ruas e avenidas, becos e desvãos da cidade, lembrando de ser ele um onipotente pomposo como uma relíquia etérea e imorredoura. Ele se sente e se vê, se imagina e crê na ideia estapafúrdica, como se fosse o soberano sacrossanto, invulnerável e intocável de um país obscuro. Seu “eu” interior inflado de merdas e gazes “fedorentados,” alimenta a falsa ideia de que ele tem as chaves de uma nação que o despreza e o teme, deslembrando a todo minuto que os seus objetivos não passam de um avolumado de indignidades “nauseabundadas”, como toda a espécime da sua laia. Um dia, isso tudo se transformará num amontoado de vermes peçonhentos namorando a decomposição.      

Em resumo, o COVARDE E O MACHO são seres distintos. Quanto a isso, não deve prevalecer a menor dúvida. Enquanto a Covarde procura, atarantado e sem descanso os fluídos da glória, o Macho, aos goles poucos, granjeia encontrar a fórmula da composição da Paz de Espírito.   Mais hoje, ou amanhã, o Covarde se deteriorará, ao passo que o Macho seguirá pelejando em busca de uma vitória que lhe faça único nos caminhos de um porvindouro risonho e imutável. SOBRETUDO, PERPÉTUO E SEMPITERNO. 

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 29-4-2025 

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