Carina
Bratt
VICTOR sempre que chegava do serviço, (trabalhava como motorista de ônibus), geralmente chegava em casa tardão da noite. Aportava estressado e com uma fome dos diabos. Já vinha, grosso modo falando pelos cotovelos, com a macaca grudada em seus calcanhares. Sua mente rodopiava. Se alguém duvidasse do seu estado de espírito, a sua raiva aumentava, ou se a esposa se opusesse dando o contra, a criatura simplesmente seria capaz de, num ato de loucura, pular no pescoço da teimosa, ou se por azar, insistisse a dita em seguir com picuinhas caseiras, com certeza, a incauta deixaria de ser intransigente e pior, ficaria com a metade da língua para fora, ou coisa pior. Toda essa agitação tinha uma explicação plausível, um motivo claro, uma finalidade objetiva. Victor, era o pai de Victória. E Victória, para seu azar, namorava, coisa me menos de quinze dias, um garoto do bairro.
Desde a primeira vez em que o pai viu o rapaz
grudado em sua filha, não foi muito com os cornos do camarada. Lado outro, a
sua jovem menina, muito nova, (nem havia saído das fraldas dos doze). Além de
ser a filha única, a quem o patriarca amava de paixão, o guri não demostrava,
de fato que a faria feliz, caso o assanhamento fosse adiante. A história da
presente crônica visa trazer um alerta, às minhas amigas e leitoras. Mostrar
numa linguagem simples, o que poderá ocorrer, se não houver a devida orientação
e conselhos, bem ainda os descontroles, a ausência de princípios básicos mais
enérgicos dos responsáveis, como também, ou de que forma, se uma atitude mais
drástica não for trazida à efeito, um simplório namoro na sala de casa, ou
pior, em saidinhas para baladas com amigas mais velhas ou até da mesma idade,
evitará que a coisa degringole para patamares mais extremos. A maratona errônea
de Victória começou da seguinte maneira.
Todo final de semana, a pequena saia de casa com as amigas do bairro na sexta-feira à noite, por volta das vinte, e só retornava tardão da noite, quando o dia se enunciava prestes do amanhecer. Verdade seja dita. Não foi falta de aviso. Tanto a jovem desconheceu os conselhos dos pais e parentes mais próximos, que ao final tudo bateu na trave de um rebuliço dos infernos. Soube-se, depois que numa dessas baladas, Victória conheceu o Dito Pé de Cabrito, um rapazola praticamente da mesma idade dela, que desde tenra idade, se dedicava a fazer coisas erradas. Em decorrência disso, contava várias passagens pela FEBEM. A mãe de Victória, dona Catarina, avisava, conversava, explicava. Qual o quê! Victor, o pai, falava em castigos severos. As tias, dona Alzira e Isolda (que moravam na mesma rua) rezavam um terço. As primas Gabriela e Sandrinha, mais extrovertidas, contavam histórias cabeludas, dos idos em que elas cognominaram de ‘pinceladas mal-acabadas’.
Entretanto, Victória, entorpecida pelo prazer, vidrada em como o seu primeiro namoradinho, o Dito Pé de Coelho se desenvolvia na ação tresloucada dessas tais ‘pinceladas’ e, obviamente levado pela tara que carregava em seu sangue, quando se achegava da namoradinha, viajava na maionese. Com ela a tira colo, o garoto via estrelas. Se destravava completamente entibiado pela ação da gasolina perto do fogo. O modo como o descarado iniciava à coisa, bolinando o proibido, logo a seguir, com a moça completamente enleada em seus despropósitos, culminava o malandro derramando o petróleo no braseiro que jorrava da sua bomba em abundância e, por azar, em local que não deveria. Victória, inocente, se tornara (em face dessas ações diárias), uma presa fácil. Em seguida, viajavam, saiam do chão. Atarracados como cachorro e cadela no cio, o casalzinho incandescia.
No mesmo instante em que gemiam, gritavam, se arranhavam, se debatiam, por fim, a brasa soprada a bom vento, gozavam. Não davam confiança aos percalços de um final mais trágico. Os conselhos de todos os familiares, entravam por um ouvido e nem saiam pelo outro. Se embolavam lá por dentro e acabavam nos desvãos da sofrida culatra, que levava a culpa. Quando Victória decidiu aquiescer e ouvir atentamente os de experiências mais apuradas, o seu tempo se adolescente se tornou tardio demais. Em consequência, não adiantava mais se quedar namorando na sala, ao lado do irmão mais novo grudado no celular, menos ainda da avó que sentava para fazer crochê e cinco minutos depois dormia junto com as linhas. Nessa hora, enquanto o fogo queimava o pavio da tênue vela, a longeva roncava, soltava uns puns putrefatos e catingosos, ao sabor da promoção de uns sons estranhos com a boca se confundindo com o volume alto da televisão.
Às vezes a pobre oitentona falava sozinha. Noutras gritava com alguns fantasmas que somente ela via. De repente, a senhorinha babava e o mais cômico, vezes sem conta acordava esbravejando com alguém imaginário. Jaconias, o pirralho do irmão, não esquentava lugar. Agraciado pelos prazeres da telinha de um celular, acompanhado de uns saborosos saquinhos de batatas, refrigerantes e pacotes de figurinhas de jogadores de futebol, que o Dito Pé de Cabrito lhe trazia escondido, o pirralho se deixava ser tapeado. Corrompido, mesmo lado, pela gula, logo o infante arranjava um jeito de se esgueirar e rachar no trecho. A mãe, no quarto, grudada no BBB. O pai, no trampo, garantindo a sobrevivência da prole. Nessa hora, livre de intrusos, Dido Pé de Cabrito (que fingia estar ligadaço na novela, ou entusiasmado por um filme qualquer), entrava em ação.
Tirava para fora da embalagem o seu amiguinho de estimação e a namorada, mais que depressa, lhe segurava com força num agarro quase brutal. Na sequência, vinha o ‘flexionamento’ sem juízo, com as duas mãos, ora, devagar, ora atrevida demais, e quando a coisa se fazia pronta para arrebentar, ela encostava o peso do comprido num lugar errado e finalizava a ação. Victória, adorava, aliás amava de paixão essa coisa endoidecida de ‘pincelar.’ De segunda a sexta-feira, o rapazola, por volta das dezenove horas, dava os ares da graça. Marcava presença e enquanto a velhota da avó dormia, e o irmão engordava a pança com as batatas e refrigerante, as ‘pinceladas’ entravam rasgando por um buraco, se acomodava em outro e... nessas ‘pincelações’ que variavam entre as nádegas e a entrada do paraíso, tipo canetadas doidivanadas, afoitas, descabidas, desajuizadas, arraigadas e sem ter como alguém pisar no freio, ambos inconsequentemente e desajuizadamente alcançavam o clímax.
Numa dessas investidas acolá e ‘acucá’, o pincel sem juízo, meteu a cabeça, resvalou e partiu com tudo. Nesse triscar, se empolgou se fartou e acabou jogando tinta fresca exatamente onde não devia. Vitor, o pai enfurecido, alterado, fervente, inquieto, tempestuoso, e feroz, quando soube da ‘deslização’, espancou a esposa. Quebrou lhe alguns dentes. Jogou a televisão pela janela. Socou o filho menor na parede, dando na sequência, uma surra memorável. Não contente, aplicou uns tapas no escutador de novelas da sogra dorminhoca. Vizinhos levados pelos gritos de socorro, acionaram a polícia. Quanto ao pervertido Dito Pé de Cabrito, o piá teve o seu pau de virar os olhinhos cortados na base. Hoje repousa feliz e tranquilo numa cova rasa do cemitério local. Vitor perdeu o emprego. Foi condenado e está preso cumprindo pena na penitenciária estadual. Victória, foi a única que se deu bem. Aumentou a família. Deu luz à gêmeos.
Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa
Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 27-4-2025
A minha visão da inveja como a vejo e sinto
Um pouco da história do aparecimento do livro
Miscelâneas para ‘desenroscansos’
Barto
Gostaria de me desculpar publicamente por alguns gatinhos que cometi no texto acima. O personagem Victor, figura com um 'C' e, em outro momento, como Vitor, sem o 'C'.. O certo é VICTOR. Outro gatinho, saltando miando pode ser visto no patronímico do meu personagem Dito Pé de Cabrito. Existe um momento em que lhe grafei o nome como Dito Pé de Coelho. O certo é Dito Pé de Cabrito. Espero que minhas amigas leitoras me perdoem, pelos errinhos apontados.
ResponderExcluirCarina Bratt
da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro