quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Privatização da soberania nacional: o caso Manuel Vicente

Maka Angola


De forma patética, o novo ministro (mas velho secretário de Estado) das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, afirmou mais uma vez que o país “não se moverá nas ações de cooperação com Portugal (…) enquanto o caso [de Manuel Vicente - foto acima] não tiver um desfecho”, adiantando que a solução seria entregar o processo à justiça angolana, no âmbito do acordo de cooperação judiciária entre Portugal e Angola.

Além disso, Augusto também proferiu palavras confusas sobre a razão de Estado e a submissão do poder judicial à razão de Estado, demonstrando exemplarmente que os “novos” democratas do governo não sabem verdadeiramente o que é o Estado Democrático de Direito. Num Estado Democrático de Direito, o poder judicial só se submete à Constituição e à Lei. A razão de Estado é um instrumento típico dos Estados europeus absolutistas dos séculos XVII e XVIII, nada tendo que ver com as modernas democracias. Ou melhor, que nada deveria ter que ver com as modernas democracias…

Aliás, enquanto foi secretário de Estado, Manuel Augusto habituou-se a observar a submissão portuguesa aos interesses dos dirigentes angolanos. De facto, a justiça portuguesa tinha uma longa tradição de deferência face ao poder político e, no caso de Angola, essa deferência traduzia-se em arquivar todos os casos que dissessem respeito aos líderes angolanos. Basta lembrar a decisão – tomada pela então diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP – principal órgão de investigação do Ministério Público português), Cândida Almeida – de não investigar os indícios de fraude fiscal e branqueamento de capitais que surgiram no âmbito da Operação Furacão (inquérito criminal dirigido ao sector financeiro por fuga ao fisco) em relação a Isabel dos Santos. Ou o constante arquivamento, por parte das autoridades judiciárias lusas, das queixas apresentadas por Rafael Marques, fazendo eco da vontade do então presidente da República Cavaco Silva, segundo o qual os assuntos de Angola deviam ser tratados em Angola.

[Versos de través] G(r)ata manhosa

Haroldo P. Barboza

O homem se rotula
De esperto e criador
Quando da natureza
É o maior predador.
Pensa que é o rei e só.
Mas esquece que é pó.

Iludido, repete sempre 
Que só ele tem razão
E que seu único amigo
É o domesticado cão.
Seu pobre subconsciente
Repele o gato independente.

Todo animal da terra
Do rato ao condor
Se tratado com carinho
Nos devolve amor.
Ainda que coió indigente
Com o gato não é diferente.

Não se furta ao afago
Depois de alimentado
Brinca e se esfrega
Até sentir-se cansado.
E quem não deixa o amigo
Quando a pele corre perigo?

Pequeno telhado de zinco
Torna-se um palco rico
Onde nas noites sem chuvas
Qualquer gato paga mico.
Estando amando, ele mia
Compondo uma g(r)ata sinfonia.

Título e Texto: Haroldo P. Barboza, janeiro de 2001


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A burrada sem tamanho de Lula

o antagonista

Um dirigente do PT disse para o Estadão que a caravana carioca de Lula é “uma burrada sem tamanho”.

Sua passagem pelo Rio de Janeiro vai relembrar os eleitores de sua parceria com Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

Pior ainda: o Comperj, que o condenado vai visitar, é um dos principais focos de roubalheira revelados pela Lava Jato.


Título, Imagem e Texto: o antagonista, 30-11-2017

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[Flagrantes do quotidiano] Quem veste as calças

Anônimo

Quando minha irmã se casou com um oficial da marinha, alto e taciturno, toda a gente disse que o meu cunhado ia ser em breve um dos maridos mais passivos do mundo. Porque minha irmã é muito decidida a propósito de tudo.

Mas, ao contrário das expectativas, ela sempre se comportou, desde o começo da vida de casada, como uma criança na semana que precede o Natal.

Perguntei-lhe o que tinha havido, e ela corou. “A primeira coisa que eu vi,”, disse-me, “quando chegamos em casa, depois do casamento, foram umas calças dele em cima de uma cadeira. Ia guardá-las, mas ele não consentiu, e me disse que as vestisse. Achei esquisito, e perguntei para quê. Mas ele insistiu sorrindo. Para ver o que é que ele tinha em mente, pus as calças, que, naturalmente, eram enormes para mim.

– Servem para você? perguntou.
– Ora, querido, você bem sabe que não! respondi. Ele me sentou em seu colo e, com uma expressão absolutamente séria, disse:
– Pois então não se esqueça de quem é que veste calças nesta família!
Texto: Anônimo, Seleções Reader’s Digest, fevereiro de 1947

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Alegria e vitória

Nelson Teixeira

Diariamente, ao despertar, faça afirmações positivas de alegria e de vitória, procurando construir em torno de si um ambiente de serenidade e de harmonia, com todos que estão ao seu redor.

Aprenda a sorrir de coração para todos: parentes, amigos, conhecidos, de tal forma que basta a sua presença, para que a alegria penetre no coração das criaturas que lhe chegam perto.

Verifique a felicidade que isto lhe causará.

Fazer a felicidade dos outros é muito gratificante para a vitória de nós próprios. 
Título e Texto: Nelson Teixeira, Gotas de Paz, 30-11-2017

QUIZ: Relógio mole de Dalí

Em que se inspirou Dalí para a sua imagem do relógio mole em A Persistência da Memória?
 
A persistência da memória, óleo sobre tela, Salvador Dalí, 1931. Atualmente no Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

A  – Um amanhecer
B  – Um queijo Camembert
C  – Um incêndio 
D  – Um banhista ao sol

Charada (457)

Paguei por um
frasco de perfume
mais 40 euros
do que a metade
do seu valor.
Quanto custou 
o perfume?

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

[Ferreti Ferrado suspeita...] A sucata da PM

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Document exceptionnel : Les 100 ans de crimes communistes


Le documentaire réalisé par Bernard Antony, l’AGRIF, Chrétienté-Solidarité et TV Libertés rompt le silence assourdissant autour d’un funèbre anniversaire : les 100 ans du communisme.

Depuis 1917, cette idéologie est synonyme de cruauté, d'assassinats, de tortures, de souffrances et d’asservissement. Et pourtant, les élites françaises et la presse mainstream semblent oublier de rappeler les 100 millions de victimes de ce totalitarisme. Ces morts n’existent pas, tout au moins dans le débat public !  Ceci est peut-être l’illustration d’une caste dirigeante qui n’arrive pas à rompre avec le marxisme-léninisme, de certains dirigeants politiques qui n’ont jamais reconnu leurs erreurs et leurs errements ou  de partis politiques qui n’ont jamais fait acte de repentance.

C’est l’honneur de la presse alternative, et tout particulièrement de TVLibertés, de diffuser un documentaire afin de faire découvrir l’ampleur du malheur dans lequel furent ou sont encore plongés des peuples entiers. Ce document exceptionnel qui a nécessité des semaines de préparation est une arme pour la guerre idéologique contre les totalitarismes actuels-et, hélas, le communisme en est un. 


Stéphane Courtois : Lénine, l'inventeur du totalitarisme


Stéphane Courtois, l'historien du "Livre noir du communisme" traduit en 26 langues et à 10 millions d'exemplaires publie un ouvrage événement :"Lénine, l'inventeur du totalitarisme". Le récit glaçant d'un criminel, d'un monstre hors du commun. 100 ans après la naissance du communisme, la lecture de cet ouvrage qui mériterait le Goncourt est tout simplement indispensable.

Voto de pesar

Vitor Cunha


A melhor homenagem que Belmiro de Azevedo [foto] recebeu no dia da sua partida foi a rejeição do voto de pesar pelo Partido Comunista Português. Significa isto que Belmiro de Azevedo não foi um ditador sanguinário que assassinou inocentes. 
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 29-11-2017

Contos moucos dos loucos (XXXIII) – O tempo voa!

Haroldo P. Barboza                                                                    

Redinaldo estava à janela do quarto observando a chuva forte que o acordara com a sinfonia no telhado. Sua tia e sua prima eram mais felizes, pois dormiam no andar inferior da casa, pois já não tinham fôlego para subir as escadas com muita frequência. Como ele passava a maior parte do tempo na rua e não ajudava no pagamento do IPTU, era justo que tivesse de realizar maior esforço.                                                    

Seus olhos se fixaram no súbito clarão azul atrás da montanha. Teria sido um avião que se espatifara no chão? Eram 2h30. Colocou a capa plástica e desceu as escadas atapetadas, que não escondiam o ranger das madeiras antigas.       

Após caminhar vinte e cinco minutos, chegou à clareira. A chuva já havia reduzido seu volume. Agora, era mais fina que os pingos das folhas das árvores ao longo da estrada de terra. Não viu nenhuma fogueira nem vestígios de metais. Não ouviu nenhum ruído similar a um pedido de auxílio. Acendeu a potente lanterna e iniciou uma investigação mais minuciosa.  Após caminhar uns oitenta metros, observou que diversas árvores apresentavam uma poda regular, alinhadas ao longo do trecho que ele percorreu. Porém, onde estavam os galhos que foram decepados? Em paralelo a estas árvores cortadas, o capim apresentava o aspecto marrom de queimado, numa largura em torno de dez metros.

Quando estava por retornar, encontrou algo similar a um cilindro amarelo de plástico, contendo duas pílulas: uma verde, outra vermelha. Na superfície do tubo, algo que lembrava uma banana d'água. Existiam diversos caracteres em alto relevo em volta do cilindro. Não conseguiu ler nada. Estaria em árabe, japonês ou algum idioma que nunca ouvira falar? O tubo era maleável, mas não apresentava nenhuma ranhura ou rosca que lhe permitisse retirar as duas pílulas. Não mudou de forma após levar algumas pancadas com uma pedra. Tentou serrá-la com seu facão. O efeito foi similar ao de esfregar algodão na sua superfície. Usou o isqueiro por três minutos e nada mudou. Aliás, mudou: o combustível do isqueiro acabou e sua mão esquentou. Tocou com a ponta da unha do indicador numa das beiradas do tubo. Ora que bela surpresa: as pílulas vieram agarradas à sua unha. Como atravessaram o invólucro se não havia abertura visível?

PSDB e... os intelectuais


Cesar Maia

1. Numa reunião, anos atrás, quando se discutia nomeações, Brizola pediu que se tomasse muito cuidado com os belos currículos sem atenção à política e concluiu: "Na hora de uma crise, eles ficam com o currículo e abandonam o partido e o governo".

2. Um político sênior do próprio PSDB fez esta lembrança ao comentar o movimento emigratório na Casa das Garças, no Rio, dirigida e coordenada por intelectuais do PSDB, quase todos grandes economistas.

3. Essa emigração ocorreu logo após as gravações e as imagens que tratavam do caso do presidente do PSDB pedindo recursos ao dono da JBS para - segundo ele - pagar seus advogados.

4. Certamente assustados com o impacto junto à opinião pública, iniciaram o movimento imigratório em direção a um partido Novo, ou seja, sem políticos. Internamente, o PSDB sofreu um estilhaçamento, a começar pela participação no governo Temer, onde ocupava ministérios de grande destaque, como Relações Exteriores e Cidades e Articulação Política.

5. Em seguida, surgiram os "Cabeças Pretas", ou seja, um grupo que afirmava a renovação pela idade, por serem mais jovens e não terem cabelos brancos. A auto identificação não poderia ser mais politicamente incorreta, ao misturar a idade com as ideias.

6. O líder do PSDB na Câmara passou a fazer oposição ao governo e pediu que a bancada de deputados votasse a favor da investigação ao presidente. Nas duas vezes a bancada se dividiu quase numericamente ao meio. O presidente da juventude do PSDB agregou à marca da juventude a expressão "de esquerda".

Falsa proteção

Haroldo P. Barboza

Que 80% da programação da TV brasileira não atende ao papel social que deveria prestar à sociedade, já sabemos há décadas. Que 75% das novelas, seriados e enlatados exibidos quebram em meses os valores morais que as famílias levam anos para passar aos filhos, também já sabemos. Que ela é usada pela elite para anestesiar e doutrinar a população com novelas fúteis, shows de nádegas despidas e filmes violentos no sentido de camuflar escândalos e se perpetuar no poder, também já sabemos. Mas um poder legislativo que através dos “direitos do menor” permite que estes agridam professores e até pais, nada mais é do que uma grande quadrilha que tenta se promover com medidas fúteis em relação à proteção de menores de 18 anos que votam, dirigem, procriam, assaltam, matam e voltam às ruas em dois meses.

O poder judiciário se acomoda e não força uma mudança racional que realmente os proteja. Qual a proteção efetiva para evitar que menores de 10 anos trabalhem nos engenhos dos poderosos? Pune quem se aproveita de inocentes que são “educados” por marginais nas comunidades sem estrutura social? Desemperra processos apodrecidos contra mentores de barbaridades contra menores que se transformam em abandonados de rua? Cuida para que a mortalidade infantil seja reduzida nos hospitais públicos abandonados?

Cadê a OAB, CNBB e outras BB’s que abrigam algumas boas inteligências que se desperdiçam a serviço dos donos do poder? A troco de quê?

Varig: advogado afirma que companhia aplicou a maior fraude trabalhista do país

Buanna Antunes

Foto: Rafael Wallace
Advogado e ex-piloto da VARIG, Paulo Murillo Calazans [foto] afirmou que a companhia aérea aplicou a maior fraude trabalhista do país. A informação foi divulgada durante audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga a falência da empresa, nesta terça-feira (28/11). Segundo Calazans, mais de 12 mil funcionários foram prejudicados com a falência da empresa, decretada em 2010.

Para o advogado, a companhia errou ao ter alienado todos os ativos que poderiam satisfazer os créditos trabalhistas dos ex-funcionários. "Era necessário que fosse resguardado créditos para pagamento de natureza trabalhista. No entanto, quase a totalidade dos ativos foram alienados para terceiros por um preço irrisório. Na ocasião, tudo foi vendido por R$ 60 milhões, quando a dívida trabalhista estava estimada na época em R$ 800 milhões, absolutamente insuficiente para pagar todos os credores", ponderou.

O presidente da comissão, deputado Paulo Ramos (PSol), disse que a CPI vai continuar apurando os fatos. "A cada dia fica mais claro o que houve com a Varig. Foi um crime perpetrado com o objetivo de aniquilar uma empresa que tinha um papel importante para a nossa soberania e para a aviação brasileira. Mas as apurações da comissão ainda vão continuar", concluiu Paulo Ramos.
Título e Texto: Buanna Antunes, ALERJ, 28-11-2017 


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terça-feira, 28 de novembro de 2017

[Aparecido rasga o verbo] A Procissão das labaredas

Aparecido Raimundo de Souza

Minha casa era modesta, mas eu estava seguro, não tinha medo de nada“.
“O Divã” de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

AQUI ONDE EU MORO, a coisa anda pra lá de interessante. Além do pai e da mãe, dez outras bocas famintas ajudam a aumentar as despesas, tirando, é claro, as quatro do fogão. Embora essas não sejam humanas, consomem rapidinho com o gás das duas botijas que mantem as panelas com os fundos de suas bundas quentinhas. Ao todo, somos doze cabeças (seis homens, Élcio, Elias, Eliandro, Eliodoro, Elmo e Elenilson -, não necessariamente nessa ordem, e quatro fêmeas: Eliza, Elizandra, Enia, e Eunice, essas beldades, todas de tirar o sossego do Papa), não computadas com as duas do vídeo e a de Bibi. De Bibi falo daqui a pouco. Os números de pés chegam a dezesseis, não contando (do mesmo modo) com os de Bibi e as três da geladeira. Felizmente, os pés da geladeira, não utilizam sapatos.

O coitado do refrigerador, com menos de um ano de uso, veio da casa de tio Firmino, irmão de papai que morreu recente, do coração. O aparelho ficou capenga em decorrência da mudança. Os carregadores, mais desastrados que apressados, ou as duas coisas juntas, gentilmente quebraram um deles, na descida do caminhão. Moramos numa casa bastante espaçosa, incrustrada elegantemente dentro de uma chácara pequena cheia de árvores e deveras aconchegante. A construção é engraçada, todavia, extremamente funcional. Dois andares amplos com vista panorâmica para a cidadezinha que parece ajoelhada a seus enlevos. Há um terraço panorâmico e uma piscina que nunca foi terminada. Existe uma escada interna em formato de caracol ligando o andar térreo ao superior e este ao terraço. Nesse piso, vários quartos se alinham juntamente com três banheiros extras. De manhã, mesmo com esses cagatórios em dose repetida, é um verdadeiro inferno, com toda a galera querendo, ao mesmo tempo, fazer uso das privadas. Se alguém não conseguir segurar as necessidades mais prementes, urge correr no mato, nos fundos do quintal, ou sujar as calças de bosta ou urina, se não aguentar segurar o tranco.

Não dormimos em beliches, mas em colchonetes espalhados pelos assoalhos. Nossos velhos são os únicos que utilizam uma cama de ferro acomodada em lajotas, presente também do Tio Firmino. Na entrada dos lavabos meu irmão Élcio botou uma espécie de prateleira presa a braçadeiras de ferro, onde são guardados produtos para a higienização dos dentes entre outras quinquilharias de uso não só masculino, como feminino.

Temos o Bibí, lembram dele?, uma espécie de doméstico. Sujeito bom, de rosto pálido e idade indefinida. Parece uma versão antiga de Freddie Mercury depois de morto, em decorrência da magreza que o acompanha. É considerado, além de quebra galho, membro da família. O coitado só tem um defeito. Não fala absolutamente nada. Como se diz por aí, um sujeito sem palavra. No bom sentido. Bibi ficou interdito de comunicação e virou literalmente criado-mudo depois que perdeu a língua num assalto. Os bandidos que o renderam, além de levarem todos os pertences, um fusquinha 68, alguns trocadinhos e os sapatos, acharam por bem lhe faturar também o órgão do paladar.

Contos moucos dos loucos (XXXII) – Mordomia no cemitério

Haroldo P. Barboza

Laura passou o lenço levemente sobre os olhos, tomando o cuidado de não prejudicar a sofisticada maquiagem que lhe consumiu quarenta e cinco minutos pela manhã. De relance, observou a sobrinha Delma ajeitando algumas flores no caixão de Tenório. Os murmúrios dentro da capela giravam em torno da falta de sensibilidade do Destino.  Há mais de meia hora que todos comentavam:


- Que coisa triste, hein!  Dr. Tenório, rico, apenas 46 anos, deixa dona Laura bonita e sozinha no mercado (não tinham filhos). Será que ela vai se casar de novo?
- Possui boas chances. Com 35 anos e herdeira de uma boa fortuna, em breve vai arranjar um bom e simpático sujeito e vai esquecer esta fatalidade!
  
Laura acenava e apertava diversas mãos (como seu marido tinha puxa-saco) com delicadeza, para não estragar o esmalte. Estava ansiosa por ver o caixão escorregar para a cova e dar logo início à sua nova vida ao lado do Doutor Argus, o médico de ”confiança" da família!  Ela irá na próxima semana à Itália. E dentro de vinte ou trinta dias (quanta pressa), se encontrará com Argus na Holanda.
  
Lentamente ela deu quatro passos para a esquerda e quando teve a certeza absoluta de que ninguém estava observando, sussurrou perto do amante:
– Tem certeza que a dose que colocou no vinho dele fez efeito?  Às vezes tenho a leve impressão de que ele está respirando fracamente.
– Calma, querida!  Dentro de quinze minutos o caixão descerá e nossas angústias terminarão para sempre. Se estiver vivo, vai acordar lá embaixo!  Não pude exagerar na dose para que o médico que assinou o óbito não percebesse nada!  Vá conversar um pouco com algumas daquelas velhotas para disfarçar. Relaxe.

[Ferreti Ferrado suspeita...] ...melhor ser amigo do gajo

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[Para que servem as borboletas?] Na prancha da angústia...

Valdemar Habitzreuter

Deslizamos na onda do tempo sempre sujeitos ao que pode surgir pela frente e esperançosos de poder surfar até à praia segura. Não é sem razão que o surfista desportista sente-se desafiado quando adentra o imenso mar à procura de ondas gigantescas e poder dominá-las com arte e técnica, fugindo do quebradiço. Assim, o tempo é o mar de nossa existência cheio de ondas bravias onde exercemos nossas habilidades de sobrevivência. Equilibrar-nos na prancha da vida é o que importa e não soçobrar.

O tempo é uma coisa esquisita. Aliás, nem coisa é. Não o vemos. Não o tocamos. Não o cheiramos. Mas, o percebemos como ação e que tem domínio sobre as coisas no espaço. As coisas envelhecem ao seu comando e têm determinada duração. Ele mesmo fica inalterado. Ou seja, é duração pura sem começo e sem fim. Poder-se-ia dizer que é a realidade única da qual tudo depende.

As coisas concretas que enxergamos com nossos olhos são miragens da duração. Não há propriamente coisas. Há somente ações. Tudo se agita na duração. Uma árvore a minha frente é nada mais que uma ação trazendo-nos uma imagem que dura por um determinado tempo. É um recorte da ação no tempo que começou na germinação e terá seu término na corrupção.

E cá estamos nós, também um recorte do tempo, cada qual perfazendo sua duração. E o que estamos realizando como agentes inteligentes? O que ainda nos espera até o fim? O que, afinal, estamos procurando enquanto duramos? Inquirições que nos surgem indubitavelmente.

De uma coisa temos certeza: somos assaltados por mil e um sentimento que não sabemos donde provêm e tão pouco sabemos canaliza-los para um propósito. Somos munidos de psiquismo e, consequentemente, sempre enredados com a angústia do porvir.

AH, a angústia! Que troço estranho que nos acompanha na estrada da vida! Sinceramente, procuramos fugir dela porque ela nos amedronta. Ela nos aperta. Ela, por vezes, nos sufoca. Ela se veste da roupagem da desesperança. Ela nos quer engolir.

Ideologia! E... nada? E... eleições!

Cesar Maia

1. Nos últimos tempos costumou-se repetir que na política não há mais ideologia. De certa forma, Fukuyama inaugurou este processo com seu consagrado – e progressivamente desmontado – "O Fim da História".

2. Mais recentemente cresceu na mídia e na opinião pública a ideia de que os valores pessoais substituem as ideologias (e não as reforçam). Na medida em que a mídia televisiva enquanto entretenimento e que responde à lógica da audiência, era natural que suas "estrelas" surgissem para as pessoas como alternativa desse mundo "sem ideologia".

3. Parafraseando o sociólogo canadense Marshall McLuhan, “O Meio é a Mensagem”, hoje se poderia dizer que o “Comunicador é a Mensagem”. Assim está sendo na Itália, no Chile, com a surpreendente candidata da Frente Ampla, em Honduras, com um candidato que disputou palmo a palmo a eleição contra a reeleição do presidente, etc. Ou seja: independe do grau de desenvolvimento econômico do país. De certa maneira isto vale também para os esportistas populares que cumprem a mesma lógica "ideológica".

4. É natural que as referências que caracterizam o que se passou a denominar “esquerda e direita” não sejam as mesmas da revolução francesa. E menos ainda as referências antes e após da Primeira Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. Com o derretimento do Muro de Berlim e da União Soviética, em vez de se ter uma análise dinâmica e dialética de superação, se passou a entender que o que se derretia eram as ideologias.

5. Sempre haverá ideologia. Isto não quer dizer os mesmos parâmetros desde a segunda metade do Século XIX ao fim do Século XX.

6. O Nouvel Observateur com o Instituto Ipsos, anos atrás, fez uma ampla pesquisa consultando as pessoas sobre as suas preferências e comportamentos, que terminou sendo agrupada num quadrado subdividido em quatro partes. Na coluna vertical, de baixo a alto, perguntas cujas respostas sinalizavam valores conservadores e liberais. Na linha horizontal, as respostas sobre economia/estado listavam visões conservadoras e liberais.

QUIZ: Representante do Surrealismo pictórico

Foi o máximo representante do Surrealismo pictórico, pintou visões oníricas, cenas religiosas, retratos da sua musa Gala... De que artista falamos?

A  – Joan Brossa
B  – Antoni Tàpies
C  – Salvador Dalí 
D  – Guiseppe Arcimboldo

Charada (456)

Qual das seguintes
palavras
destoa,
logicamente,
deste grupo?

Curriculum,
Media,
Versus,
Quorum,
Video, 
Veritas.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

[Flagrantes do quotidiano] Na fila do supermercado

Catarina Falé

Eu faço parte daquele grupo de pessoas que evita contato humano em filas. O que significa que, ao contrário das restantes pessoas, não pressiono a pessoa da minha frente, dando um metro mais/menos de distância.

Claro que recebo perguntas como "a senhora está na fila?", olho para a minha volta e penso, "mas o que é que eu poderia estar aqui a fazer em pé, parada, com compras na mão, que não fosse estar na fila?!" 😂😂😂

Não será preciso dizer que a senhora que me perguntou encontra-se agora a 10,5cm de mim.
Texto: Catarina Falé, 25-11-2017

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[Flagrantes do quotidiano] Consolando o marido desempregado

Kathryn Brod


Minha empregada anunciou certo dia, que era obrigada a pedir uns dias de licença.

– Meu marido perdeu o emprego, disse ela. – E, quando ele não trabalha, eu também não trabalho!

– Mas, Lulu, observei-lhe, – não é justamente quando o seu marido está desempregado que você precisa ainda mais do seu dinheiro?

– É, sim senhora, replicou ela. – Precisamos muito do dinheiro. Mas ele precisa ainda mais de consolo! Quando eu trabalho e ele não, fica desgostoso; e, quando fica desgostoso, começa a beber, e namora a primeira mulher que encontra. E eu me defendo... Mas não se preocupe, patroa, que volto muito em breve. Ele não fica muito tempo desempregado quando eu estou em casa!
Texto: Kathryn Brod, in Seleções Reader’s Digest, fevereiro de 1947

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Contos moucos dos loucos (XXXII) – História de pescador

Zulma Steele

Um velho pescador de lagostas, que também ganhava dinheiro transportando veranistas no seu barco, era famoso pelas histórias que contava. Certo dia, uma recém-chegada, mulher alentada de carnes, e toda elegante nas roupas da moda, tomou o barco do pescador e, erguendo a voz acima do sibilar do vento, gritou:

– Eu ouvi dizer que o senhor é o maior mentiroso da zona!

– Madame, respondeu ele, tirando o vetusto chapéu de palha num gesto fidalgal, e esforçando-se por fazer um salamaleque sobre a embarcação balouçante:
 – Madame, a senhora é a mulher mais bonita que já vi!
Texto: Zulma Steele, in Seleções Reader’s Digest, fevereiro de 1947

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[Flagrantes do quotidiano] Apresentação

Havia uma seção na revista “Seleções Reader’s Digest” titulada “Flagrantes da vida real”.

Inspirado nela, há tempos venho pensando em disponibilizar aqui na nossa revista uma coluna onde dividiremos com os generosos leitores os nossos próprios flagrantes do quotidiano e/ou aqueles que observaremos. 

Vamos nessa?!

Aceitamos sugestões de imagem que ilustrará a coluna.

Muito obrigado! 

Propaganda do primeiro número brasileiro, em fevereiro de 1942.

[Ferreti Ferrado suspeita...] + 46% para as diárias de funcionários cariocas

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[Língua Portuguesa] O certo é bolacha ou biscoito? No Brasil, é lei: biscoito e bolacha são sinônimos


dicionarioegramatica

Uma discussão capaz de exaltar ânimos, no Brasil, diz respeito a como chamar o alimento das fotos acima: bolachas ou biscoitos?

Qualquer exaltação de ânimos, porém, é injustificada: pela lei brasileira, biscoito e bolacha são sinônimos perfeitos; nenhum dos dois nomes é mais correto que o outro. São, pela lei brasileira, exatamente a mesma coisa, apenas com uso predominante em diferentes estados e regiões do Brasil.

Por resolução em vigor amparada pelo decreto-lei nº 986, de 1969, que instituiu as normas sobre alimentos no Brasil, a Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos determina que “Biscoito ou bolacha é o produto obtido pelo amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com farinhas, amidos, féculas fermentadas, ou não, e outras substâncias alimentícias. O produto é designado por “biscoito” ou “bolacha”.

O que explica o uso de um ou outro termo é, simplesmente, a tradição regional. Uma das fronteiras linguísticas nessa área se dá entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro: enquanto paulistas dizem bolacha, os cariocas dizem biscoito – e argumentam em geral que prova de sua correção é o fato de os próprios produtores usarem a palavra “biscoito” nas embalagens. É um argumento que não se sustenta, porém; é certo que a maioria (mas não todos) dos grandes fabricantes usa, na embalagem, o termo “biscoito”, o que deve vir desde os anos do Rio como capital e principal centro de influência nacional; mas a verdade é que tanto Portugal quanto a maior parte do Brasil – tanto em território, quanto população ou PIB – usa hoje o termo bolacha – que, como já visto, é absolutamente equivalente do ponto de vista legal.

Confira o mapa:


É interessante ver a divisão do país, que vai muito além de Rio versus São Paulo. A linha divisória passa pelo meio do estado de Minas Gerais, cuja metade sul e oeste falam bolacha – como São Paulo, toda a região Sul, os quatro estados do Centro-Oeste e a maior parte da região Norte. Já biscoito é a forma usada no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará Amapá, Belo Horizonte e a metade norte e leste de Minas e quase toda a região Nordeste (com exceção do Rio Grande do Norte, onde predomina bolacha, e do Ceará, único estado em que a maioria dos respondentes afirmou ser indiferente o uso de bolacha ou biscoito).

Acredite em você

Nelson Teixeira

Saiba que você é uma pessoa maravilhosa, capaz de fazer muita coisa boa, útil e expressiva, e que no seu coração estão guardadas coragem e confiança suficientes para realizar os seus desejos.

Mas não se esqueça de buscar em cada minuto de seus dias motivos de alegria e esperança, não se importando com as situações adversas que aparecerem.

Você deve escolher ser feliz e tornar isso possível com pensamentos positivos, otimismo, alegria e não perdendo nunca o entusiasmo pela vida e pelo amor.

Acredite que Deus sempre abençoa quem ama, quem é caridoso e quem faz da vida um momento de prazer. 
Título e Texto: Nelson Teixeira, Gotas de Paz, 27-11-2017

Charada (455)

Temos seis copos
alinhados. Os três primeiros
estão cheios de sumo
de laranja, e os três últimos
estão vazios.
Movendo apenas um copo,
como poderemos ordená-los
de modo a que fique
um cheio e um vazio 
de forma alternada?

QUIZ: Walter Gropius

Como se chamava a revolucionária escola de arte, desenho e arquitetura fundada por Walter Gropius?

A  – Escola Técnica Superior
B  – Bauhaus
C  – Academy of Fine Arts
D  – Technical University

domingo, 26 de novembro de 2017

Voile islamique à l'université: du marxisme à l’islamisme, ne pas rééditer aujourd’hui les erreurs d’hier


La peur de paraître « islamophobe » paralyse le corps professoral comme jadis l’accusation d’anticommunisme le paralysait face à des thèses marxistes.

Catherine Rouvier

En l’an 2000, quand une de mes étudiantes, couverte d’un sari d’un vert brillant, vint me demander si sa tenue traditionnelle me dérangeait, je lui assurai que non. J’étais heureuse que l’université méritât bien son nom. Des cours en amphi offerts à tous, tous les âges, tous les pays.

En 2013, pourtant, un professeur à Sciences Po Aix se plaignit officiellement du prosélytisme d’une étudiante voilée musulmane qui perturbait ses cours. Depuis, les plaintes se sont multipliées. La récente tribune de Céline Pina, dans Le Point, « contre l’entrisme islamiste à l’université » à propos de l’invitation de Houria Bouteldja à l’université de Limoges relance le débat.

Cet entrisme existe bien, et pas seulement dans « les cursus liés aux discriminations et à la diversité » mais aussi en troisième cycle de cursus plus classiques. Il prend sa source dans un paradoxe : habituellement soucieux de ne pas « discriminer » sur autre chose que sur des critères scientifiques, les membres des jurys de thèse en sont venus à considérer souvent que lorsque les « thésards » étaient d’un autre pays, d’une autre culture, si leur travail était inféodé à une idéologie ou une dictature, on pouvait fermer les yeux. C’est ainsi que des thèses défendant l’union indéfectible du politique et du religieux, du droit et de la charia ou « dé-coloniales » avant l’heure étaient soutenues…

Et à chaque fois se déroulait le rituel bien huilé d’un jury qui émettait sur les points les plus contestables des critiques argumentées, mais qui ne sanctionnait le manquement évident à l’objectivité qu’en évitant autant que possible la mention « très bien ».

Sans doute faut-il cesser cette indulgence coupable dans un contexte où les victimes expiatoires des crimes supposés de leurs ancêtres dans certains cas, de leur seule europeanité dans l’autre, se comptent désormais par centaines en France. De plus, ce qui pouvait être perçu comme un coup de pouce sans conséquence donné à des étrangers venus faire leurs études en France ne l’est plus lorsque les candidats sont originaires de ces pays mais français. Demain, ils seront ici attachés d’études et de recherche, maîtres de conférences et professeurs d’université.

Entre l’endoctrinement marxiste d’hier et l’actuel prosélytisme islamiste, il y a eu une période faste où la science semblait en voie de triompher de tout totalitarisme partisan ou religieux. Il faut donc soutenir la supplique de Cécile Pina contre toute consécration universitaire apportée à l’idéologie qui « contient en germe la mort des libertés réelles » car elle « pare de l’aura de l’intellectuel engagé celui qui trahit pourtant l’éthique scientifique ».

Le livre Soumission, de Houellebecq, fustige précisément celle des universitaires face à l’islam radical. De fait, la peur de paraître « islamophobe » paralyse le corps professoral comme jadis l’accusation d’anticommunisme le paralysait face à des thèses marxistes.
Ne retombons pas dans les erreurs d’hier.
Catherine Rouvier, Boulevard Voltaire, 26-11-2017

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