Cesar Maia
1. Numa reunião, anos atrás, quando se discutia nomeações, Brizola
pediu que se tomasse muito cuidado com os belos currículos sem atenção à
política e concluiu: "Na hora de uma crise, eles ficam com o currículo e
abandonam o partido e o governo".
2. Um político sênior do próprio PSDB fez esta lembrança ao
comentar o movimento emigratório na Casa das Garças, no Rio, dirigida e
coordenada por intelectuais do PSDB, quase todos grandes economistas.
3. Essa emigração ocorreu logo após as gravações e as imagens que
tratavam do caso do presidente do PSDB pedindo recursos ao dono da JBS para - segundo
ele - pagar seus advogados.
4. Certamente assustados com o impacto junto à opinião pública,
iniciaram o movimento imigratório em direção a um partido Novo, ou seja, sem
políticos. Internamente, o PSDB sofreu um estilhaçamento, a começar pela
participação no governo Temer, onde ocupava ministérios de grande destaque,
como Relações Exteriores e Cidades e Articulação Política.
5. Em seguida, surgiram os "Cabeças Pretas", ou seja, um grupo
que afirmava a renovação pela idade, por serem mais jovens e não terem cabelos
brancos. A auto identificação não poderia ser mais politicamente incorreta, ao
misturar a idade com as ideias.
6. O líder do PSDB na Câmara passou a fazer oposição ao governo e
pediu que a bancada de deputados votasse a favor da investigação ao presidente.
Nas duas vezes a bancada se dividiu quase numericamente ao meio. O presidente
da juventude do PSDB agregou à marca da juventude a expressão "de
esquerda".
7. As razões que apresentavam, justificando a participação no
ministério Temer, que estariam ali pelas reformas e não pelo governo, que de
início pareciam lógicas, também se esvaíram com declarações dos dirigentes de
cabelos de todas as cores, que no caso da Previdência Social não haveria
compromisso para votarem a favor, mesmo com uma reforma compactada.
8. A disputa pela presidência, que antecipava uma cisão no partido,
que poderia se tornar grave com as "janelas de março", foi resolvida
com a renúncia dos candidatos a favor da unificação em torno da presidência do
governador Alckmin. Ironizou um parlamentar tucano: Era natural. Com uma
possível vitória de Alckmin na eleição presidencial de 2018, todos queriam,
desde já, para no futuro, estar na foto ministerial e de tantas posições nas
administrações direta, indireta e fundacional.
9. A mídia saudou a decisão e tratou de cunhar as consequências:
"Isso é a unificação do Centro. Será que o Centro se resume a ter um
candidato do PSDB? E que Centro é esse, com tantos matizes desde já
apresentados? Um Centro como outra instância? Como meio caminho entre a direita
e a esquerda? Uma salada mista de ideias à direita e à esquerda? Ou uma
terceira via, tendo referência Anthony Giddens?
10. A emigração da "Casa das Garças" se deu por suas
ideias liberais ou pela gravação e vídeo do dinheiro justificado pelo
presidente do Partido? Ou como dizia Brizola: "Na hora da crise eles ficam
com seus currículos e abandonam o partido."?
11. Mas alguns intelectuais ficaram e clamam pela coerência de
semanas atrás. (Editorial do Estado de S. Paulo, 28) Em uma nota conjunta
publicada no fim de semana, o cientista político Bolívar Lamounier e os
economistas Edmar Bacha, Elena Landau e Luiz Roberto Cunha fizeram um apelo às
bancadas do PSDB na Câmara dos Deputados e no Senado para que os parlamentares
fechem questão a favor da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
287/2016, que muda as atuais regras de concessão de pensões e aposentadorias.
12. Mas, desde já, parlamentares comunicaram que não fecharão
questão com o projeto compacto do governo e até se propõem a apresentar um
projeto alternativo e, com ele, marcarem posição com seus 8,9% de deputados. Se
for para não aprovar, estarão somando seus 8,9% à chamada esquerda.
13. Aguardemos como Mateus 6:34 nos orientou: "Não vos
inquieteis pelo dia de amanhã, pois ele cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o
seu mal".
Título e Texto: Cesar Maia, 29-11-2018
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