Cristina Miranda
É proativo? Tem uma boa ideia
e vontade de criar negócio próprio? Então prepare-se para sofrer todos os dias
24h sobre 24h para aguentar sua empresa. É isso mesmo. Ser empreendedor em
Portugal não é para fracos. Além de capacidade física para superar tudo o que
lhe espera, gosto desmesurado pelo sofrimento, terá ainda de preparar os bolsos
para os assaltos fiscais. É que por terras lusas só quem for masoquista,
aguenta.
O sofrimento começa logo na
constituição do seu negócio. Vão-lhe exigir tudo e mais alguma coisa. Papeis,
papeis e mais papeis, burocracias aqui, mais burocracia ali. Se a sua ideia por
exemplo for a criação de um espaço para criar animais ou abrir um talho ou
indústria, saiba que as instalações que lhe vão exigir serão mais controladas que
o Hospital Francisco Xavier. Ah! pois… Ou pensa que é só chegar e construir com
qualidade um espaço? Naaaa… Isso é que era bom. Vai ter um sem fim de pareceres
e vistorias de várias entidades pelas quais terá de esperar, esperar, esperar…
Com alguma sorte, ao fim de um ano terá o alvará na mão. Repito: com alguma
sorte.
Depois, começa a batalha das
contratações de pessoal. Se pedir ao Centro de Emprego, é garantido que lhe vão
enviar muita gente. Mas prepare-se. Porque só por milagre conseguirá toda a mão
de obra que necessita e de qualidade. Porque a maioria, com subsídio de
desemprego, não vai querer prescindir da sua prestação social para o aturar
todos os dias das 8h às 18h. Só com a despesa que lhe vai dar de transporte,
vão-lhe fazer um manguito alegando que o salário inicial que lhe quer dar, não compensa
(em comparação com o subsídio). Claro que lhe vai dizer que esse salário poderá
vir a aumentar consoante o desempenho demonstrado. Mas isso de pouco lhe
servirá porque essa malta, habituada a ter tudo pelo Estado sem fazer nada, só
aceitará com proposta que garante “salário alto, muitas regalias e poucas
obrigações”.
Se conseguiu sobreviver a
estas duas etapas sem desistir pelo meio, então já é um grande resiliente e
está pronto para enfrentar o próximo GRANDE desafio: o assalto fiscal. Pois
é.
Por ser empresário será o
alvo preferencial de toda a classe política que o vai ver como presa
fundamental para alimentar a gula do Estado. E acredite que são mesmo
famintos. Se o governo que estiver no poder for social democrata vai ser comido
aos bocadinhos que é para não aleijar muito e poder continuar a alimentá-los.
Com impostos indiretos e diretos, vão lhe roubar mais de metade do seu rendimento,
mas vão fingir com pequenos apoios que o ajudam a manter-se de portas abertas e
prolongar a sua morte lenta. Mas se for socialista/comunista prepare-se para
ser devorado com uma dentada só. É que estes últimos detestam a sua classe e só
vão sossegar quando conseguiram sugar-lhe tudo quanto tem. Atrás do aumento de
um imposto virá mais outros tantos criados no momento para ir buscar mais e
mais dinheiro a quem o tem acumulado. Porque poupar é pecado capital. Se o seu
negócio não aguentar e morrer a seguir, pouco lhes importará. Depois de ficarem
com a riqueza que criou, vão obrigá-lo a tornar-se dependente do Estado para
que assim se torne mais controlável e não venha a ter mais poder que eles no
governo, entendeu?
Vá… mas não desanime. Ser
empreendedor em Portugal é um grande desafio de uma vida. Daquelas
experiências inesquecíveis do tipo escalada ao Evereste que põe à prova os
limites do ser humano. Só os muito resistentes lá chegam, mas quando
chegam tem um sabor a vitória que em nenhuma parte do Mundo é igual.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
17-11-2017
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