Telmo Azevedo Fernandes
Há bastante tempo,
provavelmente desde José Sócrates, que não assistíamos a tamanho despautério e
desfaçatez por parte de um líder de governo num ataque feroz à liberdade de
expressão e de imprensa.
Mascarado de sorrisos e finório discurso, Luís Montenegro [foto] veio afirmar que as redes sociais são inimigas da Democracia. Ora, as redes são por definição compostas por conteúdos alimentados pelas pessoas que utilizam o Facebook, o Twitter e outras plataformas. Ou seja, Montenegro acha que, no fundo, o povo é inimigo da Democracia. É um conceito canalha, mas partilhado por uma grande parte da classe dirigente e privilegiados urbanos fazedores de opinião, nomeadamente por jornalistas sabujos que se notabilizam pela profanação dos mais elementares princípios deontológicos.
(Ver vídeo com declarações de
Luís Montenegro a partir do 1m05s, aqui.)
A coberto da distração com a
novela deprimente das negociações do orçamento de Estado, e sem um pingo de
vergonha na cara, o governo apresentou no pardieiro de um evento promovido pela
CNN o chamado «plano
de ação para a comunicação social», mas que, verdadeiramente, não passa
de uma forma de torrefação de milhões de euros para amansar e colher simpatias
junto da comunicação social; de uma forma de outorgar a jornalistas tornados
operacionais do governo o poder de vigilância e censura nas redes sociais sobre
o que quem manda arbitrariamente considere e defina ser “desinformação”; e de
um novo meio para desviar dinheiro de todos os contribuintes subsidiando a
assinatura de jornais falidos porque, sensatamente, ninguém quer ler pasquins.
Ao contrário do que diz ser a sua intenção, o governo pretende ter maior interferência e controlo das notícias que saem para o espaço público. É uma subversão da Democracia e um aprofundar de uma sociedade cada vez mais fechada.