Se o Brasil está rasgado entre
"nós" e "eles", foi o PT quem empunhou a faca. E Lula quem
a afiou
Rafael Nogueira
Há quem diga que a polarização
no Brasil nasceu com o bolsonarismo em 2018. Essa lenda, repetida com devoção
por jornalistas, acadêmicos, militantes e ingênuos, é falsa. Tudo ia bem, até
que um ogro apareceu, tomou o Planalto, e foi cortar ao meio os homens de boa
vontade. A explicação, como quase todas as facilidades históricas, está errada.
A polarização não começou com
as redes sociais, as fake news ou o WhatsApp da tia conservadora. Mas com uma
retórica moralista, binária, agressiva e messiânica se firmou já nos primeiros
dias desta Nova República, sobretudo pelo Partido dos Trabalhadores. Se o
Brasil está rasgado entre "nós" e "eles", foi o PT quem
empunhou a faca. E Lula quem a afiou.
Veja só: em 1988, embora tenha
participado da Constituinte, Lula orientou voto contra a Constituição, alegando
que ela não era "do povo", mas das elites. Mesmo repleta de promessas
que até hoje asfixiam governos, a Carta não era suficientemente vermelha.
Nos anos 90, o PT refinou sua exploração do ressentimento. Contra FHC, os ataques eram "neoliberal", "entreguista", "responsável pela herança maldita", e todos os "–istas" que o leitor conhece. O PSDB, partido social-democrata de classe média, foi convertido em inimigo mortal. O debate político deixava de ser disputa de ideias para se tornar embate violento.
No poder, o PT dobrou a
aposta. Aos poucos, sua bandeira da Ética já não tinha mais razão de ser:
escândalos de corrupção brotavam em série. E a ideia de que o povo prosperava
por causa do PT soçobrou com a economia em frangalhos para aflição dos mais pobres
e alegria de parceiros ricos que ficaram ainda mais ricos.
Em 2009, Lula celebrou que não
haveria mais "candidato de direita". A democracia, segundo ele,
amadurecera. Maturidade, aqui, significava extinção da divergência.
A relação com ditaduras de
esquerda e organizações como o Foro de São Paulo se tornou programa de governo.
Marilena Chaui, em auditório lotado, gritava seu "ódio à classe
média". Lula, condenado, ameaçava mobilizar o "exército do Stédile".
Para quem não lembra, Stédile liderava o MST, que teria sua milícia. A máscara
democrática caíra. Restava o lulo-leninismo: ou você é o povo, ou é inimigo do
povo.
O PT substituiu a clivagem
"ditadura versus democracia" por "povo (PT e seus aliados)
versus elite (todo o resto)”. E colheu os frutos. A busca por hegemonia, enfim
realizada, transformou-se em projeto de extermínio simbólico.
Mas o antipetismo cresceu.
Começou como crítica, transformou-se em revolta, e daí veio 2013. A bandeira
nacional, jogada na rua pelo petismo sem pátria, voltou a ser içada com orgulho
pelos excluídos da política tomada pelo modo PT de ser.
Sobrava causa, faltava
organização. Não havia um centro. Faltava alguém carismático e suficientemente
forte para enfrentar o monstro que tinha tudo:
dinheiro, militância, servidores, imprensa amiga, instituições aparelhadas etc.
E veio o líder.
O Brasil não se dividiu porque
Bolsonaro apareceu. Bolsonaro apareceu porque o Brasil já estava dividido. É
bom lembrar: em junho de 2018, o TSE propôs um pacto contra fake news. Quase
todos os partidos assinaram, inclusive o PSL, à época o partido de Bolsonaro. O
PT, presidido por Gleisi, recusou-se a assinar.
O bolsonarismo foi o grito de
quem estava sendo calado havia tempo demais. E não há nada mais democrático do
que o direito de não apanhar em silêncio. A crença infantil e perigosa de que
só a esquerda tem o monopólio da virtude e de tratar o resto como caso de
polícia é o pecado original da Nova República.
Título e Texto: Rafael
Nogueira, O Dia, 9-7-2025; Arte: Paulo Márcio
"Como advogado e cidadão brasileiro, recuso a covardia da neutralidade"
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