Humberto Pinho da Silva
Não sei se os leitores, se
os tenho, têm conhecimento da minha idade provecta e da saúde que, dia a dia,
vai diminuindo, tanto física como mental. A memória nunca foi boa, mas
atualmente prega-me partidas desagradáveis... Para não lembrar a visão.
Em "Enfermaria do Idioma" Araújo Correia cita Cândido de Figueiredo (O que se não deve dizer) e transcreve o seguinte:
"Confesso que não é
sem alguma repugnância que contribuo com uma pedra para o edifício interminável
das regras gramaticais. Porque a verdade é que, se alguma coisa conheço da
língua do meu país, não a devo aos compêndios de gramática, e mal-avisados
andam os que supõem ficar sabendo português, depois de conhecer e estudar todas
as gramáticas desta língua, dos escrevedores que mais pecam contra a pureza, a
correção e os direitos da nossa língua, raro será o que não tenha estudado uma
gramática escolar, mas nenhum deles estudou português.
Antes das gramáticas,
existiu a língua, e as gramáticas apenas procuraram metodizar as regras que se
podem deduzir da prática dos que bem escrevem.
Esta prática é a base do verdadeiro conhecimento da língua; mas, no tempo de agora, lê-se pouco e mal; afora a leitura francesa, lêem-se de preferência, em português, exatamente os escritores que menos autoridades podem ter em assuntos de boa linguagem. Em geral, os meus contemporâneos não têm pachorra para compulsar alfarrábios bolorentos, que são às vezes bons repositórios da nossa linguagem portuguesa. Mas nem por lhes escassear pachorra para estudar velharias, eles ficariam privados de saber português se tal saber os interessaria deveras.
Os que nem sequer têm
coragem e o bom gosto de ler e reler, ao menos, Camões, Tomé de Jesus,
Bernardes, Sousa e Vieira, podem, em alguns escritores do século findo, colher
lição proveitosíssima. A questão é que eles queiram ler, com olhos de ver, as
obras de Castilho, de Herculano, de Latino e a maior parte das de Camilo.
Quem conhecer deveras
estes escritores pode gabar-se de conhecer a sua língua, e pode dispensar todas
as gramáticas existentes e passíveis.”
Concluo com outra do Mestre Cândido Figueiredo, em ”Falar e
Escrever":
"Não confundir o
português com a gramática. Inda não havia gramática, e já havia língua
portuguesa."
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, julho de 2025
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