segunda-feira, 28 de julho de 2025

O juiz que teme a luz

Walter Biancardine 

Em apenas uma semana o Ministro Alexandre de Moraes proibiu o funcionamento de comissões do Congresso Nacional, cerceou manifestações pacíficas diante da Praça dos Três Poderes e, como se tudo isso fosse pouco, exilou-se discretamente na Embaixada do Brasil em Roma – longe dos holofotes, dos hotéis luxuosos que sempre frequentou, e, ao que tudo indica, também da própria consciência.

Não há exagero algum aqui. Trata-se de uma sucessão de atos que, se cometidos por um presidente ou um general, renderiam manchetes internacionais sobre um golpe em andamento. Mas quando o protagonista é um Ministro do Supremo, a narrativa vira “cautela institucional”.

Ora, sejamos sérios. Há algo profundamente errado – não apenas no plano jurídico ou político, mas psicológico. O Brasil assiste hoje à consolidação de um modelo de magistrado que já não julga, mas reage. Que não interpreta a Constituição, mas a molda ao sabor de seus afetos. Que não defende a lei, mas defende-se do povo. 

O medo como critério de governo

Hospedar-se na Embaixada – e não num hotel, como sempre fez – seria apenas um detalhe protocolar se não fosse um sintoma claro de evasão emocional. Um juiz que foge da rua, das câmeras, das pessoas e da vida real já não é juiz: é refém da própria paranoia.

E essa paranoia tem nome: perda de controle. O veto às manifestações populares, a censura preventiva, o silenciamento de parlamentares, tudo isso é uma tentativa desesperada de manter o verniz de ordem sobre uma alma em colapso.

Quem tudo teme, tudo proíbe. 

O império da vaidade

Mas a cereja podre desse bolo autoritário foi outro detalhe revelador: Moraes adulterou um despacho jurídico após publicá-lo, apenas para corrigir mais um de seus últimos e constantes erros de português. O que se vê aí não é zelo técnico, mas orgulho ferido. Não foi a clareza que o motivou, foi a vaidade e o desejo de encobrir sintomas preocupantes.

E é justamente isso que transborda no comportamento do Ministro: a vaidade do demiurgo ferido, do pequeno deus de toga que já não quer apenas ser respeitado, mas adorado. Quando os atos de um juiz são movidos não pela razão, mas pela aflição de parecer ignorante, estamos diante de uma figura que perdeu o senso da própria missão. Já não se senta na cadeira da Justiça, mas no trono do Ego. 

Sintomas observáveis (hipotéticos, mas fundamentados em comportamento público)

• Delírios de infalibilidade: A correção extemporânea de erros grotescos de português, não por humildade, mas para preservar a aura de infalibilidade, aponta para um ego em colapso que precisa constantemente remendar a realidade para sustentar sua própria mitologia.

• Comportamento evasivo: A escolha de se instalar na Embaixada do Brasil em Roma – e não num hotel, como sempre fez – revela um estado de alerta constante, quase persecutório. Ele teme ser filmado, seguido, gravado, até mesmo ridicularizado. Não se trata de segurança institucional, mas de autoproteção emocional.

• Hostilidade prévia contra o povo: O veto às manifestações pacíficas indica uma profunda desconfiança da população. Não apenas não a tolera: teme o contato direto com a pulsação popular. O povo, para ele, é uma entidade perigosa e volúvel, incapaz de entender a “complexidade jurídica” da Nova República Judiciária.

• Excesso de controle compensatório: O bloqueio ao funcionamento de um poder autônomo (o Congresso) é ato típico de quem perdeu o controle interno de si mesmo. Ele precisa – desesperadamente – controlar o mundo externo. A perda da própria bússola moral se compensa com autoritarismo explícito. 

Juiz ou César?

O problema, portanto, já não é apenas institucional. É clínico. O comportamento atual de Alexandre de Moraes denuncia sinais de um transtorno de grandiosidade com traços persecutórios. Ele não apenas se vê como o único capaz de salvar a democracia – ele acredita que todos os demais são excessivamente perigosos ou fracos para exercer o poder que lhes foi conferido.

Ao corrigir seus próprios erros de português num despacho oficial – não por clareza, mas para não parecer ignorante – o Ministro revela tudo. Não é mais a Constituição o que ele protege, mas a imagem no espelho. A correção do erro gramatical é o detalhe tragicômico de um personagem que passou a adulterar até mesmo o passado, para manter intacto o mito de si mesmo.

E quando um homem se torna prisioneiro de sua própria imagem, ele está inabilitado para qualquer cargo que exija discernimento, humildade e senso de limite. 

A toga virou manto

Está claro: Alexandre de Moraes já não está em condições emocionais e psicológicas de exercer seu cargo. Sua permanência no Supremo Tribunal Federal compromete a credibilidade da instituição, alimenta o ressentimento social e sufoca as vias naturais da democracia. Ele age como quem julga o Brasil, mas já não escuta mais ninguém – nem a própria razão.

O juiz virou censor, a toga tornou-se manto sacerdotal e o tribunal, um púlpito de exorcismo contra a liberdade.

De tudo isso, resta uma constatação amarga, porém necessária: quando um magistrado começa a temer a própria sombra, é porque já perdeu o direito à luz.

Título, Imagem e Texto: Walter Biancardine, ContraCultura, 27-7-2025 

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