sexta-feira, 25 de julho de 2025

[Aparecido rasga o verbo] O degradante martírio da degolação

Aparecido Raimundo de Souza

“Eu venho de uma Loja de São João, Justa e Perfeita”.
(do livro “Ritual Maçônico” de Sérgio Almada”.

HOJE FALAREI de São João Batista um santo que foi degolado por ordem do rei Herodes Antipas, como relatam os evangelhos. Introduzi na história alguns personagens do nosso grande circo armado no Planalto Central, para não deixar o texto com o semblante sisudo e fedendo a estrume e, em face disso, as pessoas se debandarem. Espero, sinceramente, que os meus amados e queridos leitores entendam o espírito trazido em pauta e não me levem a mal. Vamos lá. Tudo começou por conta de São João Batista, haver criticado publicamente o rei Herodes Antipas, (em dias de hoje, bem a calhar, a figura de Alexandre de Moraes) por viver com Herodíades, esposa de seu irmão, o que causou grande escândalo, maior até que as putarias do assombrado 8 de janeiro. Durante uma festa, a filha de Herodíades, a sapeca e arruaceira Salomé, incorporada do espírito da cantora Gretchen, dançou para Herodes completamente pelada, e, como recompensa, pediu, instigada pela mãe, a cabeça de João Batista numa bandeja.

Pois bem! Essa cena dramática influenciou muitos artistas ao longo dos séculos, incluindo o brasileiro Benedito Calixto de Jesus, que pintou “A Degolação de São João Batista” em 1924. A obra é um óleo sobre tela de grandes dimensões (230 x 175 cm) e está na Igreja Matriz de São João Batista, situada na rua Capitão Bento Rangel número 160, Centro de Bocaina, São Paulo. Ela retrata o momento da entrega da cabeça do santo, com uma composição que mistura solenidade e dor, coisas típicas da arte sacra. Na monumental pintura do mestre Benedito Calixto, o drama é retratado com intensa expressividade e cuidado composicional. Repetindo o já dito acima, a obra tem dimensões impressionantes (230 x 175 cm). Para se ter uma ideia, a tela domina o espaço da Igreja Matriz de São João Batista, revelando aos observadores um momento carregado de muita tensão espiritual e teatralidade.

Ao centro, se destaca o corpo decapitado de São João Batista, envolto em luz tênue que ressalta a sua serenidade, mesmo diante do martírio que lhe foi imposto. Ao lado, o algoz segura a caneta, perdão, a espada ensanguentada, com olhar sombrio e postura rígida, simbolizando a brutalidade da execução. A figura de Salomé, elegantemente vestida, lembra a intrépida e tresloucada Canja, perdão, sanja, a esposa assobrerjética e camaliosa, ou pior, esquisita e sem sal do nosso querido e amado “presidiariodente” Gula, perdão, Mula. A Primeira Cama —, desculpem a gafe —, eu quis dizer “Dama,” observa a cena com expressão fria, enquanto segura a bandeja onde repito, repousa a cabeça do santo, grosso modo, o ponto focal do quadro. Herodíades, ao fundo, é envolta por sombras que sugerem malícia e manipulação. A paleta cromática, composta por tons terrosos e sombrios, reforça o clima de tragédia e penitência, enquanto o uso dramático da luz cria contrastes marcantes entre o divino e o terreno. Cada personagem carrega uma carga simbólica que remete ao embate entre a pureza espiritual e as perversões humanas.

Imbuído nesse tom magnânimo, o pintor Calixto utilizou elementos da estética acadêmica e da tradição barroca brasileira para narrar esse episódio bíblico com intensidade emocional e profundidade visual. O resultado culminou numa obra que não apenas retrata um evento ignominioso, mas convida à contemplação e à reflexão sobre o “sacrifício e a injustiça.” Apenas lembrando, a título de exemplo, “sacrifício e injustiça” são duas desgraças infames que imperam na cidade onde alguns imbecis idiotizados insistem em chamar de “Berço das Grandes Decisões Nacionais”. O correto seria “Berço das Grandes Indecisões e Falcatruas Nacionais.” Cairia melhor, em todos os sentidos. Benedito Calixto de Jesus foi, sem dúvida alguma, um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX. Nascido em Itanhaém, São Paulo, em 14 de outubro de 1853, o artista começou a desenhar ainda criança, revelando desde cedo um talento incomum. Autodidata, iniciou sua carreira como retratista e paisagista, pintando cenas do interior paulista e do litoral, com especial atenção à cidade de Santos, que lhe serviu de afervoramento por muitos anos.

Entre suas obras mais impactantes poderiam ser destacadas, “A Degolação de São João Batista (1924)” [foto]; a “Inundação da Várzea do Carmo (1892)”; o “Retrato histórico da cidade de São Paulo”; o “Retrato de Dom Pedro I (1902)”; “A Fundação de Santos,” — Um pano de fundo monumental na Bolsa do Café Praia de Itararé, em São Vicente (1905)”; e O Poema de Anchieta, datado de (1900).” Não podemos deixar de lado os “Afrescos na Igreja da Consolação e na Catedral de Ribeirão Preto”, além das pinturas. Calixto também foi fotógrafo, historiador, escritor e cartógrafo. Publicou vários livros, com destaque para “A Vila de Itanhaém (1895)” e “Capitanias Paulistas (1924)”, entre outros. O itanhaence Benedito Calixto foi casado com sua prima Antônia Leopoldina de Araújo e teve três filhos: Fantina, Sizenando e Pedrina. Seu filho Sizenando e seu neto João Calixto de Jesus seguiram seus passos na pintura. Calixto veio a óbito em São Paulo, em 31 de maio de 1927, na casa de Sizenando, vítima de um infarto, enquanto buscava materiais para concluir duas telas encomendadas pela Catedral de Santos.


Todo seu legado é mantido vivo pela “Pinacoteca Benedito Calixto,” em Santos, que abriga boa parte de suas obras e promove atividades educativas. Em 1924, foi agraciado pelo Papa Pio XI com a “Comenda da Ordem de São Silvestre,” em reconhecimento à sua contribuição à arte sacra. Faleceu em 31 de maio de 1927, aos 73 anos, na cidade de São Paulo, vítima de um infarto. Ele estava na casa de seu filho Sizenando, onde havia ido para comprar materiais com o objetivo de concluir duas telas encomendadas pela Catedral de Santos. Seus restos mortais foram sepultados no cemitério do Paquetá, em Santos, em jazigo perpétuo doado pela prefeitura. Além do seu quadro “A Degolação de São João Batista,” existe um conjunto de 13 telas sacras pintadas por ele, entre 1924 e 1925, nos últimos anos de sua vida. Uma pequena curiosidade. Foi o próprio Benedito que idealizou a decoração dessa famosa Capela, incluindo os lustres inspirados nos candelabros do Palácio de Versalhes, os vitrais belgas e as colunas pintadas para imitar o mármore.

A cidade de Bocaina está localizada no interior do estado de São Paulo, cerca de 300 km da capital. É um município pequeno, com 15 mil habitantes, conhecido por sua arquitetura preservada do início do século XX e por ser chamada de a “Capital da Luva de Raspa,” devido à produção de equipamentos de proteção individual. As informações aqui trazidas são baseadas em dados amplamente acessíveis encontráveis em domínio público, como registros históricos, biografias conhecidas, acervos de museus e igrejas, fontes acadêmicas e sites oficiais — tudo, obviamente com o objetivo ímpar de ajudar os leitores da “Grande Família Cão que Fuma” a ficarem por dentro de fatos importantes da nossa história. Principalmente os jovens adolescentes que estão ingressando na idade adulta, aliás, uma fase tão conturbada em que vivemos, onde os celulares e os programas televisivos só produzem sinopses e croquis insípidos, produções que trocadas por um monte de lixo, vale mais chorar diante do corpo de um cavalo morto, lembrando, em resumo, no dizer de Ariano Suassuna, “um cavalo morto, sem dúvida alguma é um animal sem vida.”

Por derradeiro, devemos deixar esclarecido que demais informações biográficas sobre a vida e a obra do vultuoso pintor, Benedito Calixto foram obtidas de acervos públicos e registros históricos (como a Pinacoteca Benedito Calixto, Instituto Itaú Cultural, Wikipédia, arquivos da Igreja Matriz de São João Batista, em Bocaina, interior de São Paulo e no Livro sobre a “Vida e obra de Benedito Calixto.” do escritor bocainense Lívio Dutra de Aguiar, pela “Editora Independente” publicado em janeiro de 2014). Logicamente, como não poderia deixar de ser, em todas as redes sociais existentes. Bocaina fica próxima das cidades de Jaú, Araraquara e Bauru.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 25-7-2025

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