quarta-feira, 16 de julho de 2025

Estado de Exceção

Arte: Paulo Márcio
Rafael Nogueira

Será um dia triste (mais um) quando a nova tarifa imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros entrar em vigor. A carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos ao governo brasileiro foi um ato calculado, com exigências muito claras e prazos definidos. Os desdobramentos em falas públicas, comunicados, publicações em redes sociais, ajudam a entender seu real significado. Sabe aquele jeito sutil de dizer “tô de olho”? Pois é. O presidente da maior democracia do mundo está incomodado com os donos da nossa.

A resposta até agora foi um surto súbito de soberania nacional. Gente que sempre sonhou com um Brasil sem fronteiras, com UNASUL, e ontem mesmo falando em moeda nova, agora se ajoelha no altar da independência. Gritar “soberania” não vai livrar ninguém de pagar imposto. E pior: começaram a culpar Eduardo Bolsonaro.

Eduardo saiu do país não por turismo ou fuga voluntária, mas com um pé na cadeia. Em Washington, fez o que qualquer parlamentar digno de seus votos (e ele tem muitos) faria: denunciou os abusos que deformam a democracia brasileira, com exílios, prisões e abusos que já custaram a vida de brasileiros inocentes. Coisas que o mundo finge que não vê, talvez porque só receba de nós as versões da imprensa amiga – aquela que transforma perseguidor em paladino da lei.

Disse o que qualquer líder decente diria: milhares de brasileiros estão sendo perseguidos por meio de subterfúgios narrativos, em que mídia e Judiciário moldam a realidade ao gosto do regime. E sugeriu sanções seletivas, voltadas aos verdadeiros responsáveis, não ao povo.

Mas deveria ser óbvio: Eduardo não manda em Trump. Pode ser ouvido, mas o presidente americano decide com base em relatórios estratégicos, diplomáticos, comerciais, de inteligência, cujo conteúdo sequer imaginamos. A decisão é dele, conforme os interesses dos EUA.

Enquanto isso, Lula e seus aliados vinham seguindo seu projeto revolucionário e internacionalista de sempre.

O Foro de São Paulo não é teoria da conspiração: é organização real, fundada por Lula e Fidel em 1990. Suas atas estão disponíveis para quem sabe ler. Ali estão os compromissos com Chávez, Evo, Correa, Ortega. Na prática, os governos petistas financiam ditaduras, ofendem Israel, flertam com Hamas e buscam, via BRICS, criar um contrapeso à OTAN. Isso é nacionalismo ou é o velho sonho de dissolver a brasilidade pela integração socialista latino-americana com sede em Brasília?

E o STF, ironia suprema, virou guardião dessa distopia. O ministro Barroso, agora presidente da casa, assinou uma carta dessas que começam falando de democracia e terminam avisando que discordar é crime. É, na verdade, uma manifestação de apoio a Alexandre de Moraes, o ministro sobre quem recaem as mais graves suspeitas de abuso de poder. Fala-se ali em devido processo legal. Em liberdade. Em democracia.

Mas como conciliar essas palavras com advogados sem acesso aos autos, prisões preventivas eternas, julgamentos que atropelam instâncias e acusações grotescas, como a que recaiu sobre Filipe Martins, preso por uma viagem fantasma. Não foi, mas dizem que foi. “Teje preso”.

Martins, aliás, é exemplo vivo de dignidade: recusou-se a inventar delações para se salvar e está preso até hoje. Um rapaz corajoso, culto e patriota – o oposto dos que hoje envergonham a pátria.

E ainda lemos na carta que seria “inadmissível” falar em impeachment de ministro ou questionar o sistema eleitoral. Desde quando pedir transparência e confiança no sistema virou crime? Desde quando duvidar virou ameaça?

Vamos ao que interessa: o Brasil já não é uma democracia. Vivemos um Estado de Exceção. Envergonhado, é verdade. Um regime que ainda organiza eleições, mas pune opositores. Que ainda tem imprensa, mas silencia dissidentes. Que ainda fala em Constituição, mas pisa em suas cláusulas.

Não esqueçamos: Bolsonaro perdeu por pouco. O país está dividido ao meio. E pelo menos metade dos brasileiros é tratada como ameaça à democracia. Se quisermos evitar dias ainda piores, com preços extorsivos, desemprego crônico e uma saraivada de sanções internacionais, o caminho é um só: parar de fingir que está tudo bem. Restaurar o devido processo legal. O Estado Democrático de Direito. O jogo limpo. E deixar Bolsonaro disputar eleição. Se perder, perdeu. Se ganhar, ganhou. Isso se chama democracia.

Caso contrário, meu amigo... O preço virá. E virá em dólar.

Título e Texto: Rafael Nogueira, O Dia, 16-7-2025

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