Aparecido
Raimundo de Souza
NO “ÂMAGO”
do meu coração, moram muitas e muitas histórias não contadas, menos ainda
escritas ou divulgadas. Também é nele que residem, em teto cativo, os sonhos
desfeitos e as esperanças renovadoras. Principalmente as renovadoras. Por conta
disso, é o “âmago” do meu coração, um lugar sagrado, onde o silêncio fala mais
alto que mil palavras. Cada batida, amplia a sua linha de ação em socorro às
minhas mazelas e necessidades mais prementes. Desta forma, cada pancada ressoa
forte com ecos de memórias passadas, contudo, sem jogar para longe ou sem tirar
da minha beira, o foco da paz tranquilizadora que me sustenta.
Ao lado,
igualmente escondido na minha alma (num lugar que somente eu tenho acesso), as
lágrimas arfam de pasmo e quando resolvem brotar, agem em comum acordo num
gesto franqueador com o meu estado de espírito. Instauram, para tanto, uma
variante de acesso restrita. Com isto, carregam mais sorrisos que tristezas.
Cada uma que rola, rosto abaixo, leva na sua partida, como uma força mítica, a
doce candura de uma lição aprendida. O amor que se esvaiu pelos caminhos onde
andei sempre deixam espaços para um novo querer, ou um gostar mais acautelado e
maduro, mais cordato e consciente.
Neste
contrário, tomo plena e consciente ciência, de que a dor é uma espécie de
núcleo embaraçoso e angustiante, desinquieto e consternado. Por agora, apenas
reflete a paradoxidade da outra face oculta da alegria, ou seja, aquele rosto
que me faz bem. A saudade, mesmo lado, é o preço justo que pago pelas ocasiões
que se ostentam inesquecíveis. Aprendi mais, e, hoje sei, cada cicatriz me
ajudou a desenhar e construir um mapa limpo e cristalino das sendas e vias que
percorri deixando de lado as tentativas de hospedar a atenção das fraturas que
me faziam um grande mal. Sobrevivi as intempéries.
Por
conseguinte, cada escolha feita me trouxe até aqui. Cheguei são e salvo, sem os
pesadelos dos fantasmas que insistiam em me deixar às raias das desgraças
anunciadas. Ou bem ou mal, todo o quadro lúgubre pelo qual passei, me mostrou
uma nova perspectiva de recomeço. O avesso do meu coração é hoje um mosaico de
tudo o que vivi, ou melhor, de tudo o que passei, tipo assim, tal e qual um
pedaço de tecido feito de pequenos e insignificantes retalhos que redundaram em
uma explosão de experiências construídas e costuradas com as linhas rígidas e
fiéis da melhor forma de austeridade e superação.