quinta-feira, 30 de maio de 2024

[Daqui e Dali] Achegas sobre a emigração portuguesa no Brasil

Humberto Pinho da Silva

Em meados do século XIX o Rio de Janeiro fervilhava de emigrantes portugueses, esperançados de encontrarem a "árvore das patacas".

Os mais pobres iam em navios negreiros, na condição de pagarem a viagem ao engajador, com dinheiro obtido no trabalho que conseguiam em fazendas.

Muitos morriam devido a maleitas; outros, por excesso de trabalho, quase escravo.


A deplorável situação chegou a ser ventilada na segunda metade do século XIX, em Pastoral, escrita pelo Arcebispo de Braga, avisando os mancebos do perigo de serem enganados pelos angariadores; mas, raros foram os que escutaram os sensatos conselhos.

Em 1879, narra Silva Pinto, que encontrou Rafael Bordalo Pinheiro, junto do teatro D. Pedro, no Rio, em que o notável artista contou os horrores que passou no Brasil. Embarcara cheio de ilusões em 1875, na época era ilustrador do Lanterna Mágica", publicação lisboeta.

Regressou três anos depois, descorçoado, com mulher e filha, após ter sido injuriado e ver o gabinete de trabalho, na Rua do Ouvidor, assaltado por populares, sem ter recebido proteção da polícia, nem do Consulado Português!

Segundo a "Caixa de Socorros de D. Pedro V", fundada no Rio de Janeiro, de 1861 a 71, havia no Rio 49.610 emigrantes portugueses. A "Caixa" repatriou 4.000, e faleceram, durante esse período, 11.000. É desconhecida a situação dos que foram trabalhar para o interior.

Os repatriados chegavam a Portugal desiludidos, ainda mais pobres do que partiram.

No livro "No Brasil", Silva Pinto relata a chegada de paquete francês a Lisboa, com vinte passageiros, vindos do Brasil: "Só dois obtiveram fortuna – o primeiro alugando escravos ao mês; o segundo (uma mulher,) alugando-se diariamente. Os restantes (...) chegaram doentes, arruinados e cheios de dívidas".


O invés, parece acontecer agora aos imigrantes que chegam a Lisboa, com a cabeça cheia de fantasias, (alguns de dupla nacionalidade).

Vasco Malta, Chefe da Missão em Portugal, da Organização Internacional das Migrações (OIM), tem ajudado muitos imigrantes a regressarem à terra natal. Brasileiros foram 1.831, desiludidos por não terem conseguido trabalho, nem casa. Alguns encontravam-se na mais esquálida miséria.

Repete-se, infelizmente, em pleno século XXI, a História e as histórias dos portugueses no século XIX e XX no Brasil.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, maio de 2024

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