Humberto Pinho da Silva
Em meados do século XIX o Rio de Janeiro fervilhava
de emigrantes portugueses, esperançados de encontrarem a "árvore das
patacas".
Os mais pobres iam em navios negreiros, na condição
de pagarem a viagem ao engajador, com dinheiro obtido no trabalho que
conseguiam em fazendas.
Muitos morriam devido a maleitas; outros, por excesso de trabalho, quase escravo.
A deplorável situação chegou a ser ventilada na
segunda metade do século XIX, em Pastoral, escrita pelo Arcebispo de Braga,
avisando os mancebos do perigo de serem enganados pelos angariadores; mas,
raros foram os que escutaram os sensatos conselhos.
Em 1879, narra Silva Pinto, que encontrou Rafael
Bordalo Pinheiro, junto do teatro D. Pedro, no Rio, em que o notável artista
contou os horrores que passou no Brasil. Embarcara cheio de ilusões em 1875, na
época era ilustrador do Lanterna Mágica", publicação lisboeta.
Regressou três anos depois, descorçoado, com mulher e filha, após ter sido injuriado e ver o gabinete de trabalho, na Rua do Ouvidor, assaltado por populares, sem ter recebido proteção da polícia, nem do Consulado Português!
Segundo a "Caixa de Socorros de D. Pedro V",
fundada no Rio de Janeiro, de 1861 a 71, havia no Rio 49.610 emigrantes
portugueses. A "Caixa" repatriou 4.000, e faleceram, durante esse
período, 11.000. É desconhecida a situação dos que foram trabalhar para o
interior.
Os repatriados chegavam a Portugal desiludidos,
ainda mais pobres do que partiram.
No livro "No Brasil", Silva Pinto relata a chegada de paquete francês a Lisboa, com vinte passageiros, vindos do Brasil: "Só dois obtiveram fortuna – o primeiro alugando escravos ao mês; o segundo (uma mulher,) alugando-se diariamente. Os restantes (...) chegaram doentes, arruinados e cheios de dívidas".
O invés, parece acontecer agora aos imigrantes que
chegam a Lisboa, com a cabeça cheia de fantasias, (alguns de dupla
nacionalidade).
Vasco Malta, Chefe da Missão em Portugal, da
Organização Internacional das Migrações (OIM), tem ajudado muitos imigrantes a
regressarem à terra natal. Brasileiros foram 1.831, desiludidos por não terem
conseguido trabalho, nem casa. Alguns encontravam-se na mais esquálida miséria.
Repete-se, infelizmente, em pleno século XXI, a
História e as histórias dos portugueses no século XIX e XX no Brasil.
Título e Texto: Humberto Pinho da
Silva, maio de 2024
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