O desempenho dos voluntários que socorreram
o Rio Grande do Sul e a aparição dos aproveitadores de tragédias estão entre os
destaques desta edição
Oito dias, mais de 20 horas na
estrada e 50 entrevistas depois, Tauany voltou à redação de Oeste com a bagagem
ampliada por uma coleção de histórias que ajudam a visualizar as causas e as
consequências da catástrofe. As mais relevantes estão agrupadas na reportagem
de capa desta edição. Trata-se do mais revelador relato da atuação dos
incontáveis voluntários no socorro ao Rio Grande do Sul, que fortaleceram ainda
mais a unidade nacional.
Entre outros fatos, chamou a atenção de Tauany a agilidade com que civis se mobilizaram para a materialização de um milagre logístico: colocar em funcionamento, em curtíssimo prazo, um tipo de operação que os governos demoram meses para esboçar. Sem os voluntários, o número de mortes teria sido maior, faltariam abrigos para as vítimas, e os alimentos não chegariam a tempo.
É verdade que, mais uma vez, a
tragédia mostrou o lado escuro da humanidade. Assim, coube aos voluntários
lutar também contra os assaltantes de casas despovoadas pelas águas e até deter
tentativas de abuso sexual. Taunany viu com alguma frequência grupos de civis
armados que tentavam substituir um esquema de segurança que naufragou nas águas
do Guaíba. Numa das casas em que esteve hospedada, seguranças armados foram
contratados pelos próprios voluntários para manter os criminosos do lado de
fora e garantir que nenhuma das doações recebidas fosse roubada. A escalada de
violência na capital gaúcha é o tema da reportagem de Sarah Peres.
Previsivelmente distantes do
mundo real, os governantes enxergam a paisagem que lhes convém. Antes que as
chuvas chegassem, a história do Brasil mencionava três governadores-gerais:
Tomé de Sousa, Duarte da Costa e Mem de Sá. Tornaram-se quatro depois que Lula
resolveu premiar o companheiro Paulo Pimenta, secretário da Comunicação Social
da Presidência da República, com um exotismo oportunista: a Secretaria
Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. Escolhido para
chefiá-la, Pimenta assumiu imediatamente a pose de governador geral do Sul. Até
agora, providenciou alguns purificadores de água. Pretende ampliar essa folha
de serviços com a punição de quem criticar a inação do governo federal.
“Acho que nós tínhamos que
tentar focar numa área específica e tentar construir alguma coisa que pudesse
ter um resultado concreto”, disse Pimenta durante uma reunião. “Não sei
exatamente que área seria essa, mas, se a gente pudesse pensar uma estratégia
de uma ação para alguma coisa que pudesse mobilizar o esforço para ajudar a
resolver uma situação, seria muito importante.” O tempo que Pimenta demorou
para recitar essa frase é o mesmo que vários voluntários levaram para salvar
alguém.
Para se ter ideia da falta de
agilidade do poder público, nesta quarta-feira, 22 de maio, a prefeitura de
Canoas publicou um comunicado: vai gastar quase R$ 220 mil com a compra
“emergencial” de camisetas para “identificação dos voluntários nas frentes de
trabalho”.
Faz quase um mês que as águas
começaram a subir no Rio Grande do Sul. Ainda bem que os voluntários não
esperaram a chegada das camisetas de identificação da prefeitura de Canoas para
agir. Para alívio das vítimas, também não perderam tempo esperando que Pimenta
resolvesse a dúvida que o atormentava: qual área merecia o foco do chefe de
outra invencionice administrativa.
Boa leitura.
Branca Nunes, Diretora de Redação, Revista Oeste, 24-5-2024
Claríssima introdução da Diretora de Redação, Branca Nunes. A incompetência e despreparo das diversas instituições públicas (me refiro principalmente aos gestores e coordenadores, pois aos comandados na ponta resta seguir as ordens e diretrizes - ou falta delas) ficaram cruelmente expostas, apenas amenizadas um pouco pela enorme demonstração da capacidade do povo se organizar, se proteger, ajudar, alimentar... salvar-se. Não fossem os civis, essa tragédia seria de proporções gigantescas. Mesmo assim, vejo que a reconstrução de tudo (em todos os sentidos), ainda vai depender mais de nós civis (trabalhadores, empresários, desempregrados...), do que das promessas já conhecidas dos governantes e políticos.
ResponderExcluirAlexandre Vieira (Gramado/RS)
Cláudio Humberto
ResponderExcluir@ColunaCH
Pensando bem...: ...no Brasil, o crime não só compensa como virou investimento. #ColunaCH #DiariodoPoder