domingo, 20 de abril de 2025

A falta de “timing”

Walter Biancardine

Os grandes movimentos populares, inclusive aqueles que derrubam governos, são um resultado direto de uma conjugação de acontecimentos que inflam a ânsia dos cidadãos a níveis sem retorno – e o primeiro resultado é o abandono das leis e a convicção de que somente a massa, reunida e furiosa, poderá pressionar os parlamentares e criar uma conjuntura política, plena de circunstâncias favoráveis, que atenda seus clamores.

Chegamos perto em 2013 quando roubamos os protestos da esquerda – “não é pelos 20 centavos” – e nos tornamos donos dos movimentos de rua, mas ainda não havia Bolsonaro a catalisar a demanda. Também tivemos caminhoneiros paralisados, que igualmente exibiam claro viés conservador – à parte suas justas demandas – mas, igualmente, faltava-nos o “líder”.

E veio Bolsonaro. Desnecessário dizer que tivemos, ao menos, três momentos em que estávamos com tudo nas mãos para – pela força do povo – obrigar os parlamentares a tomarem decisões radicais e favoráveis a nós. Do atentado contra o ainda candidato, passando pelo desmonte da Lava-Jato e culminando no acampamento em frente aos quartéis – duração recorde que, por si, já exibia ao mundo que a derrubada do sistema vigente estava próxima – tudo isso era nosso, Jair Bolsonaro liderava inconteste e os prognósticos eram claramente favoráveis a nós.

Mas Jair Messias – à parte sua indiscutível coragem física, bravura e patriotismo – não possui coragem cívica: é um militar "enragée", treinado e doutrinado para seguir regulamentos (as malditas “quatro linhas da Constituição”) e jamais conseguiu entender que, nos casos em que os abusos de um governo ditatorial e opressor se tornam insuportáveis, as leis vigentes não ajudam ninguém – pelo contrário, nos aprisionam, eis que nos submetemos a jogar segundo as regras do inimigo.

É perfeitamente compreensível que ele não desejasse criar uma situação de exceção, tomando o poder e empreendendo salutar faxina ideológica no estamento burocrático – isso custaria sangue, dores, escândalos – mas não haveria escolhas, e o senhor Bukele está aí para provar isso. Ele nada fez, apavorado em ser chamado de “ditador” – que já o era, pela esquerda brasileira e global, então nenhuma diferença faria – e preferiu abaixar a cabeça, entregando o poder de forma submissa e tornando-se – junto com o resto do povo brasileiro – mera vítima da narco-ditadura comuno-globalista que hoje nos governa, que já matou, sequestrou, censurou, prendeu inocentes arbitrariamente e entregou o país nas mãos de traficantes de drogas e potências ditatoriais estrangeiras. Ele teve tudo nas mãos e não usou; Jair Bolsonaro não teve o “timing” para agir na hora certa – e agora, pouco adianta falar grosso abrigado sob o guarda-chuva de Donald Trump.

E nós, o povo?

O povo, como conceito, oscila entre aquilo que a humanidade tem de mais desprezível ao sublime; do asqueroso ao quase divino, da força invencível ao gado conduzido para o matadouro – e tal se dá, além da decorrência da falta de lideranças, também e principalmente pela herança cultural, costumes, cultura popular e índole. Pois esta é toda nossa derrota.

Assistimos, inertes, as narrativas esquerdistas destruírem (em boa parte) o antigo poder de Bolsonaro sobre o povo, embora ele próprio – por sua indecisão, protelação e medo – tenha colaborado involuntariamente com isso. As ambições são incessantes, os interesses jamais estão satisfeitos e novos candidatos à ribalta de “condutores de povos” surgiram, dividindo os conservadores por sua própria necessidade doentia de “obedecer um líder”. Sim, bem a esquerda tenta ainda nos dividir, mas o maior resultado é obtido por nós mesmos, em um processo autofágico de entregarmos nossas responsabilidades nas mãos de alguém que possa – caso tudo saia errado – assumir as culpas.

Jamais compreendemos um Olavo de Carvalho – o verdadeiro ressuscitador do conservadorismo no Brasil – que se valia de um vocabulário repleto de palavrões como forma de chamar atenção do povo para o que ele dizia. Como fazer um energúmeno ouvir um filósofo? O resultado é que, após sua morte, metade do Brasil se acha um “Olavo” e trata os divergentes – dentro do próprio conservadorismo – a base de xingamentos e ofensas, sem jamais ter atinado com a verdadeira intenção que o filósofo possuía, assim agindo. E a divisão, autofágica como disse, só se agravou.

Temos hoje uma direita conservadora dividida, extremamente belicosa entre si e covarde quanto a ações concretas; cada conservador crê-se um Olavo de Carvalho e proprietário da razão, nenhuma divergência é admitida e a coisa toma, cada vez mais, os contornos de uma seita fanática que instituiu dogmas – cada um com o seu, particular – cuja transgressão é passível de punição com palavrões arqueológicos e… memes.

Nenhum direitista lembra-se do objetivo maior: derrubar o sistema. Nenhum direitista atreve-se a convocar rebeliões nas ruas ou organizar alguma espécie de desobediência civil. Mas um em cada dez direitistas se veem como “iminências pardas”, prontos a dar os melhores conselhos do mundo ao líder – tão e desesperadamente ansiado por todos. E esta carência de “líderes” é tão grave que, mesmo após os mais lúcidos implorarem “não saiam dos quartéis”, bastou uma moça e dois sujeitos subirem no caixote e mandarem todos para o Palácio, em Brasília, para serem prontamente obedecidos. E mil e quinhentos brasileiros inocentes foram presos.

Também a nós falou “timing”. E pior: falta-nos bom senso e coragem.

Não há como criticar a ditadura atual, se somos tão covardes e mesquinhos quanto. Não há como criticar Bolsonaro se, igualmente, estamos tal qual uns cegos em tiroteio.

E não há como criticar o autor destas linhas se você, igualmente, nada faz.

Título; Imagem e Texto: Walter Biancardine, Facebook, 20-4-2025, 20h06

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