domingo, 29 de janeiro de 2012

Reciclagem de Estado

Carlos Lúcio Gontijo
O acesso à educação de qualidade, acompanhado por ampla proximidade com produtos culturais, como literatura, poesia, artes plásticas, teatro, atividades esportivas etc., é fator exponencial para a formação de cidadãos conscientes da necessidade de trabalhar em prol de uma convivência social pacífica e sob o signo de amor e respeito pelo próximo.
Assistimos ao clamor da população brasileira pela eficiência dos órgãos envolvidos com segurança pública, mas a realidade é que, independentemente do aumento do número de policiais nas ruas, não há como executar a missão de conter a avalanche de violência, quando nos vemos diante da decisão, por parte de grande contingente de pessoas, pela afronta aos preceitos legais, exigindo a impraticável materialização de colocação de um policial em cada rua, em cada esquina.
Protágoras, filósofo grego (480 a.C.), afirmava que o Estado que não educa a criança é obrigado, mais tarde, a castigar o adulto. E é exatamente isso que está ocorrendo com a juventude brasileira, que se encontra no fulcro da violência, que ceifa a vida de 11 jovens a cada dia e, ao mesmo tempo, provoca a superlotação de presídios, solicitando investimento de dinheiro público (economizado na gestão do setor educacional) na ampliação do sistema presidiário.

Atenta e verdadeiramente, não podemos denominar como violência apenas a tortura, o espancamento, a intolerância, o racismo, o preconceito, a pedofilia, o estupro, o roubo, o assalto, o sequestro, o assassinato e a marca de sangue nas calçadas, pois temos a nos macular os atos de violência promovidos pelo próprio Estado, que deixa abandonada, em explícita lição de menosprezo pela vida humana, significativa gama de brasileiros, que morre de inanição ou à porta de hospitais e unidades de atendimento público de saúde, sem qualquer oportunidade de assistência ou socorro médico.
 Preocupados e atônitos, indagamos sobre a porcentagem que cabe às entidades constituídas no tocante ao descalabro da violência que nos assola. Não conseguimos sequer imaginar o dano psicológico experimentado pelos que perdem seus entes queridos devido à inoperância do Estado nas questões de segurança pública e garantia a atendimento médico digno aos mais pobres e desprovidos de renda suficiente para arcar com planos de saúde.
Ao passo que as agremiações partidárias – cada qual se proclamando mais proprietária da democracia que a outra – se digladiam por cargos e poder –, avança em nós o sentimento de que problemas como educação, saúde e segurança pública não podem ser revestidos com cores partidárias e tomados como bandeiras temáticas para inócuos discursos em palanque eleitoral, uma vez que país embebido no vermelho da sanguinolência e na letargia da ignorância e do baixo nível educacional de sua gente transforma o voto democrático e o sufrágio eleitoral em simples ato de unção de administrações e regimes autoritários, que usam as instituições públicas como mecanismos de coleta e maquiagem de antigas mazelas e corpos esquálidos, como se o Estado não passasse de entidade recicladora de miséria, desigualdade, mesmice, incompetência, indolência, desfaçatez e corrupção generalizada.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e jornalista,  www.carlosluciogontijo.jor.br

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