terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Venha o alemão salvar a pátria

António Ribeiro Ferreira
Com este Presidente e com estes partidos não se fazem reformas a sério. Só a fingir
Presidente da República durante as honras militares
Manuel de Almeida/Lusa
A política indígena tem andado muito entretida com os conflitos entre o Presidente da República e o governo. Dizem que Cavaco Silva recusa um Estado mínimo e anda de cabelos em pé com as ideias liberais ou social-liberais de Pedro Passos Coelho. Sinceramente não há pachorra para esta paróquia e para os paroquianos, uns mais beatos que outros, que andam a descobrir o óbvio, uma tarefa meritória mas perfeitamente inútil para a pátria, para os mercados e para os juros da dívida soberana nacional.
É evidente que o Presidente da República nem quer ouvir falar em reformas do Estado, Um criador nunca gosta de ver destruída a sua obra. Defende-a até ao fim, contra tudo e contra todos, mesmo que essa posição signifique mais miséria para os que alimentam a criatura. Não importa. O primeiro-ministro de Portugal que criou o monstro não admite que o reduzam, que lhe façam umas lipoaspirações valentes e que a sociedade civil, pessoas e empresas, não viva sufocada com o seu peso. Mas, verdade seja dita, Cavaco Silva sabe que não existem grandes motivos de preocupação em matéria de reformas e de um ataque eficaz ao monstruoso Estado português.

No fundo, a democracia portuguesa e os seus pilares não existem sem Estado. Os partidos nascidos do 25 de Abril não conseguem sobreviver sem a coisa pública, sem os empregos públicos, os dinheiros públicos, os negócios públicos, as prebendas e as mordomias públicas. Dito isto, está tudo dito. Não é só Cavaco Silva que não deixa tocar na sua obra, no seu monstro.
Os partidos políticos do chamado arco governamental, PSD, PS e CDS, com o inestimável apoio da esquerda, BE e PCP, odeiam reformas, mudanças e quando são obrigados por alguma entidade externa, como agora, ensaiam uns filmes estranhos, às vezes de horror, para português e estrangeiro verem com o objectivo supremo de deixarem tudo na mesma ou ainda pior. Basta ver a reforma do sistema político, da lei eleitoral, promessas repetidas com a mão no peito e que, à vez, um ou outro dos dois grandes partidos acaba por vetar muito oportunamente. É por estas e por outras que não deixa de ser coerente o horror nacional à perda de soberania, nomeadamente orçamental, e o coro de indignação sempre que o pagador de serviço de países relapsos, como Portugal e a Grécia, fala em mandar um comissário ou um governador vigiar de perto os irresponsáveis de serviço. A gritaria nada tem a ver com patriotismos, nacionalismos ou um amor eterno à soberania. O barulho é uma forma desesperada de evitar o fim da farra, dos desmandos e dos buracos de quem manifestamente gasta o que não tem e ainda tem o supremo desaforo de exigir mais dinheiro para continuar a festa. Os gregos andam agora a falar de ocupação alemã porque receberam 110 mil milhões de euros em 2010, não tocaram na balbúrdia do Estado, não conseguem cobrar impostos, mantêm um Estado obsceno e agora precisam de mais 130 mil milhões para sobreviver. Os portugueses olham para o seu vizinho grego e tentam pôr trancas à porta. Mas pelo andar da carruagem o melhor é chegar o alemão. Rapidamente e em força salvar a pátria, a democracia e esta miserável economia.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 31-01-2012

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