Paulo Hasse Paixão
Um veterano do exército foi na semana
passada condenado por rezar em silêncio perto de uma clínica de aborto
Adam Smith-Connor [foto], que serviu no Afeganistão, foi processado e condenado a uma pena suspensa de dois anos, por violar a proibição de protestos dentro de uma zona tampão em torno de uma clínica em Bournemouth, Dorset, em novembro de 2022. A sua cabeça estava inclinada e as mãos entrelaçadas enquanto rezava em penitência por ter permitido o aborto de um feto de que era progenitor, há mais de duas décadas.
A oração de Smith-Connor não
durou mais que três minutos.
Ao relatar o caso, o grupo de
defesa legal Alliance Defending Freedom (ADF) afirmou que a condenação foi
“a primeira condenação conhecida de um ‘crime de pensamento’ na história
britânica moderna”.
A declaração acrescenta ainda
que Smith-Connor tem agora de pagar 9.000 libras (10.770 euros) de custas
judiciais à acusação, apenas por ter rezado silenciosamente nas imediações da
clínica. O grupo está a analisar a possibilidade de recurso da condenação. Mas
o facto do Reino Unido não ter uma constituição escrita, que proteja certos
valores fundamentais, vai dificultar esse processo.
Durante o julgamento no Tribunal de Magistrados de Poole, Smith-Connor negou a acusação de não cumprir a Ordem de Proteção do Espaço Público, mas a juíza distrital Orla Austin disse que o que ele fez foi “deliberado”.
🚨🚨🚨BREAKING🚨🚨🚨
— ADF UK (@ADF_UK) October 16, 2024
British courts have found Adam guilty for praying to God, silently in his mind, for 3 minutes in an abortion "buffer zone".
This is the first known conviction of a "thoughtcrime" in modern British history. pic.twitter.com/l352IEJ58A
A notícia surge no momento em
que o governo trabalhista de Keir Starmer está a considerar a possibilidade de
proibir especificamente as orações silenciosas à porta das clínicas de aborto.
Antes da decisão, Lois
McLatchie Miller, que é responsável pelas comunicações da ADF UK, descreveu o
caso como “definidor de uma era”, acrescentando:
“Ou se pode ser julgado e
condenado pelas crenças que se tem na cabeça, ou não se pode.”
Acontece que se pode.
Convém lembrar que em Agosto
deste ano, entre centenas de cidadãos que foram condenados e
encarcerados por delito de opinião a propósito dos protestos contra a imigração
que ocorreram depois de um adolescente de origem imigrante ter esfaqueado até à
morte três crianças em Southport, um outro cidadão britânico foi preso e acusado criminalmente
por ter publicado nas redes sociais “retórica antissistema”.
Ou seja, considerando que o crime de opinião expressa também é um crime do pensamento, este não é de todo o primeiro caso do género e, para sermos justos com Keir Starmer (por muito que ele não mereça a justiça), o fascismo de estado não começou agora. Foi inaugurado até sob governos conservadores como o de Boris Johnson.
Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 15-11-2024
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