O estabelecimento está fechado há meses, em meio à grave crise da varejista que deve mais de 1,2 bilhão na praça. A loja - cuja posse segue com a Leader - fica embaixo de um grande condomínio residencial que teme a dengue, além da proliferação de vetores de outras doenças
Bruna Castro
Um conhecido condomínio residencial nas imediações dos Arcos da Lapa tem passado por um grave problema desde que uma grande loja alugada à Leader Magazine fechou. A loja, com dois pavimentos, um subsolo e cerca de 1800m2, está inundada há semanas. O prédio fica na rua do Riachuelo 87, no Centro da Cidade e foi sede das famosas lojas Rei da Voz, do antológico Abraão Medina, pai do mega-empresário do entretenimento Roberto Medina. Ocorre que, passando por dificuldades – segundo especialistas em estado pré-falimentar – a varejista encerrou as atividades, e retirou seu pessoal do local, mas não entregou as chaves, embora esteja sofrendo uma Ação de Despejo Por Falta de Pagamento.
O edifício notificou a administradora do imóvel do estado lastimável em que se encontra a água. Segundo o síndico Marco Santos, “por causa do acúmulo das águas vindas de chuvas torrenciais e de lençóis freáticos que há no terreno“, o local está inundado e “desde que as lojas Leader fecharam, não houve manutenção no imóvel e o acúmulo de água fez com que houvesse proliferação de mosquitos”. Ainda conforme uma correspondência assinada pelo síndico, o prédio teria sido tomado por baratas e roedores, e o fato já foi comunicado diversas vezes à Leader, que ignoraria as notificações. Os moradores do edifício, que tem diversos andares com mais de 20 apartamentos por andar, tem receio da dengue.
O DIÁRIO DO RIO contactou a administradora responsável Sergio Castro Imóveis, que informou que o imóvel segue alugado e que a posse e as chaves estão com a Leader, cabendo a ela responder pelo assunto e agir verificando a notícia dada pelo edifício. A administradora lamentou a situação e disse que vai notificar mais uma vez à Leader.
A Leader foi recentemente
vendida aos empresários mineiros Renato Vaz Heringer e Marcio
Lima, ligados ao Mauá Bank. Após a inauguração de sua nova
sede na Rua da Quitanda 86, no faustoso edifício Sulamérica, de propriedade de
um fundo gerido pelo banco BTG, houve grandes esperanças de que os
novos sócios trariam um novo momento à famosa e querida varejista. Porém, desde
Setembro, acordos firmados deixaram de ser cumpridos e a empresa tem novamente
perdido credibilidade no mercado. Há, inclusive, uma denúncia do Sindicato
dos Comerciários de que a Leader não estaria cumprindo sequer com
pagamentos de rescisões de empregados. Em que pese tudo isso, a empresa acaba
de inaugurar uma nova loja em Bonsucesso.
Histórico
A Leader ainda é uma das mais
queridas marcas do Rio, com uma história que remonta à sua fundação em 1951.
Inicialmente, a empresa operava como uma pequena loja de roupas, mas ao longo
das décadas, expandiu-se significativamente, tornando-se uma marca reconhecida
nacionalmente. A Leader, fundada pela família Gouveia, oferecia uma ampla gama
de produtos, incluindo roupas, calçados, acessórios, eletrodomésticos e muito
mais. Sua trajetória chegou a ser marcada por um crescimento constante,
adaptação às tendências de mercado.
Depois, a empresa foi vendida
ao BTG Pactual, e se expandiu mais ainda, com a aquisição da
Seller, da família Furlan, de São Paulo. Uma fusão considerada mal calculada,
que acabou enterrando a empresa em problemas que vive até hoje. Em 2016,
o BTG vendeu a empresa por 1 real e seu comando passou às mãos
de Fábio Carvalho, que controlava também a Editora Abril. Em
2020, a companhia mudou de dono de novo, passando para André Peixoto.
Na ocasião a loja de departamentos tinha 90 lojas espalhadas por 9 estados do
país.
Peixoto resolveu entrar com
pedido de recuperação judicial, para tentar equacionar mais de R$ 1,2
bilhões de reais em dívidas que a companhia tinha. Numa recuperação
judicial, a empresa equaciona sua dívida antiga mediante a apresentação de um
plano para pagamento dos débitos, mas deve passar a pagar suas contas em dia a
partir dali. No seu plano de Recuperação, a Leader propunha pagar as dívidas
maiores que 60 mil reais só dali a 4 anos, da seguinte forma: 10% de sinal e o
resto em 12 parcelas anuais se a empresa faturar mais de 1,3bi por ano; se não,
não paga nada. Trocando em miúdos, se a Leader me devesse 60 mil,
pagaria 6 mil reais só daqui a 4 anos, e o resto em DOZE ANOS, pagando 4,5 mil
POR ANO, mas se seu faturamento for 1,29 bi, não recebo as parcelas.
Em 2020, a Leader negociou um
plano de recuperação judicial com seus credores para lidar com sua dívida. Dois
anos depois, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro
(PGE-RJ) estabeleceu um acordo para amortizar 810 milhões de reais da
dívida ativa da empresa ao longo de 180 meses.
Ocorre que, segundo
informações obtidas pela reportagem, a Leader não só nunca pagou seus débitos
anteriores à recuperação judicial, como estaria devendo novamente milhões em
aluguéis e outros custos de ocupação de diversas de suas lojas; inclusive suas lojas
do Centro do Rio de Janeiro, na Rua do Riachuelo e na Uruguaiana, estariam
dentre as devedoras. Obtivemos acesso a certidões de pagamento de IPTUs de duas
lojas – é um documento público – e a empresa simplesmente deve milhões de reais
em IPTU, além de condomínio e – claro – aluguéis. Os donos da loja da rua do
Riachuelo já ingressaram com ação de despejo por falta de pagamento. Não
estariam cumprindo acordos trabalhistas, segundo o G1 e o Relatório Reservado.
O DIÁRIO averiguou que a empresa também está descumprindo
acordos firmados com Condomínios e Proprietários. Estima-se que a dívida só
com um único proprietário já seja da ordem de 6 milhões de
reais, sem contar fornecedores e débitos de outros tipos. Foi assim que em 2023
a empresa foi vendida de novo, e depois revendida, agora em 2024, ao grupo
proprietário do Mauá Bank, tendo voltado a acumular dívidas, embora
mesmo assim tenha inaugurado uma nova loja, em Bonsucesso.
Título e Texto: Bruna
Castro, Diáriodo Rio, 1-11-2024
Leader muda de dono, não paga dívidas, mas abre loja nova devendo milhões em aluguéis
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