Paulo Briguet
Diante de uma situação
trágica, ele faz um rápido cálculo mental, ecoando, mesmo que
inconscientemente, o mandamento definido por Sergei Netchaiev em 1871 (no
“Catecismo Revolucionário) e depois aprimorado por Lev Trotsky em 1930 (no
ensaio “A Moral Deles e a Nossa”): “Tudo aquilo que concorre para o êxito da
revolução é moralmente aceitável; tudo que se opõe a isso é imoral”.
Face a um cadáver — por
exemplo, o do chaveiro Francisco Wanderley Luiz, que morreu na explosão
provocada por ele mesmo nesta quarta-feira (13) — o esquerdista (e também o
direitista de esquerda, uma figura cada vez mais comum) é dominado por um só
pensamento: “Como encaixar isso numa narrativa que favoreça os meus líderes e
destrua os meus inimigos?”
Assim que saiu a notícia da
explosão, a grande mídia se apressou em apresentar Francisco na condição de
“bolsonarista”, “candidato do PL” e “conservador”. Em pouquíssimo tempo, porém,
descobriu-se que ele defendia um Brasil “sem Lula e sem Bolsonaro”; foi
candidato em 2020, numa coligação com o esquerdista PDT, um ano antes de
Bolsonaro filiar-se ao PL; e, ainda, pregava “o fim da polarização” no Brasil.
Que direitista mais estranho, não?
Francisco cometeu um ato de
loucura. Ele passava por sérios problemas emocionais e tristemente optou pelo
caminho do suicídio. Para a esquerda, no entanto, ele era um terrorista de
direita e só pode ter agido em conluio com uma perigosa rede subversiva.
Com objetivo espúrio de
alimentar a narrativa do “golpismo”, os militantes fecham os olhos para o
sofrimento pessoal do homem e de sua família (não que isso me surpreenda).
Curiosamente, quando o alvo da violência é uma liderança de direita, toda o
gado esquerdista muge em uníssono a versão de que se trata de um “lobo
solitário”, como aconteceu nos casos de Jair Bolsonaro em 2018 e Donald Trump
em 2024. Para a militância do caos, apenas assassinos de esquerda agem
individualmente; assassinos de direita sempre atuam em vastos grupos.
O fato é que a esquerda, historicamente, precisa sempre
de um cadáver para justificar suas perseguições, arbitrariedades e massacres
Vamos a alguns exemplos.
Em 13 de julho de 1793, um dos
mais influentes líderes da Revolução Francesa, Jean-Paul Marat, foi assassinado
por Charlotte Corday. A jovem girondina acreditava que a morte de Marat poderia
trazer paz à França mergulhada em conflitos internos. O que aconteceu foi
exatamente o oposto: o crime acabou por recrudescer a violência revolucionária,
resultando na morte de milhares de pessoas guilhotinadas durante o Terror
jacobino.
Em 30 de agosto de 1918, a
militante socialista-revolucionária Fanny Kaplan disparou três tiros contra o
chefe comunista Vladimir Lênin, em Moscou. Lênin sobreviveu ao atentado, mas as
consequências foram catastróficas. Kaplan foi presa e condenada à morte
rapidamente. Mas isso foi só o começo: em apenas dois meses, a polícia secreta
comunista executou sem julgamento cerca de 15 mil pessoas. Para se ter uma
ideia da escala da violência, o regime anterior dos czares condenara à morte,
entre 1825 e 1917, um total de 6.321 pessoas. Ou seja: em poucas semanas, os
comunistas mataram mais gente do que o czarismo em 92 anos!
Em 27 de fevereiro de 1933,
menos de dois meses depois da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, um
incêndio destruiu o Reichstag, sede do Parlamento Alemão. Os
nacional-socialistas utilizaram o caso como pretexto para consolidar o poder e
suprimir toda a oposição.
O suposto autor do atentado,
Marinus van der Lubbe, era um comunista holandês com problemas mentais. Ele foi
preso e executado sumariamente em poucos dias. Muitos historiadores acreditam
que o incêndio foi, na verdade, uma manobra orquestrada pelos próprios nazistas
para justificar a implementação de medidas autoritárias que desembocariam no
Holocausto.
Em 1º de dezembro de 1934, o
líder comunista Sergei Kirov foi morto a tiros em seu escritório em Leningrado
(atual São Petersburgo) por um membro do partido chamado Leonid Nikolayev, que
afirmou ter agido por razões pessoais.
No entanto, diversos
historiadores acreditam que a sua morte foi resultado de intrigas políticas,
uma vez que Kirov era visto como um potencial rival do ditador Josef Stálin,
especialmente devido à sua popularidade crescente entre os membros do partido e
a base popular.
Após a morte de Kirov e a
execução sumária de Nikolayev, Stálin usou o assassinato como pretexto para
iniciar uma onda de repressão política que culminou nos Grandes Expurgos, em
que milhões de membros do Partido Comunista, militares e cidadãos comuns foram
presos, exilados ou executados. A partir de 1935, Stálin intensificou a
perseguição a seus adversários políticos, causando um clima de medo e
desconfiança em todo o país.
Além dos casos históricos da
utilização de cadáveres como ferramenta política, a grande literatura também
nos oferece exemplos desse fenômeno. A explosão de Brasília me fez lembrar o
romance “O Agente Secreto”, de Joseph Conrad, publicado em 1907. Na obra,
inspirada em um acontecimento real, Conrad narra a história de uma bomba que
seria detonada para destruir o Observatório de Greenwich, na Inglaterra, mas
acaba apenas por destruir a vida de uma pobre pessoa com deficiência mental. No
livro, o grande autor polonês-britânico descreve a frieza de um agente
revolucionário que se aproveita do sofrimento humano para avançar suas causas.
A esquerda, com essa frieza que vemos no personagem de
Conrad, tenta agora fazer uma falsa equivalência entre a explosão desta
quarta-feira e as arruaças de 8 de janeiro de 2023
Com o habitual cinismo e
frieza, políticos e militantes de esquerda, apoiados por grande parte da mídia,
querem impedir de qualquer maneira a anistia aos patriotas inocentes que hoje
estão presos e exilados. Acuado depois da vitória espetacular de Donald Trump
nas eleições americanas, o Regime PT-STF e seu plantel de jagunços querem usar
o cadáver de um pobre suicida para destruir o que resta da liberdade no Brasil.
Lembrem-se sempre disto: a
esquerda nunca perdoa. Até o fim.
Título e Texto: Paulo
Briguet, Gazeta do Povo, 14-11-2024, 13h20
Bomba! A volta da narrativa canalha
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