Animais são caçados para venda de carne em restaurantes da cidade ou até mesmo para churrascos em comunidades próximas às lagoas onde vivem. Há também os casos nos quais os jacarés são capturados filhotes e comercializados como pets
Felipe Lucena
Estima-se que atualmente, na
cidade do Rio de Janeiro, vivam cerca de 5 mil jacarés. A maior parte deles
concentrados nos bairros da Barra, Camorim, Curicica, Jacarepaguá e Recreio.
Muitos desses animais estão sendo vítimas de caça ilegal.
A Lei nº 5.197 de
Proteção à Fauna, de 1967, proíbe a caça, maus-tratos e comercialização de
animais em todo o país.
De acordo com dados do Instituto
Jacaré, no último mês de outubro, seis animais foram encontrados mortos nas
lagoas da Barra, Jacarepaguá e Recreio. No entanto, o número pode ser ainda
maior e vem crescendo nos últimos anos.
“Esses foram os que nós
encontramos, já mortos. Mas é muito comum encontrarmos animais feridos, até por
armas de fogo ou presos em redes próprias para pegar jacarés. As caças ou
tentativas de são praticamente diárias. Eu diria que se encontramos seis, cerca
de 15 devem ter sido caçados, mortos e levados. Isso sem contar os que escapam
da caça, mas ficam feridos e morrem depois. É época de reprodução, então, esses
animais ficam mais vulneráveis, aparecem mais“, conta Ricardo
Freitas, do Instituto Jacaré.
A reportagem do DIÁRIO
DO RIO apurou que esses animais são caçados para venda de carne em
restaurantes da cidade ou até mesmo para churrascos em comunidades próximas às
lagoas onde vivem. Há também os casos nos quais os jacarés são capturados
filhotes e comercializados como pets. Quando os jacarés crescem, são
abandonados nas ruas da cidade do Rio.
“Essa questão da venda de carne desses jacarés em restaurantes da cidade é preocupante porque não tem fiscalização. As pessoas podem estar comendo um alimento carregado de metais, pois o habitat dos jacarés é poluído“, explica Ricardo.
Somente neste ano de 2024, o
programa Linha Verde, do Disque Denúncia (2253
1177), já recebeu cerca de 19 mil denúncias sobre crimes ambientais em todo o
Estado do RJ, sendo 155 sobre caça ilegal de animais.
No último dia 30 de outubro,
pouco mais de uma hora após uma denúncia sobre caça ilegal de animais feita ao
programa Linha Verde, policiais militares do Comando de Polícia
Ambiental encontraram um jacaré de papo amarelo morto, cortado em
pedaços, no Recreio dos Bandeirantes.
Alerta
para imagem forte
De posse da denúncia, os
policiais da UPAm Pedra Branca e agentes do Instituto
Estadual do Ambiente (INEA) procederam à Avenida Célia Ribeiro
da Silva Mendes, onde no local denunciado, encontraram três homens e o
animal pendurado em uma árvore, com a cabeça e patas decepadas, que
provavelmente seriam comercializadas. Uma faca também foi apreendida.
Para denunciar crimes ambientais ao Linha Verde, a população pode ligar 24 horas, sete dias da semana, para o telefone (21) 2253-1177 e para o 0300 253 1177, ambos com WhatsApp anonimizado – técnica de processamento de dados que remove ou modifica informações que possam identificar uma pessoa, ou então pelo App “Disque Denúncia RJ”. É possível denunciar ainda pelo site do Disque Denúncia (www.disquedenuncia.org.br) ou ainda pela FanPage do Linha Verde no facebook (www.facebook.com/linhaverdedd).LINHA VERDE, o Disque Denúncia do Meio Ambiente.
Os dados do Disque Denúncia mostram que a Lagoa de Jacarepaguá, localizada nos bairros da Barra da Tijuca e Recreio
dos Bandeirantes, é mencionada como um local frequente de caça ilegal de jacarés. O Canal do Cortado, no Recreio dos Bandeirantes, também é citado.
“Infelizmente os animais
enfrentam o crescimento da caça no município do Rio de Janeiro e contamos com
toda ajuda possível para coibir essa prática. Existe o real risco de extinção
desses animais por conta disso. Já passou da hora do Poder Público agir melhor
para cuidar dos jacarés. Os órgãos municipais, por exemplo, não têm dados de
nada, nem de quantos animais nascem ou morrem. Nem quantos existem. Não existe
articulação municipal para ações em prol desses animais. Continuaremos firmes
na luta pela conservação da espécie, mas precisamos da ajuda de toda população
para denunciar esses criminosos e que o Poder Público também faça sua parte”,
finaliza Ricardo.
Título e Texto: Felipe Lucena, Diário do Rio, 12-11-2024
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