Luís Gomes
Esta madrugada, para espanto dos órgãos de propaganda – que, claro, apostaram todas as fichas no contrário –, Donald Trump não apenas venceu as eleições, mas fê-lo de forma contundente. Conquistou os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral e, como se não bastasse, ainda venceu o voto popular, um feito que nenhum republicano alcançava desde 2004, com George W. Bush.
Como se fosse pouco, os republicanos saíram triunfantes também nas disputas pela Câmara dos Representantes e pelo Senado, garantindo o controlo do poder executivo e legislativo. Uma vitória retumbante, para desespero de muitos.
Como é de praxe em qualquer democracia moderna, a campanha foi um espectáculo de distracções: o acessório em primeiro plano, o essencial cuidadosamente guardado na sombra, para delírio dos órgãos de propaganda e dos seus inenarráveis comentadores de serviço.
Quais distracções mereceram a sua atenção? Trump reencarnando Hitler, nada menos! Tudo porque o seu ex-chefe de gabinete, John Kelly, teve o infortúnio de soltar a pérola de que o líder nazi “fez algumas coisas boas”. A reacção? Instantânea: Trump foi prontamente elevado a fascista, tirano de primeira linha, sedento pelo poder absoluto.
Tivemos também a curiosa
acusação de senilidade, com Kamala Harris a informar-nos, num tom de genuína
preocupação, que Trump estaria cada vez mais instável, um verdadeiro
desequilibrado, inapto para cumprir um mandato sequer. Um diagnóstico curioso,
especialmente vindo de quem, durante quatro anos, não demonstrou a mínima
capacidade para perceber que o presidente Biden há muito estava xexé – ao ponto
de ser quase impensável apresentá-lo às eleições, tamanha a debilidade
evidenciada num debate com Trump.
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