![]() |
Foto: Monica Constantino, agosto de 2011 |
Estou sentada à beira da vida
e não vejo o comboio e espero por ele. Há tanta gente a passar, gente com
pressa, gente feliz, gente com lágrimas. Estou sentada à beira da vida e não é
um mau local para se estar. Os outros, aqueles que sabem para onde vão, os que
não têm perguntas, e os que não sabem sequer que tal existe, todos eles enchem
os dias e as horas escorrem e escorrem enquanto eu espero a minha vez. Estou
sentada à beira da vida e aqui refugiada posso olhar sem que ninguém me veja. Por
isso mesmo mergulho nos olhos opacos da multidão e sei as histórias todas que
os vestem como uma segunda pele. Há muito barulho. Vindo de todos os lados. Um
ruído permanente que envolve tudo e os passos apressados batem nas calçadas, no
alcatrão, nas madeiras das salas das casas como cascos de cavalos.
Aqui sentada à beira da vida à
espera, atenta aos pormenores, dou comigo a viver a vida dos outros, a
sentir-lhes as dores como minhas e os risos, poucos.
Estou sentada à beira da vida
à espera do comboio com a carruagem marcada.
Cada um tenta resolver os
mistérios à sua maneira. Por mim, estou segura de que quando entrar no comboio,
na carruagem marcada, tudo o que foi a minha vida vai ter uma explicação. Até
lá, embrulho as minhas perguntas na saia rodada, aconchego-me melhor na beira
da vida que é inclinada e a espaços tento descortinar lá longe os carris. Até
hoje não vi a carruagem com o sinal mágico mas continuo aqui.
Título e Texto: Luísa
Castel-Branco, Destak, 20-09-2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-