Ferreira Gullar
Dando curso à minha tentativa
de entender quem é esse cara chamado Lula, acrescento à crônica que publiquei aqui, faz algumas semanas, novas observações.
Por exemplo, fica evidente que Lula e seu pessoal, ao chegar ao poder, elaboraram um plano para nele permanecer. Aliás, José Dirceu chegou a afirmar isso, poucos meses depois da posse de Lula na Presidência: "Vamos ficar no poder pelo menos 20 anos".
O mensalão era parte do plano. Descartar o PMDB e aliar-se a partidos pequenos para, em vez de lhes dar cargos ministeriais, lhes dar dinheiro. Sim, porque, para permanecer 20 anos no poder, era necessário ocupar a máquina do Estado, tê-la nas mãos, de modo a usá-la com finalidade eleitoral.
Por isso, um dos primeiros atos de Lula foi revogar o decreto de Fernando Henrique que obrigava a nomeação de técnicos para cargos técnicos. Eliminada essa exigência, pôde nomear para qualquer função os companheiros de partido, tivesse ou não qualificação para exercer o cargo.
Ocorreu que Roberto Jefferson, presidente do PTB, sublevou-se contra o mensalão e pôs a boca no mundo. Quase acaba com o governo Lula. Passado o susto, ele teve que render-se ao PMDB e distribuir ministérios e cargos oficiais a todos os partidos da base aliada. Não por acaso, os 26 ministérios que recebera de FHC cresceram para 37, mais 11.
No primeiro momento, ele próprio deve ter visto isso como uma derrota, mas, esperto como é, logo percebeu que aquele poderia ser um novo caminho para alcançar seu principal objetivo, isto é, manter-se no poder.
Por exemplo, fica evidente que Lula e seu pessoal, ao chegar ao poder, elaboraram um plano para nele permanecer. Aliás, José Dirceu chegou a afirmar isso, poucos meses depois da posse de Lula na Presidência: "Vamos ficar no poder pelo menos 20 anos".
O mensalão era parte do plano. Descartar o PMDB e aliar-se a partidos pequenos para, em vez de lhes dar cargos ministeriais, lhes dar dinheiro. Sim, porque, para permanecer 20 anos no poder, era necessário ocupar a máquina do Estado, tê-la nas mãos, de modo a usá-la com finalidade eleitoral.
Por isso, um dos primeiros atos de Lula foi revogar o decreto de Fernando Henrique que obrigava a nomeação de técnicos para cargos técnicos. Eliminada essa exigência, pôde nomear para qualquer função os companheiros de partido, tivesse ou não qualificação para exercer o cargo.
Ocorreu que Roberto Jefferson, presidente do PTB, sublevou-se contra o mensalão e pôs a boca no mundo. Quase acaba com o governo Lula. Passado o susto, ele teve que render-se ao PMDB e distribuir ministérios e cargos oficiais a todos os partidos da base aliada. Não por acaso, os 26 ministérios que recebera de FHC cresceram para 37, mais 11.
No primeiro momento, ele próprio deve ter visto isso como uma derrota, mas, esperto como é, logo percebeu que aquele poderia ser um novo caminho para alcançar seu principal objetivo, isto é, manter-se no poder.
Se já não podia comprar os partidos aliados com a grana do mensalão, passou a
comprá-los com outra moeda, entregando-lhes os ministérios para que os usassem
como bem lhes aprouvesse: dinheiro ali é o que não falta. E assim, como se vê
agora, nos ministérios dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, cada
partido aliado montou seu feudo e passou a explorá-los sem nenhum escrúpulo.
Lula, pragmático como sempre foi, fazia que não via, interessado apenas em
contar com o apoio político que lhe permitiria garantir a sucessão, isto é,
eleger Dilma. Essa candidatura inusitada - que surpreendeu e desagradou ao
próprio PT - era a que convinha a ele, pelo fato mesmo de que se tratava de
alguém que jamais sonhara com tal coisa e que, por isso mesmo, jamais se voltaria
contra ele ou contrariaria seus propósitos. Não é por acaso que, regularmente,
eles se encontram em jantares a dois, para acertarem os ponteiros e ele lhe
dizer o que fazer.
Não estou inventando nada. Não só ambos já admitiram esses encontros como ela, recentemente,
respondendo a uma jornalista que lhe perguntou se discordava de Lula,
respondeu: "Não posso discordar de mim mesma". Isso não exclui,
porém, um fator contraditório: a necessidade que ela tem, como a primeira
mulher presidente do Brasil, de afirmar sua autonomia.
Cabem aqui algumas considerações. Todos sabem que o PT, nascido partido da
esquerda revolucionária, não admitia deixar o poder, uma vez tendo-o
conquistado. Os demais partidos aceitam a alternância no poder porque estão de
acordo com o regime. Já o partido revolucionário vem para implantar outro
regime, que exclui os demais partidos. É claro que esse era o PT de 1980, que
não existe mais, mesmo porque, afora o pirado do Chávez, ninguém em sã
consciência acha que vai recomeçar o socialismo em Macondo, quando ele já
acabou no mundo inteiro.
Disso resulta que os principais fundadores do PT abandonaram o sonho da
sociedade igualitária e cuidam de seu próprio enriquecimento. Por esperteza e
conveniência, porém, tentam fingir que se mantêm fieis aos ideais socialistas.
Desse modo, dizendo uma coisa e fazendo outra, enganam os mal informados,
enquanto usam o poder político e institucional para intermediar interesses de
grupos econômicos nos contratos com o Estado brasileiro.
Ideologicamente, é preciso distinguir Lula do PT, ou de parte dele, que não
consegue aceitá-lo como um partido igual aos outros nem perceber Lula como ele
efetivamente se tornou. Nada mais esclarecedor do que vê-lo chegar a Cuba em
companhia do dono da Odebrecht, no avião particular deste, para acertar as
coisas com Fidel Castro.
Título e Texto: Ferreira
Gullar. Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-09-2011;
retirado do blog “Arquivo de Artigos Etc”; enviado por Rafael Picate.
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