quinta-feira, 28 de julho de 2016

França: nove meses para as eleições. Tudo parece possível

Cesar Maia

1. Quando faltam nove meses para as eleições presidenciais em França, as hipóteses de reeleição de François Hollande parecem cada vez mais reduzidas. O presidente socialista enfrenta o peso de três grandes ataques terroristas em solo francês no espaço de dezoito meses, greves e manifestações constantes por causa de reformas económicas altamente contestadas, uma taxa de desemprego estagnada nos 10%, o incumprimento das metas do déficit exigidas a nível europeu, a ameaça dos defensores de um referendo sobre a saída francesa da UE, desarticulação e troca de críticas entre membros do governo, a multiplicação de candidatos ao Eliseu - entre declarados e potenciais. Isto só para citar alguns dos desafios do homem que chegou à presidência de França em maio de 2012.
           
2. 67% dos franceses não confiam no presidente e no seu governo para lutar contra o terrorismo, revelou uma sondagem Ifop, realizada para o jornal Le Figaro após o ataque que matou 84 pessoas em Nice, na Riviera Francesa, na noite do feriado nacional do 14 de Julho. Enquanto agora apenas 33% dos inquiridos confiam no governo, nos barómetros semelhantes do Ifop, realizados entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano, o nível de confiança dos franceses situava-se entre os 49% e os 51%. A queda foi, em seis meses, de 16%. Agora um em cada dois franceses considera que o país está em guerra.
            
3. Pouco depois de ter começado o fogo-de-artifício no Passeio dos Ingleses, em Nice, um tunisino de 31 anos atropelou mortalmente 84 pessoas e fez mais de 200 feridos. Os acontecimentos levaram a líder do partido Frente Nacional a pedir a demissão de Cazeneuve. "Em qualquer outro país do mundo um ministro com um balanço de mortalidade tão horrendo como o de Cazeneuve - 250 mortos em 18 meses - ter-se-ia demitido", declarou Marine Le Pen. Até então, a dirigente da extrema-direita francesa andava entretida com o impacto da vitória do Brexit no referendo britânico de 23 de junho, prometendo uma consulta semelhante aos franceses se chegar a presidente nas eleições de 2017.

4. "Tudo o que deveria ter sido feito nestes 18 meses não foi", disse no domingo à TF1, Sarkozy, que além de ex-presidente é também ex-ministro do Interior de França. "Devíamos ter feito mais, melhor, mais depressa", disse, por seu lado, à BFMTV Alain Juppé. "Antes [de Nice] havia um reflexo coletivo de apoiar o governo, mas agora a necessidade de culpar alguém destruiu isso", afirmou à Reuters o analista político Thomas Guenola. A questão é que os franceses parecem fartos. Segundo um inquérito interativo Harris para a revista Marianne, realizado entre 24 e 27 de junho junto de 3796 maiores de 18 anos e divulgado no início deste mês, 82% dos inquiridos não querem Hollande como candidato ao Eliseu, 71% não querem Sarkozy; 63% preferem Juppé a Sarkozy, 62% preferem Macron a Hollande; 38% apoiariam a candidatura de Marine Le Pen, 32% a de François Bayrou e 31% a de Jean-Luc Mélenchon. A nove meses de distância tudo parece possível. 
Título e Texto: Cesar Maia, 27-7-2016

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