Cesar Maia
1. Quando faltam nove meses para as eleições presidenciais em França,
as hipóteses de reeleição de François Hollande parecem cada vez mais reduzidas.
O presidente socialista enfrenta o peso de três grandes ataques terroristas em
solo francês no espaço de dezoito meses, greves e manifestações constantes por
causa de reformas económicas altamente contestadas, uma taxa de desemprego
estagnada nos 10%, o incumprimento das metas do déficit exigidas a nível
europeu, a ameaça dos defensores de um referendo sobre a saída francesa da UE,
desarticulação e troca de críticas entre membros do governo, a multiplicação de
candidatos ao Eliseu - entre declarados e potenciais. Isto só para citar alguns
dos desafios do homem que chegou à presidência de França em maio de 2012.
2. 67% dos franceses não confiam no presidente e no seu governo
para lutar contra o terrorismo, revelou uma sondagem Ifop, realizada para o
jornal Le Figaro após o ataque que matou 84 pessoas em Nice, na Riviera
Francesa, na noite do feriado nacional do 14 de Julho. Enquanto agora apenas
33% dos inquiridos confiam no governo, nos barómetros semelhantes do Ifop,
realizados entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano, o nível de
confiança dos franceses situava-se entre os 49% e os 51%. A queda foi, em seis
meses, de 16%. Agora um em cada dois franceses considera que o país está em
guerra.
3. Pouco depois de ter começado o fogo-de-artifício no Passeio dos
Ingleses, em Nice, um tunisino de 31 anos atropelou mortalmente 84 pessoas e
fez mais de 200 feridos. Os acontecimentos levaram a líder do partido Frente
Nacional a pedir a demissão de Cazeneuve. "Em qualquer outro país do mundo
um ministro com um balanço de mortalidade tão horrendo como o de Cazeneuve -
250 mortos em 18 meses - ter-se-ia demitido", declarou Marine Le Pen. Até
então, a dirigente da extrema-direita francesa andava entretida com o impacto
da vitória do Brexit no referendo britânico de 23 de junho, prometendo uma
consulta semelhante aos franceses se chegar a presidente nas eleições de 2017.
4. "Tudo o que deveria ter sido feito nestes 18 meses não
foi", disse no domingo à TF1, Sarkozy, que além de ex-presidente é também
ex-ministro do Interior de França. "Devíamos ter feito mais, melhor, mais
depressa", disse, por seu lado, à BFMTV Alain Juppé. "Antes [de Nice]
havia um reflexo coletivo de apoiar o governo, mas agora a necessidade de
culpar alguém destruiu isso", afirmou à Reuters o analista político Thomas
Guenola. A questão é que os franceses parecem fartos. Segundo um inquérito
interativo Harris para a revista Marianne, realizado entre 24 e 27 de junho
junto de 3796 maiores de 18 anos e divulgado no início deste mês, 82% dos
inquiridos não querem Hollande como candidato ao Eliseu, 71% não querem
Sarkozy; 63% preferem Juppé a Sarkozy, 62% preferem Macron a Hollande; 38%
apoiariam a candidatura de Marine Le Pen, 32% a de François Bayrou e 31% a de
Jean-Luc Mélenchon. A nove meses de distância tudo parece possível.
Título e Texto: Cesar Maia, 27-7-2016
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