segunda-feira, 16 de outubro de 2023

E o que fez o Hamas?

Henrique Pereira dos Santos

Há mais de quinze anos que o Hamas, depois de ter ganho umas eleições legislativas num ano e feito um golpe de Estado no seguinte, governa Gaza


É, aliás, muito curioso como todos os números que vão circulando por estes dias sobre a morte de palestinos na sequência dos ataques israelitas desta semana sejam sempre apresentados como sendo do Ministério da Saúde Palestino (omitindo que existem dois, o da faixa de Gaza, do Hamas, e o da Cisjordânia, da Autoridade Palestina, mas é do da Faixa de Gaza que os números aparecem), sem que explicitamente se diga que são números que o Hamas divulga, para evitar contaminar a credibilidade desses números com a credibilidade do Hamas, largamente reconhecida internacionalmente.

Após o ataque de 7 de outubro, Israel impôs um cerco à faixa de Gaza, até que os reféns capturados pelo Hamas sejam libertados (esta última parte, a relação entre o cerco e a exigência de libertação dos reféns é, de maneira geral, omitida).

Na linguagem dos que reclamam "Liberdade para a Palestina", embora sejam menos taxativos quanto à "Liberdade para os palestinos", "Israel violou a lei quando cortou o fornecimento de eletricidade, água, combustíveis e comida na faixa de Gaza".

Esquecendo a evidente contradição entre alegar que Gaza é a maior prisão a céu aberto de todo o mundo (mesmo que fosse uma prisão a céu aberto, é com certeza bem mais pequena que outras prisões conhecidas, como a Coreia do Norte, só para dar um exemplo incontestável) e alegar que Israel tem sido responsável por abastecer Gaza de água, eletricidade, combustível e comida, vale a pena olhar para cada um desses fatores e perguntar o que fez o Hamas nos seus mais de quinze anos de poder absoluto e repressivo em Gaza, para resolver essas questões.

Gaza é um dos maiores destinos de ajuda internacional, recebendo milhões de euros todos os anos, e o que fez o Hamas para a tornar autónoma de Israel no que toca a energia? Investiu em energias renováveis? Cobriu de painéis fotovoltaicos os telhados e as zonas menos produtivas? Investiu em energia eólica? Não, optou por criar uma infraestrutura militar para destruir o Estado de Israel.

O que fez o Hamas para tornar Gaza autónoma do ponto de vista do fornecimento de água? Investiu em centrais de dessalinização, copiando a tecnologia dos seus vizinhos israelitas? Investiu na eficiência dos sistemas de abastecimento? Investiu em grandes depósitos de armazenamento de água por baixo das grandes cidades? Investiu na reciclagem dos efluentes urbanos? Não, optou por desviar tubagem dos sistemas de abastecimento e efluentes para utilizações militares, fazendo lança rockets com eles e, assim, destruir o Estado de Israel.

O que fez o Hamas e o seu governo para tornar Gaza autónoma do ponto de vista de combustível? Investiu em infraestruturas de abastecimento, incluindo pipelines controlados internacionalmente, e independentes de Israel (para além do já referido a propósito da eletricidade no ponto acima)? Não, preferiu fazer uma rede de túneis militares para destruir o Estado de Israel.

O que fez o Hamas para tornar Gaza menos dependente de Israel do ponto de vista do abastecimento alimentar? Investiu fortemente no regadio, associado ou não a centrais de dessalinização, aproveitamento da água das chuvas, reciclagem de efluentes etc.? Investiu fortemente em economia circular que permitisse reaproveitar resíduos urbanos como fertilizante? Não, investiu numa extensa rede de operacionais focados na guerra contra o Estado de Israel.

Bom, mas agora não é isso que está em causa, mas uma ordem de evacuação que prejudica os civis inocentes e não poupa hospitais e escolas.

O que fez o Hamas para dar segurança aos civis de Gaza? Sinalizou e localizou claramente as infraestruturas civis, como hospitais e escolas, permitindo inspeções internacionais independentes que garantissem que em caso algum eram usadas como máscara de instalações militares? Segregou a sua infraestrutura militar para evitar danos colaterais nas populações civis? Não, nada disso, pelo contrário, mesmo em escolas de organizações das nações unidas instalou infraestruturas militares para proteger o seu projeto de destruir o Estado de Israel, mesmo que à custa da segurança da população civil. E, não contente com isto, quando Israel emite um aviso de evacuação de civis para deixar a descoberto a infraestrutura militar do Hamas, o Hamas prefere opor-se, não apenas aconselhando as pessoas a trocar a sua segurança pela segurança dos operacionais do Hamas, mas pela força, bloqueando e fazendo explodir os caminhos de evacuação cuja segurança Israel prometeu respeitar.

Há mais de quinze anos que o Hamas governa Gaza, sentado em cima de biliões de dólares de ajuda internacional, só que em vez de se concentrar na liberdade e prosperidade dos palestinos, focou-se na sua particular noção de "Liberdade para a Palestina", que não inclui um átomo de liberdade para os palestinos.

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 16-10-2023

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