Continuaremos a perder território para os criminosos enquanto o alvo principal de nossa indignação for justamente as forças da lei. Bandidos são bandidos, e infelizmente não usam uniforme e nem crachá; têm de ser encontrados onde quer que estejam, e para isso, infelizmente, é preciso agir com dureza dentro das favelas
Quintino Gomes Freire
Essa semana o vídeo de um influenciador comentava sobre como está sendo uma operação policial na Favela da Maré; ele dizia que as Forças de Segurança batiam às portas da casa de sua irmã e gritavam para saber quem estava na casa. É uma situação desgraçada, ululante que é, mas de que outra forma se consegue buscar bandidos que – sabemos – se escondem nas casas de gente de bem e de gente…. nem tanto, também. O que podem fazer estes homens, na situação se vive naquele Complexo?
O narcotráfico, como sabemos, não usa uniformes, não respeita leis, não diferencia quem é o bom morador do mau morador. Manda em todo mundo, e obedece quem tem juízo. Chegam a expulsar pessoas de favelas quando “muda o partido do dono”, o que já foi objeto de diversas reportagens. Há casos loucos em que se formam umas teocracias narcóticas malucas, e até religiões discriminam! Óbvio que nenhum morador pode ir às redes sociais ou à imprensa reclamar de como é tratado, dos estupros feitos pelos bandidos, do roubo de casas e objetos, da tortura e do “esculacho”. Bandido não tem Ouvidoria. Facção não responde ao Procon. Criminoso não tem departamento de atendimento ao cliente. Assassino não abre sindicância. Pelo contrário, retaliam, muitas vezes com a morte, e quando a pessoa dá sorte, é “só uma mutilação” ou uma “surra“. E, para piorar, infelizmente creio que a maior parte da mídia não daria a mesma importância, por duas razões, uma justa (é óbvio que o bandido é um desgraçado imoral, cujo comportamento não pode ser medido pela mesma regra que rege um oficial da lei) e uma injusta (jornalista parece gostar mais de bandido que da lei, normalmente – observa-se até por alguns comentários nonsense em defesa do Hamas, ultimamente vistos na imprensa).
Mal comparando, é situação
semelhante a que Israel sofre ao combater o Hamas; um exército de terroristas
que diz defender os palestinos, quando na verdade os usam como escudo. Não por
acaso, outro influenciador. René Silva, fez uma postagem polêmica
criticando quem foi a Copacabana protestar pelas vítimas israelenses e contra o
terror; para ele, quem protesta é seletivo, e não passariam de um bando de ‘arrombados‘.
O mesmo René também é mais que seletivo na hora de suas denúncias,
os policiais são sempre algozes e impediriam a paz nas favelas, mas nunca os
terroristas do tráfico. Os culpados pelos ataques de Israel não são os
terroristas do Hamas, e sim a vítima que foi agredida. Para esse pessoal, todo
mundo parece ser nazista, menos quem mata judeus.
Há nestes ativistas de favelas
uma espécie de Síndrome de Estocolmo, parece que vivem há tanto
tempo sequestrados pelo Poder Paralelo, que qualquer coisa que possa trazer a
mudança tão esperada por todos nós é atacada. Se policiais batem nas portas das
casas, é porque os traficantes não escolhem casas marcadas com “um
traficante mora aqui” para se esconderem. Não tem essa plaquinha ali. Eles
vão para a casa de moradores aleatórios, ameaçam, torturam psicologicamente ou
de fato, para que lhe deem guarida. Essa é a vida em favela, que o Poder
Público tem que trabalhar para mudar, antes de entrar com o resto que também é
sua função; ou um professor ou médico vai querer viver a mesma situação? Sem
assumir o poder naquela comunidade, como prestar todos os serviços públicos
necessários ali?
Boa parte da mídia carioca,
brasileira, mundial, infelizmente vive em um mundo de chantilly com algodão
doce. Os casos de traficantes recuperados são irrisórios, quando seguram um
fuzil, é para matar e destruir: eles tiram moradores de suas casas, incluindo
crianças, para atrapalhar as incursões da Polícia. Afinal, a bala perdida
parece que sempre vem da arma de um policial, nunca de um traficante. Bala de
traficante é inteligente, não atinge inocente? O curioso é que quando há
tiroteio entre gangues de vagabundos rivais, e gente morre no meio, a
indignação é pouca ou nenhuma.
Enquanto não defendermos os
nossos homens de azul, ou a Polícia Civil, ou Forças Armadas, que vontade e
empenho eles terão para combater o crime que tomou conta de tantas favelas,
tornando-os cidadelas sob o controle de criminosos? O pior é que se expandem,
hoje há diversas ruas, embaixo da favela, que passaram ao controle do tráfico:
veja-se o caso do Complexo de Israel; há ruas na região, coladas na venda
Brasil, que há poucos anos eram ruas normais, modestas. Agora, embora sejam no
asfalto, já estão sob o controle do tráfico e detrás de suas absurdas
barricadas. Esta é a realidade de localidades como Parada de Lucas, onde, por
exemplo, a rua Lyrio Maurício da Fonseca se tornou uma espécie de “expansão do
tráfico”, com suas barreiras. Há apenas 5 anos, era um lugar normal, parte da
cidade do Rio de Janeiro.
Entendo como funciona a cabeça
do morador de favela, morei na Praça Seca, hoje também cercada: o
medo toma conta de você, sem contar que naquela época era muito comum ter
crescido junto daquele criminoso e de sua família (agora parece que os bandidos
estão sendo importados de fora, são forasteiros que acabam sequer tendo aquele
“quase-afeto” pela comunidade que dominam). Mas quem nasceu no asfalto, não
pode se render a este pensamento fantasioso e que acabará por condenarmos a
sermos eternos reféns desses criminosos. Nós precisamos nos unir e não nos
deixar cair neste discurso fácil e burro: temos de lembrar que nesse momento do
Rio, precisamos ter solidariedade, mas não misericórdia de quem tortura e oprime
justamente as pessoas que mais precisam.
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário
do Rio, 20-10-2023
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