Aparecido Raimundo de Souza
De contrapeso, me deparo com portas
trancadas por muitas chaves de voltas em fechaduras obstruídas tentando girar
numa engrenagem emperrada por falta de uso constante. Um esvaziado de formas
múltiplas se agiganta da aurora até o luar e me esmaga os desejos e anseios
mais triviais. Bêbado, em face da ingerência de poções contaminadas, tropeço
trôpego, em taças de cristais falsificadas, pirateadas como meus sentimentos
mais indecifráveis. Sou vida combalida e sem cor. Um lábaro opaco, cercado por
todos os lados por uma enxurrada de agua estagnada e suja, oriunda de um antigo
rio entenebrecido virado lamaçal.
Barco sem bússola navego à
esmo. Perfuro encruzas bordejadas de ilhas sem lugar seguro onde aportar. Me
abalo por um mar bravio e imenso, de ondas enrugadas e revoltas se embrenhando
por báratros despenhadeiros. Vago, mesmo norte, sem norte ou sul, destituído de
um leste-oeste, igualmente ao insano de um vórtice tormentoso, ou seja,
transito num futuro incerto, estólido, sem destino determinado. Lâmpada sem luz
magnânima, percebo para onde quer que espie, o martírio que restou de tudo que
em mim de aproveitável havia.
Percebo, de contrapeso, a imensidão de um vácuo igualmente intransponível. Me quedo perdido, mais que devassado, desmantelado em meu próprio “eu.” Um ser esfacelado, acuado, metido da cabeça aos pés num abisso fundo de dimensões difíceis de serem medidas. Na verdade, me acho num buraco de solidão imensurável dentro de um recanto sem canto e obscurecido. Sem dúvida alguma, a minha alma (ou o que dela restou), se acha literalmente combalida. Penso, com os botões que ainda me restam, tudo em mim se prendeu em amarras e talingas difíceis de serem rompidas.
Em razão disto, sigo aos
trancos e barrancos, trombadas e solavancos, porradas e safanões, driblando (ou
melhor, pleiteando dias amenos para serem vividos ou vegetados, nem sei mais a
diferença. Tudo se faz (e se fez) em sobressaltos espalhafatosos. A frente, a
passos curtos, para completar o quadro, tolhendo meus atalhos e veredas, um
punhado de seres vis e desconexos. Alienígenas cativos, dependentes, de feições
maquiavélicas, bem ainda, de inclusos grotescos que se mostram distorcidos e
profanos, semelhados à abentesmas e estafermos saídos de um purgatório de
espectros insólitos e estultos sem as cores rutilantes da vida opulenta e
abundante.
Em paralelo, o ontem, o hoje e
o amanhã me passam a impressão de aberrações fossarias, absconsos que de alguma
forma, não encontraram a paz e a tranquilidade quando comungavam da realidade
terrena. Por conta destes contratempos bombásticos, percebo constantemente o
fim da vida (vida?!) em cada abertura dos meus esbugalhos à flor de uma febre
de mais de quarenta graus. Distingo para onde tento encontrar um ponto de
apoio, o envolvimento de uma guerra tresloucada, onde eu, um ponto ao acaso e
em meio a toda esta balburdia, ser o alvo principal e definitivo a ser
atingido.
Nada me socorre. Nada me
protege. Nada vem em meu amparo. Me certifico que tudo ao entorno de meu
frenesi neurastênico tem se transformado em nada mais, nada menos que restos de
uma alma perdida, vencida, esvaziada e sem forças. Aguardo, aos engasgos do
derrotismo, a qualquer momento o final trágico de toda esta degenerescência que
me assola. Será possível? Sinceramente falando, e sem mais nada a acrescentar,
sinto que me abraça em apertado amplexo, a negritude infame da destruição e do aniquilamento
total. Meu Deus, meu Pai, sem mais nada a acrescentar, cresce diante de minha
derrocada, a des... trui... destruí... cão... total. Da... min...
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, 20-10-2023
Recordações de um passado que não desgruda
Vidas líquidas
Bobices e bobagens
Uma pequena coceira na unha do pé crescida
E o amor se fez saboroso, como pizza de muçarela, com coca-cola
Silhueta disforme
Na saidinha do banco
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