sábado, 28 de outubro de 2023

[Versos de través] Retrato

A poesia de Cecília Meireles é intimista, autobiográfica e autorreflexiva, criando uma relação de proximidade com quem a lê.

Ela trabalha também a transitoriedade do tempo e reflexões acerca do sentido da vida.

Em Retrato encontramos um sujeito autocentrado, congelado no tempo e no espaço. É a partir da imagem que a reflexão é elaborada e são revelados sentimentos de melancolia, saudade e arrependimento.

Encontramos nos versos pares opositores: o passado e o presente, o sentimento de outrora e a sensação de desamparo atual, o aspecto que se tinha e o que se tem. A autora tenta entender ao longo da escrita como essas transformações se deram e como lidar com elas.

Eu não tinha este rosto de hoje, 
Assim calmo, assim triste, assim magro, 
Nem estes olhos tão vazios, 
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?


Cecília Meireles, 1939

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