Manuel Bandeira
Quem é que um dia não teve
vontade de mandar tudo para o espaço e fazer as malas rumo à Pasárgada? O poema
lançado em 1930 fala diretamente a cada um de nós que, um belo dia, diante de
um aperto, teve vontade de desistir e partir em direção à um lugar distante e
idealizado.
Mas afinal, você sabe onde
fica Pasárgada? A cidade não é inventada, ela de fato existiu e foi a capital
do Primeiro Império Persa. É pra lá que o sujeito poético pretende escapar
quando a realidade presente o sufoca.
O poema de Bandeira é marcado, portanto, por um desejo de escapismo, ansiando alcançar liberdade e descanso em um lugar onde tudo funciona em plena harmonia, pelo menos no campo da imaginação.
Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
No meio do caminho
Soneto da Fidelidade
O Apanhador de Desperdícios
O navio negreiro
Os sapos
E por vezes
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