sexta-feira, 15 de setembro de 2023

[Aparecido rasga o verbo] A tresloucada mania de estourar bolinhas

Aparecido Raimundo de Souza

POR QUAL MOTIVO
as pessoas têm o costume de estourar as bolinhas dos sacos conhecidos como plásticos bolhas que encontram pela frente? Notem que não são só os idosos que se ocupam em fazer uso de tal prática. Em dias atuais, a empreitada se tornou corriqueira. Virou febre. A coisa se propagou oriunda dos nossos avós. Passou, às carreiras, ao convívio dos nossos pais, depois aos nossos filhos e atingiu, em cheio, os adolescentes “mais sem noção de qualquer coisa considerada normal”. Em contrapartida, caiu como luva de pelica, ou como uma nuvem de presságios benignos que tivesse vindo de longe e sobrevoado por sobre as nossas cabeças, sem nenhum tipo de interferência.

Pois bem! Mesmo trilho, é comum, em dias de hoje, ver um velhinho andando pela rua ou sentado na praça, ou mesmo em casa, diante da televisão (que nem de longe lhe chama a atenção), estourando bolinhas, como também uma garotinha simpática entretida com o seu canal de desenhos preferidos tendo às mãos ocupadas em detonar, com esmero e até uma certa exaltação, uma centena de bolinhas de vento. A pergunta que não quer calar: que tara seria essa que faz as pessoas viajarem no desperdício do que restou da sopa, perdão, da maionese?

Que espécie de doideira branda e ao mesmo tempo avassaladora é a dita diversão que invade a cabeça das criaturas a ponto de fazê-las esquecer seus afazeres somente para se aterem ao pipocar do ar saído das suas entranhas e, de contrapeso, do barulho peculiar provocado quando se contraem e arrebentam? As respostas ouvidas numa enquete onde participaram mais de trezentas pessoas, se fizeram as mais variadas possíveis. Algumas sem nexo, porém, todas voltadas para um mesmo ponto de equilíbrio: a mente sã. Vejam as reações colhidas:
— Alivia a tensão;

Seguidas de:
— Relaxa os nervos;
— Qual o quê! Mexe com os músculos;
— Evita o LER;
— Deixa o cara doidão completamente em alfa;
— Faz esquecer um pouco, os problemas;
— Melhor que uma cerveja bem gelada;
— Mais barato que uma trepada.

Sem falar que criaturas afoitas, rasgaram o verbo:
— Mata a fome como se fosse uma boa marmita de feijão, arroz e carne assada;
— Equivale, grosso modo, um chute com o pé direito nas bolas do saco;
— Resgata as coisas boas da vida;
— A gente se desprende do corpo e voa alto.
Alguns chegaram ao cúmulo de levarem a obstinação para o lado médico. Talvez, em face de portentosa cissura, o doutor Drauzio Varella, em seu livro “A Teoria das Janelas Quebradas”, tenha concluído: “funciona como uma terapia ocupacional relaxante que atinge o seu ápice no exato instante em que o ato de apertar se funde com a fratura exposta das bolinhas detonadas como um todo.””

O “tac, tac” repetitivo e reiterado, quando provocado pelos dedos comprimindo o invólucro que as envolvem, desencadeia uma sensação suave de alivio imediato –, relata a escritora Dawn Huebner em seu livro “O que Fazer Quando Você Tem Muitas Manias: um guia para as Crianças superarem o Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC. ” e – conclui, com brilhantismo: “por conta, se converte num remédio prático e eficaz e, o mais importante, se transforma numa receita barata, sem carência, sem as loucuras dos enfrentamentos de filas quilométricas em postos de saúde, como, igualmente, sem necessitar de consultas à médicos especialistas. Resumindo, uma solução meio que mágica. Sintetizando, uma espécie de mandinga, entre aspas, ao alcance de todos.””

“Devemos esclarecer, em contrapartida –, argumenta Olavo de Carvalho em seu livro “O imbecil Coletivo” –, os barulhinhos provocados pelos espocares dos plásticos bolhas, libertam as tensões, acalmam os estresses, espantam os cansaços do dia a dia e fazem com que o organismo volte à sua postura normal. Vale, igualmente, para todos, sem contraindicações. Tornou-se uma espécie meio que irracional de turra ou birra, como a teimosia galopante pelos refrigerantes, aos copos de cerveja, aos cigarros, queimados entre os amigos, as peladas sem uma pelada desvestida nos finais de semana e até o futebol pela televisão””.

A cada dia aumenta consideravelmente o número de escolas espalhadas pelo país, não só da rede pública, como os estabelecimentos particulares (principalmente os colégios das classes altas), que passaram a adotar, em seus currículos, o hábito de “apertar bolinhas” como uma intermediação para “apaziguar os alunos mais inacessíveis e de difícil convivência com os demais colegas dentro e fora das salas de aulas”. Em viagens longas, é comum depararmos com pessoas estrondando bolinhas. E a teima empenhada não ficou só nas esferas menos favorecidas. Nos ônibus interestaduais, nos voos comerciais, criaturas de posses e também aquelas sem os confortos das riquezas, indivíduos entre uma bebida e outra, retiram de suas bagagens de mãos, ou dos fundilhos das calças, discretos saquinho com as preciosas bolinhas para serem enfuriadas, rebentadas, ou vias idênticas (como dizem os capixabas), “pocadas.”

Indo direto ao ponto, a teoria dos estouros das bolinhas, ou a liberação do ar aprisionado dentro dos plásticos bolhas, é de excelente alvitre que se deixe claro, vale a pena a todos que carregam essa interessante, engraçada e até divertida mania de sacrificarem tais bolinhas, lerem com bastante atenção e acuidade, o livro “Completamente idiota” do escritor alemão, Tommy Jaud. O autor, pasmem, caros amigos, deixou de ser um imbecil de carteirinha ao descobrir uma maneira simples, fácil e rápida de ganhar dinheiro escrevendo um livro de leitura acessível, onde todo aquele que se acha um idiota ou pretende ser futuramente, deve ter ao alcance da sua mesinha de cabeceira. No final das contas, para o cotidiano da vida, fica a lição de não ser (ou ser, em definitivo) considerado, pelos amigos e familiares, uma pessoa completamente idiota.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freiras, no Rio de Janeiro. 15-9-2023

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