Humberto Pinho da Silva
Conversando com professora do 1º Ciclo, esta
narrou-me curioso episódio, ocorrido na sala de aula:
Corriam os primórdios dos anos oitenta. Os símbolos nacionais haviam caído no esquecimento - bandeira e hino.
Fora educada em colégio que exaltava o amor à Pátria
e respeitava, diria melhor, venerava os símbolos que a representam e a
enaltecem.
Ardendo de amor patriótico, assentou levar para a
escola bandeirinha e letra do hino oficial da nação.
Após colocar a bandeira na secretária, começou a
ler-lhes trecho patriótico, acessível à idade dos ouvintes, para lhes avivar o
amor à Pátria.
Silêncio augusto. A acriançada entusiasmada,
arregalava os olhos de curiosidade. Ninguém bulia. Terminada a fascinante
leitura, a professora mostra a bandeira e pergunta-lhes:
- Quem conhece esta bandeirinha?
Menino expedito, de imediato ergue-se, estica o
braço, e de indicador apontado para o céu branco de estuque, responde com
sorrisinho maroto:
- É a bandeira da seleção!...
Não se enganara, mas desconhecia que era a bandeira do seu país!
O desconhecimento era devido à mass-media
ter evitado, durante anos, invocar símbolos e factos patrióticos que, na época,
eram, em geral, mal interpretados.
Havia, até, quem fosse de parecer, recontar a
nossa História. Julgava-se ser necessário expurgá-la, e ensiná-la de harmonia
com as ideologias em voga.
As atitudes dos homens do passado, modo de sentir
e agir, devem ser sempre enquadrados na época em que acorreram.
Meu pai, quando frequentava a escola, o ensino era
feito de palmatória. Chegava a casa com as mãos num cepo. Os familiares riam-se
e diziam: "Estuda que ninguém te bate!"
Trindade Coelho, na autobiografia, assevera que
lhe batiam nos nós dos dedos com régua-régua em esquina, e o pai concordava com
a barbaridade!...
No meu tempo do bê-á-bá, apesar de ser proibido,
ainda se ensinava a tabuada à palmatoada!
Num importante colégio, alunos que não soubessem a
gramática, na ponta da língua, ficavam de joelhos, sobre as carteiras... e
estávamos já nos anos cinquenta!
Eram os professores e os pais sádicos? De modo
nenhum. O castigo físico era considerado a melhor pedagogia.
É, portanto, absurdo criticar figuras que viveram
em séculos passados, pela forma como pensavam e agiam.
Os acontecimentos históricos devem ser analisados,
consoante a mentalidade corrente no tempo em que ocorreram, e não à luz dos
tempos atuais, se quisermos ser honestos, caso contrário será pura ignorância.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva,
outubro de 2023
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