terça-feira, 14 de novembro de 2023

[Livros & Leituras] Sete anos de penitência

Nicole Gérard, Livraria Civilização Editora, Porto, dezembro de 1973, 484 páginas.


Uma mulher, levada ao limite, pega seu rifle. Ela entra no carro, vai até o restaurante onde janta a pessoa que a abandonou e quer afastá-la do filho. Calmamente, ela se ajusta e mata esse homem – seu marido. Então, ela espera pela polícia.

Condenada a dez anos de prisão, Nicole Gérard foi libertada em 1970, depois de ter cumprido “sete anos de penitência”. Quando ela estava na prisão prometeu escrever seu livro. Aqui está ele.

Não é a história de um “caso do dia”. A sua autora tem outras coisas para contar, coisas, aliás, que importam a todos nós.

Nicole Gérard viveu lado a lado com todos os aspectos deste mundo impiedoso e quase desconhecido da detenção feminina.

Encarcerada inicialmente por três anos e meio em La Roquette, ela viu desfilar aí a súcia muitas vezes pitoresca das sovaqueiras, das carteiristas, das meretrizes e das “tecedeiras de anjos”.

Ela viveu o clima turbulento e sórdido do centro de prisão preventiva, testemunhou as ligações homossexuais que ali proliferaram, e também conheceu algumas dessas grandes criminosas que, após o seu julgamento, reencontraria na austera e sinistra casa de Rennes, a única central reservada às mulheres.

Este mundo é pintado por Nicole com uma lucidez extrema, mas também com uma profunda emoção, nascida da ânsia de compreender e do sentimento de solidariedade que a une, doravante, a todas as detidas. Porque castigar é uma coisa, humilhar e envilecer é outra.

O sistema prisional – neste caso, o francês – continua ainda hoje a se reger por regulamentos obsoletos, entregue a um pessoal carcerário, na maioria sádico, e a uma administração que só pensa em afirmar a sua força.

E assim, com frequência, a prisão devolve o preso à sociedade sem lhe ter dado qualquer meio de se reintegrar, algumas vezes até depois de o ter tornado completamente inadaptável.

É essa desumanidade e esse absurdo que Nicole Gérard denuncia.

Este livro, sensível, generoso, apaixonado, é o testemunho de uma mulher que nunca parou, nem por um momento, de lutar para preservar a sua dignidade.

Le cas de Nicole Gérard, meurtrière de son troisième mari n'a rien de pathologique, estime l'expert psychiatre  

Le procès de Nicole Gérard, meurtrière de son mari le radiologue Guy Gérard, qui s'est ouvert lundi devant la cour d'assises de la Seine, ne dissimule, quant aux faits, aucune énigme. L'accusée a reconnu qu'elle avait prémédité son crime, commis le 26 juin 1963 dans un restaurant de la rue de la Huchette, à l'heure du déjeuner, au moyen d'un fusil de chasse chargé de chevrotines. Devant les jurés, elle n'a pas un seul instant tenté, au cours de la première audience, d'atténuer la rigueur de sa détermination.Elle a tué, et, si elle accepte les conséquences de son acte, elle entend que son procès soit aussi celui de sa victime, son orgueil la conduisant à tenter de reprendre l'avantage moral que la mort a conféré à un homme dont il est malaisé, il est vrai, de rendre la mémoire sympathique.

Par MAURICE DENUZIÈRELe Monde, Publié le 9 mars 1966 à 00h00

(…)  

Um livro impressionante! Recomendo, com certeza! ⭐⭐⭐⭐⭐

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