quinta-feira, 23 de novembro de 2023

[Daqui e Dali] Ainda Eça...

Humberto Pinho da Silva

A transladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional fez correr muita tinta, que envolveu descendentes do romancista, respeitáveis intelectuais e políticos.

O caso chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que acabou de dar razão a Afonso Reis Cabral, trineto de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queirós.

Mesmo contra a vontade de alguns descendentes, que tudo fizeram para o impedir – houve até quem duvidasse que o antepassado gostasse de estar em companhia desses ilustres cidadãos... – e da boa gente de Baião, habituada à "presença" do escritor, no Cemitério de Stª. Cruz do Douro, o tribunal sentenciou a favor da Fundação Eça de Queirós.

O maior estilista da língua portuguesa deixou, portanto, de ser "pertença" exclusiva da família e dos baionenses, para ser de todos os portugueses.

Homenagem justíssima, já que seus contemporâneos não souberam ou não quiseram prestar-lhe, após o falecimento, as honras de que era merecedor.

Como não se pode, talvez nem se queira, levar Camilo para o Panteão Nacional, parece-me de inteira justiça erguer, como se fez com Aristides de Sousa Mendes, no Panteão, cenotáfio de homenagem a Camilo Castelo Branco. Era gesto de louvar e prova que o romancista não está esquecido.

Durante as cerimónias fúnebres de Camilo, Guerra Junqueiro sugeriu que devia ser sepultado nos Jerónimos e fosse decretado luto nacional.

E no Parlamento, Alberto Pimentel, propôs que ficasse registado em ata "Um voto de profundo sentimento pela morte do iminente escritor, Visconde de Correia Botelho, Camilo Castelo Branco, glória da literatura nacional".

Infelizmente essas vozes amigas foram em vão. Camilo "O Primeiro Romancista da Península", como se dizia, ou "O Príncipe dos Escritores", como afirmou Reis Santos na oração fúnebre, permanece quase esquecido,no jazigo de amigo, no Cemitério da Lapa, no Porto.

A concluir, julgo oportuno levar ao conhecimento dos leitores, o parecer do conceituado filólogo, fundador da "Sociedade da Língua Portuguesa", Vasco Botelho de Amaral, no " Glossário Critico", sobre Camilo:

(...) A linguagem de Camilo é riquíssima de valores expressivos (...) Em todas as páginas revela o Mestre, o diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares e investigando nos clássicos documentos ignorados, mas inestimáveis riquezas idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade da linguagem de Camilo".

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, novembro de 2023

Anteriores: 
A verdadeira Educação 
Ainda há médicos-sacerdotes? 
Como interpretar factos históricos 
Eça está na berra 
Onde se fala de pasteleiros em apuros e dança das placas 
A timidez de um grande maestro 
Como se é avaliado 
Deixem Eça em paz

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-