Aparecido Raimundo de Souza
Na outra, pelos avermelhados e esquisitos, davam a ideia da figura do ET
de Varginha, depois de ter sido estuprado por um tarado com cara de Mister Bean
numa das poltronas do Theatro Capitólio, na Avenida Presidente Antônio Carlos.
Um olho certamente humano. O outro, ou seja, o de baixo, sobressaia saliente,
esbugalhado, como o do presideuodente Mula ao acordar em plena noite, com
insônia, roendo as unhas e peidando estabanadamente, pensando em como colocar a
Dilma Rouboussett de volta na planilha de pagamento para continuar mamando nas
tetas da nação com o sabor suado do nosso mirrado dinheirinho. As mãos da criatura não fugiam à regra: uma
saia de um braço de camisa de seda, destas peças que os homens ricos e abastados
de bolso ostentam. Dava a estampagem de
que se alinhava a uma pata de rinoceronte bêbado e em situação de “guerre
lasse.”
Neste braço igualmente se destacavam um elegante relógio que marcava a hora oficial de Brasília e uma corrente de ouro puro, maciço, e, num dos dedos, um anel cravejado de brilhantes ganhos do país vizinho de um tal de Micocagás Caiduro. Na outra, coberta por um tecido de algodão barato, dedos sujos se somavam aos seus desconfortos com unhas grandes e malcuidadas. Seu quadro desolador trazia à lembrança a figura daquele sem teto que fora espancado até a morte nas cercanias da Praça da Sé, por uma pequena multidão, porque o infeliz roubara um pastel numa lanchonete das redondezas para matar a fome. Seu porte esguio, fazia dele o sujeito mais sensual do pedaço, mas o outro “perinde ac cadáver,” causava arrepios só de olhar. A barriga fugia um pouco à regra. Lindamente protuberante. Tipo a do Jô Soares, quando ainda vivo e mantinha em seu corpanzil uma pança de fazer inveja ao Oliver Hardy.
Colados a ela, sobressaiam dois umbigos distintos. Um, de cavalo, o outro
de camaleão. Para quem ainda não teve a oportunidade de ver a depressão cutânea
localizada no centro do abdome de um cavalo ou de um camaleão, obviamente se
assustaria, não pela cicatriz do corte do cordão maternal em si, porém, pelo
fato de dar de cara com uns trocinhos tão estranhos quanto esquisitos.
Detalhes, por sinal (embora pequenos e insignificantes) que certamente levariam
os menos desavisados a pensarem com mais seriedade na mãe do cavalo e,
consequentemente, no pai biológico do camaleão. Metade do órgão genital – caia
flácido como o de um cidadão que acabara de tirar uma gozada às avessas. A
outra se destacava enrolada como uma cobra enorme adormecida em torno de uma
das pernas, como um objeto mal-acabado e mal resolvido. Não se fazia muito
acentuado, contudo, visto de repente, grosso modo, literalmente, marcava.
Quando a criatura abria a boca, realçavam, de um lado, caninos de
elefante, do outro, dentes perfeitos, brancos e alvos, como nuvens ralas em céu
de brigadeiro. O sorriso se fundia encantador, envolvente e cálido. O outro
troçava, matava a pau e entristecia.
Apesar deste quadro lúgubre, desta desordem na sua formação estrutural,
no endurecimento do seu coração, e mais devastador,” de nunca ter conhecido o “faire la vie,” este
desprezível caco humano jamais refreou seus sonhos imorredouros, ou adiou as
aspirações que almejava desde que saíra da barriga da mãe. Uma delas, ser
cantor profissional. Adorava Roberto Carlos e a sua inesquecível “Se me olvido
outra vez.” Ele se achava, na verdade, o
maior, o tal, o poderoso, o intocável, o Super-homem na pele do Homem Aranha.
Lutador inveterado e incansável, se reverenciava para os que o conheciam
pessoalmente, como um ser completamente feliz e animal... perdão, normal. Quando alguém da banda oposta o contrariava,
saia dando canetadas e urrava feito um Chaves tinhoso fugido de algum hospício
de periferia: eu sou normal... eu sou normaaaaaaaaaaaalllllllllll...
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas,
no Rio de Janeiro, 24-11-2023
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