quinta-feira, 9 de novembro de 2023

[Daqui e Dali] Compensa poupar?

Humberto Pinho da Silva

No século passado chegou-me às mãos pequeno jornal local, que incluía curiosa crônica de alguém, cujo nome se varreu completamente.

Contava o articulista, que havia na Beira, dois irmãos, que cansados de labutar a terra com enxada, charrua e ancinho, assentaram abalar até à Capital.

Instalados em Lisboa, buscaram emprego. O mais velho alcançou num armazém; o outro dedicou-se à construção civil, e fazia biscates nas horas livres.

Enquanto o mais velho trabalhava sem cessar, para pagar a renda do modesto apartamento, o irmão, resolveu erguer barraco clandestino, na periferia. Receoso que a renda subisse, resolveu adquirir casa, pedindo dinheiro ao banco.

Lentamente surgiram novas despesas: além do empréstimo, apareceram seguros, IMI, condomínio, obra no prédio, e consertos urgentes no apartamento.

Preocupado, sempre que podia, fazia horas extraordinárias, e poupava o máximo no vestuário, alimentação e até, nos dias de folga e férias, permanecia em casa, para economizar.

Por sua vez, o irmão, liberto de aluguer e encargos, comprou carro, almoçava em restaurantes caros, e todos os anos ia de férias para o Algarve. Como era pobre, recebia ainda vários auxílios

Certa ocasião, o camartelo arrasou o barraquito, para se urbanizar o terreno.

Gritou, protestou, declarando que ia morar na rua com os filhos... condoídos deram-lhe casa ampla, e de renda simbólica.

O irmão, enredado em despesas, trabalhava desesperadamente, e pouco auxílios obtinha, por ser proprietário.

Perguntava o articulista: Vale a pena poupar, economizar, para ter a sua rica casinha?

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, outubro de 2023

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