Helena Garrido
Recomendou Maquiavel ao
Princípe que fizesse o mal todo de uma vez e o bem aos poucos. Diz o povo que
de tanto ameaçar com o lobo quando ele chegou à aldeia ninguém acreditou. Uma e
outra lição têm de inspirar quem lidera para que se evite mesmo o lobo. Em
Portugal, como na Europa. O que se está a pedir aos povos do sul da Europa pode
ser o impossível que nos conduzirá à catástrofe. O que se está a pedir pode ser
simplesmente o fim da Europa.À hora a que se estão a escrever estas palavras
vivia-se em Madrid um ambiente de alta tensão entre a polícia e os
manifestantes. Mais uma manifestação? Talvez. Espanha não é a Grécia e muito
menos Portugal. Esse aviso foi já feito em Bruxelas aos primeiros dias do apoio
financeiro à banca espanhola. A tecnocracia europeia deveria ter um cuidado
extremo nas declarações sobre Espanha, assim foi feito o alerta. Não fossem
eles cometer os erros que têm cometido com Portugal, falando de mais para quem
não é nem legitimado pelo voto nem pelo dinheiro que emprestam a Portugal.
A Europa da União pode não
partir por causa da Grécia. Mas pode perfeitamente partir-se por causa da
Espanha e, com ela, da Itália. A própria Espanha vê a sua unidade como Estado
ameaçada. A Catalunha parte para eleições a meio do mandato e o tema mais
quente da campanha será o direito à autodeterminação.
O que está a Europa a fazer
aos seus é incompreensível, mesmo à luz dos mais sofisticados e ortodoxos
ensinamentos de economia.
Simplificando e exagerando, o
que se está a pedir aos países é que em três anos e em recessão reduzam um
endividamento acumulado durante pelo menos duas décadas. Para quê? E porquê?
As teorias da conspiração são
regra geral o último reduto, aquele que usamos quando nos vão faltando outros
argumentos. Mas vale a pena não esquecer que, por vezes, têm grande aderência à
realidade. Ou teremos de encontrar outras explicações, como o desconhecimento.
É a essa luz que se pode interpretar, por exemplo, aquilo que escreveu o "Financial Times". Desde quando é que
Portugal combina crescentemente o pior da Grécia – tendência para falhar as
metas – e o pior da Irlanda – um sector bancário bombardeado? A única meta que
Portugal falhou foi a do défice público, uma entre dezenas que estão fixadas no
Memorando de Entendimento. E, apesar de ter falhado, não pediu mais dinheiro
nem ao FMI nem aos países da Zona Euro. E acaba por ser uma contradição nos
termos dizer que Portugal falha metas e, ao mesmo tempo, pedir mais FMI e menos
Europa no programa de ajustamento português.
Todos nós desejaríamos que houvesse mais FMI e menos Europa. Porque todos nós sabemos que o Fundo aprendeu, na sua longa experiência, a respeitar as democracias pelo seu valor mas também porque sabe como o sucesso de um ajustamento depende do apoio das populações às medidas de austeridade.
Todos nós desejaríamos que houvesse mais FMI e menos Europa. Porque todos nós sabemos que o Fundo aprendeu, na sua longa experiência, a respeitar as democracias pelo seu valor mas também porque sabe como o sucesso de um ajustamento depende do apoio das populações às medidas de austeridade.
Os portugueses, a maioria,
apoiaram como poucos outros países intervencionado a chegada da troika.
Receberam as equipas do FMI, do BCE e da Comissão Europeia de braços abertos na
esperança de se conseguir, finalmente, adoptar as medidas que vários governos
iam anunciado para o país desde o início do século XXI. E receberam ainda a
troika, porque acreditaram que a alternativa era bem pior.
O que fez a troika nesta
quinta avaliação? Escondeu-se. Desresponsabilizou-se. Manteve apenas a ameaça
do lobo mau. E colocou Portugal e os portugueses em risco de serem de facto
comidos pelo lobo mau. Podemos já não ir a tempo mas pelo menos que se tente
fazer o mal todo de uma vez enquanto se começa já a dar algumas, pequenas que
sejam, boas notícias.
Título e Texto: Helena Garrido, Jornal de Negócios, 26-9-2012
Repugnante ter assistido à unanimidade submissa ao que escreveu o FT, nenhuma voz se levantou! A não ser esta aqui, a de Helena Garrido!
ResponderExcluirO esquerdismo está tão arraigado que aplaudem qualquer estrangeiro que diga ou escreva qualquer bobagem desabonadora em relação à atualidade portuguesa. São uns patetas!