Helena Garrido
Sim, foi inacreditável, a
forma como se apresentou as alterações à TSU. Mas pior ainda, mais grave e até
triste, é assistir à desresponsabilização e irresponsabilidade do PP e do PS.
Para eles, para Paulo Portas e António José Seguro, é mais importante garantir
votos de curto prazo do que defender o interesse de Portugal e respeitar os
sacrifícios que os portugueses já fizeram.
Sim, foi inacreditável, a
forma como se apresentou as alterações à TSU. Mas pior ainda, mais grave e até
triste, é assistir à desresponsabilização e irresponsabilidade do PP e do PS.
Para eles, para Paulo Portas e António José Seguro, é mais importante garantir
votos de curto prazo do que defender o interesse de Portugal e respeitar os
sacrifícios que os portugueses já fizeram.
É muito inspirador o discurso
de Paulo Mota Pinto no primeiro dia do ano parlamentar, a 19 de Setembro.
"A História não perdoará a quem abandonar o barco". E, para quem se
esqueceu, lembra que um "homem de Estado não é quem persiste em dizer
‘não’ aos consensos que o país precisa" nem "quem quer dizer sim e
não ao mesmo tempo". Duas descrições que ajustam que nem uma luva a
António José Seguro e Paulo Portas. Um e outro precipitaram-se no calor da
irritação, justificada, que gerou a forma como o primeiro-ministro nos disse
que para o ano íamos ter menos 7% todos os meses nos nossos bolsos.
Mas este caso da TSU não pode
servir de pretexto para se destruir tudo aquilo que já se construiu com
sacrifícios. Durante o último ano, os portugueses pouparam mais, trabalharam
mais, apoiaram quem na sua família ou ao seu lado estava no desemprego ou em
dificuldades, procuraram emprego no estrangeiro, exportaram mais, cortaram
custos nas suas empresas, aceitaram cortes salariais... Ajustaram-se, como
dizem os economistas na sua fria linguagem. Cada "ajustamento" é uma
história de sacrifício, de busca dolorosa de soluções para problemas
financeiros concretos, na expectativa de ver o país regressar à prosperidade.
Levará um ano, dois, três anos? Tudo bem. Mas façamos o que é preciso fazer, em
conjunto.
As lideranças políticas têm a
obrigação de respeitar quem perdeu o emprego e quem vive na angústia de ver a
vida a andar para trás. E cada uma das histórias de sacrifício tem de estar na
consciência antes de cada decisão tomada pela classe política, no governo como
na oposição. Assim como é preciso que todos retirem as devidas consequências da
responsabilidade que têm pelo estado em que está o país. PS, PSD e PP, os
partidos do arco da governação, estiveram durante anos a atirar o país para o
buraco em que está ou porque fugiram ou porque foram adiando decisões difíceis
para ganharem eleições.
Pedro Passos Coelho tem uma
oportunidade única para revelar que é um homem de Estado, resistindo à tentação
de bater com a porta em resposta à traição de uns e à irresponsabilidade de
outros. Claro que não seria o primeiro a sair por incapacidade de enfrentar os
poderes e interesses instalados, que vão dos grupos económicos aos partidos
políticos. Mas exactamente porque outros já desistiram, precisamos de quem não
desista.
Precisamos ainda que o
Presidente da República não caia na tentação de entregar o poder a um
independente. Os partidos criam os problemas, os partidos têm de os resolver.
Contribuir para uma democracia saudável e mais madura é entregar aos partidos a
tarefa de resolver problemas que significam sacrifícios para o seu eleitorado.
Não é sofisticado, não é
ciência nem filosofia política, mas o que de facto se quer de quem pode
governar em tempos difíceis é que tenha coragem, seja responsável e não caia na
tentação da traição para se safar. Portugal passou com elogios das instituições
internacionais e de líderes europeus na quinta avaliação da troika. Não vamos
perder o pouco, muito pouco, que já conseguimos na resolução desta crise.
Título e Texto: Helena
Garrido, Jornal de Negócios, 20-9-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-