André Ventura
Vivemos num país curioso: quando se levantam suspeitas sobre o comportamento de um político de direita, uma grande parte do país acredita, os media começam imediatamente a investigar e as suspeitas são assumidas como verdade inatacável, que só os capitalistas, os fascistas ou os membros da extrema-direita atacarão. É curioso, mas está muito próximo da verdade! Quando uma jornalista espanhola levanta dúvidas graves sobre uma dirigente política nacional do Bloco de Esquerda, incluindo nessas denúncias números de contas bancárias e contextos em que alegadamente teria sido recebido dinheiro de forma ilícita, o país político e mediático reage maioritariamente com silêncio e indiferença. Se fosse um político do CHEGA ou de direita, o que não iria já para aí...
A sobranceria e a altivez da
esquerda e de alguns dos seus protagonistas é tal que, quando algum adversário
pede explicações sobre as denúncias, se reage com processos judiciais. É assim
a extrema-esquerda: arrogante e pouco habituada ao escrutínio da imprensa e das
instituições da sociedade civil.
Por outras palavras, a direita
é para investigar e escrutinar ao limite, a extrema-esquerda é para poupar e,
nalguns casos, levar ao colo!
Por exemplo, teve de ser o
CHEGA, no Parlamento, a gritaria que o Bloco e o PCP estavam a integrar nas
listas de candidatos a cargos políticos, terroristas e criminosos membros das
FP25. Mas o CHEGA foi desde sempre investigado pela presença de eventuais
neonazis e membros de grupos de extrema-direita nas fileiras do partido.
Duplicidade de critérios ou domínio cultural e presencial da extrema-esquerda
nalgumas redações? Talvez um pouco de tudo! Mas temos de pôr a mão na consciência!
Quando o país inteiro ficou a saber das incoerências da líder do PAN quanto a
estufas, uso do plástico e deveres de transparência dos deputados, fê-lo porque
chegaram denúncias anónimas ao Nascer do Sol e não porque tal foi
investigado por alguma equipa jornalística ou judicial.
Em Portugal passámos uma espécie de cheque em branco à extrema-esquerda, sobretudo ao Bloco de Esquerda e ao PCP. Se vêm terroristas das FARC à Festa do Avante, quem quer saber?
Se o Bloco tem ligações ao
Podemos, em Espanha, e este partido está a ser investigado por financiamento ilegal,
quem se interessa? Se há criminosos nas listas a deputados ou a autarcas, que
interesse tem?
A esquerda e a extrema-esquerda
ganharam uma espécie de passadeira de impunidade em Portugal: são levados ao
colo, todos têm benefício da dúvida e a culpa só é aferida em último caso. Já
na direita, claro, a presunção é de criminosos e bandidos, mesmo sem factos que
apontem para tal. Portugal tornou-se no paraíso da esquerdalha, por muito que
isso custe a ouvir a muita gente!
É este bloqueio cultural que
temos de ultrapassar, sob pena de ser criado um fosso cada vez maior entre as
instituições, a imprensa tradicional e os cidadãos comuns, que se expressam
sobretudo nas redes sociais. E, claro, em nome da verdadeira democracia. A
extrema-esquerda também tem de se habituar ao escrutínio, goste ou não!
André Ventura
Deputado à Assembleia da República
Líder do CHEGA
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